Capítulo IV || hope is a dangerous thing to a woman like me to have

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— É interessante observar como alguns artistas são tão sensíveis a ponto de captar através de suas obras, certas realidades que estão completamente ocultas para o restante da humanidade. Você não concorda, Vivian?

A voz de homem que ouço parece vir do meu quarto, mas isso não seria possível, seria? A confusão aumenta, minha cabeça roda e sinto como se meus membros fossem de gelatina. Talvez isso seja um sonho dentro de um sonho. Como faço para acordar?

Estou muda, tentando raciocinar, mas meus esforços se tornam inúteis quando o dono da voz dá alguns passos para frente, saindo das sombras, e fica ao alcance da tênue luz do abajur. É um homem muito alto e forte, de ombros largos e está vestido todo de preto.

Minha primeira reação ante ao choque é gritar, mas assim que abro a boca, ele está com um joelho no chão junto a mim, com uma mão firme sobre meus lábios e a outra apertando, com certa força, o meu pescoço.

Nesse momento, com os olhos arregalados, coração esmurrando o peito, olho no fundo dos olhos dele e o que vejo me deixa apavorada: nada além de morte e vazio. Essa é a face de um ceifador? — Me pergunto em pensamento. Ele veio para me buscar? Tento relaxar sob sua pressão em minha carne. Era isso o que eu queria, afinal, faço um esforço para me lembrar. A morte vai me levar a quem eu amo. O esforço é em vão, no entanto. Quando o aperto em meu pescoço se intensifica, entro em modo de luta ou fuga e não importa o que minha mente perturbada pense, meu corpo quer viver.

— Nós não queremos chamar a atenção dos vizinhos. Até porque, a proposta que eu tenho é apenas do seu interesse e de ninguém mais. — Estamos tão perto que o hálito quente do desconhecido atinge meu rosto quando ele pronuncia essas palavras. Não é desagradável, mas noto que estou tremendo.

Sua voz é grave e, apesar do estranho falar minha língua, tem um sotaque quase imperceptível que não consigo identificar. Apenas faz com que as palavras pareçam ter arestas vivas que machucam e as fazem sair com menos liberdade que para todas as outras pessoas.

Não tenho coragem de olhar novamente para aqueles olhos negros e assustadores, então me foco em tudo ao redor. Seus traços fortes, angulosos e bonitos, a barba por fazer, a pele cor de mel levemente vincada pelos anos, o cabelo liso, escuro, curto e volumoso, as veias saltando dos antebraços musculosos através da manga dobrada de sua camisa. O homem exala um cheiro obscuro e envolvente de cedro e cashmere, e suas mãos grandes possuem calos que arranham levemente meus lábios e pescoço. Apesar do medo, admito que é um conjunto impressionante. Fico assustada ao ouvir sua voz soar novamente:

— Vou combinar uma coisa. Eu tiro a mão de sua boca para que possamos conversar quando ouvir minha proposta. A outra mão continuará em sua garganta para garantir que você fique exatamente onde eu quero que fique. Se concorda, balance a cabeça.

Ao dizer essas palavras, seus dedos em volta do meu pescoço se fecham ainda mais e, com dificuldade, engulo em seco. Aflita, balanço levemente a cabeça em resposta. Assentindo, ele finalmente tira sua mão. Sinto que meus lábios estão formigando e, de repente, o aperto em minha garganta se torna estranhamente reconfortante. Ao invés de tirar minha vida, é como se sua mão me segurasse nela, me lembrando de que se a morte vier, será nos seus termos e não nos meus, e que, surpreendentemente, não estou preparada para isso. Assim, digo a mim mesma que vou fazer o que ele quiser para garantir mais um dia na existência.

Fico autoconsciente de repente e percebo que estou sentada à beira da cama, usando uma camisola branca curta e semi transparente manchada de vinho e que um homem, apesar dos pesares, muito atraente, está agachado em minha frente como se estivesse prestes a me pedir em casamento. O pensamento é absurdo e tenho vontade de rir, porque ele está me enforcando, quase me matando sufocada. Posso estar acordada ou não, mas com certeza, não estou sóbria.

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