Paraíso Sombrio

Capítulo VII || Hapiness is a butterfly

Levo um susto com a entrada repentina e observo que a sineta da porta não tocou ou se tocou eu estava distraída demais para perceber. Não faz diferença, já que Dmitry parece ter facilidade para entrar nos lugares sem ser notado.

— Você disse que nos daria privacidade. — Martin olha de forma sugestiva para o amigo.

— E eu pensei que vocês tivessem acabado.

— Agora acabamos. Por hoje, pelo menos.

— Você não respondeu, Vivian. O que disse é verdade? Prometeu ao seu marido que caso o perdesse, ficaria sozinha para sempre? — Dmitry questiona, virando para mim.

— Nós dois prometemos. — Respondo na defensiva. Esse não era um assunto para os ouvidos de Dmitry.

Alguma coisa desponta no fundo da minha mente com um sorriso como o do gato Cheshire, de Alice no País das Maravilhas. Você sabe bem porque queria esconder essa informação de Dmitry — o pensamento me faz ficar vermelha imediatamente.

— Bem, então é bom que o encontre o quanto antes. Seria uma pena alguém como você passar a vida sozinha. Não concorda, Martin?

Alguém como eu. O que ele quis dizer com isso? Será que me acha atraente ou está ironizando a fala do amigo quando disse que sou "uma boneca"? Independentemente dos motivos, isso me leva a corar ainda mais.

Martin balança a cabeça em afirmação, com a expressão grave.

— Seria uma pena se qualquer mal lhe acontecesse. Pelo pouco que conheci de você, Vivian, sei que merece apenas o lado luminoso da vida. — Ele sorri tristemente para mim.

Me sinto estranha. Gostei de conhecer Martin, ele parece ter um bom coração e sei que gostaria de passar mais tempo em sua companhia. Ao mesmo tempo, as coisas que ele me disse foram um tanto perturbadoras e não me deixaram mais perto de saber se vou reencontrar Eric.

— Agora precisamos ir. — Dmitry diz.

— Tão cedo... Eu iria oferecer um chá para Vivian e para você também, se quisesse. Gosta de chá de lavanda? — Martin pergunta para mim.

Antes que responda que sim, Dmitry me corta:

— A bebida terá que ficar para outro dia. É a primeira vez de Vivian em Nícta e não quero forçá-la além do limite.

— É claro. Mas quero que você volte, Vivian. Quero poder conversar sobre temas mais felizes numa próxima vez. — Martin afirma, resignado.

— Voltarei com prazer. Foi muito bom te conhecer, Martin. Respondo, estendendo a mão para um cumprimento. Olho para ele, e seus olhos cor de avelã parecem querer me dizer mais do que as palavras.

Ele pega a minha mão e me puxa para um abraço apertado. Sinto um cheiro reconfortante de pêra e roupa limpa.

— Tome cuidado com ele. — Martin sussurra ao meu ouvido, me fazendo gelar da cabeça aos pés.

— Vamos! — A voz de Dmitry está autoritária e irritada às minhas costas. Todo o bom humor de antes se esvaiu. Tenho medo dele assim.

***

Partimos num passo apressado de volta à casa. Não conversamos. Estou desconfiada de que ele tenha ouvido o aviso de Martin e por isso a mudança de postura. Me recuso a atribuir seu comportamento à minha fala sobre a promessa que fiz a Eric. Por que ele se incomodaria? Ainda assim estou tensa. Ao contrário de Dmitry, seu amigo parece confiável e está genuinamente preocupado comigo. Estou mentalmente exausta de tentar entender o homem que caminha à minha frente. Ele deixou claro que não tem interesse em me matar, mas Martin pareceu aflito, como se ele fosse capaz de algo pior. O que haveria de pior para alguém como eu, que já perdeu tudo?