Capítulo II || Peppers

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A bruxa se prepara para o ritual de forma mística, entoando cânticos estranhos e sussurrando palavras ao ouvido de Vivian, ainda adormecida

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A bruxa se prepara para o ritual de forma mística, entoando cânticos estranhos e sussurrando palavras ao ouvido de Vivian, ainda adormecida.

Queria que existisse alguma alternativa diferente; mal consigo imaginar como suportar outra pessoa tocando o que é meu. Não me importo que seja uma mulher. Vivian me pertence. Ninguém além de mim deveria ter o direito de possuí-la.

Enquanto termina o que está fazendo, chego à conclusão de que ela deve estar usando tudo isso como algum tipo de vingança. Rowena está muito solícita, muito mais que o normal e o motivo só pode ser um: ela encontrou uma forma de me punir por meu afastamento, pelo esfriamento da nossa "relação". Nada melhor para esse objetivo, do que ela fazer o que não posso - transar com a minha mulher.

É óbvio que eu vou ficar e assistir. Pensei rapidamente sobre isso. Não tenho como confiar Vivian a Rowena. Ela não sabe que estou ciente de sua tentativa de matá-la afogada na casa da amiga ou atropelada num cruzamento. Se ela esperava que meu estômago seria fraco demais para suportar vê-las juntas e poderia aproveitar a oportunidade para lhe fazer mal, estava muito enganada. Não será fácil, mas minha vida nunca foi fácil. Mantenho em mente que a sobrevivência da minha pequena é mais importante que o sentimento de posse e o sofrimento decorrente disso.

Mais difícil, no entanto, é me livrar do remorso. Se estamos nessa situação, a culpa é totalmente minha. Vivian tentou se matar. O que ela não teve coragem de fazer após a morte do marido, fez após a minha revelação patética de tudo o que fiz e sou e da minha atitude depois disso. Esse conhecimento me atormenta.

Fico imaginando ela desnorteada, com o olhar perdido, de camisola, descendo com sua pequena mala e fazendo o checkout. É certo que aquela roupa poderia passar por um vestido mais informal. Enfim, recepcionistas de hotéis não costumam se impressionar com muita coisa e sua vestimenta não chamou qualquer atenção. É possível que ela tenha andado por horas, madrugada à dentro, e ao chegar àquela parte decadente da cidade, deve ter se sentado em algum banco ou calçada ponderando o que fazer. Pelo conteúdo ausente de seu estômago, nem sequer se lembrou de comer. É um milagre que não tenha sido assaltada ou estuprada naquele lugar, mas sei que essas coisas não aconteceram porque nosso laço teria sido acionado muito antes, nesse caso. Em algum momento, deve ter tomado a decisão. Concluído que não valia a pena viver. Começou então, aos poucos, pegando em sua valise todos os remédios que recebeu em sua alta da clínica e foi tomando, um por um. Quando finalmente os medicamentos começaram a fazer efeito, provavelmente deixou a bolsa com seus pertences em qualquer lugar e saiu vagando, sem rumo, por aquelas ruas num tipo de surto. Por fim, desmaiou no beco onde a achei. Não devia fazer muito tempo que estava lá. Tenho consciência de que se me demorasse mais um pouco, provavelmente não a encontraria com vida.

A questão é que se ela chegou ao ponto em que está, precisando do sexo com Rowena para se livrar da morte, a responsabilidade é minha. Portanto, o mínimo que posso fazer, é aguentar as consequências de meus atos e torcer para ser forte o suficiente para ficar até que tudo acabe e garantir a segurança dela.

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