PARTE 1 || Capítulo I || Video Games

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Você prefere menino ou menina? — Pergunta Laura pegando no colo seu bebê bochechudo, enquanto jogo no lixo a fralda que acabei de trocar. Aproveito qualquer oportunidade para praticar, afinal, a próxima a estar com um filho nos braços serei eu.

— Não tenho nenhuma predileção, mas o Eric está torcendo para ser menino. Ele quer alguém para acompanhá-lo no futebol dos fins de semana. — Digo do banheiro enquanto seco minhas mãos.

— Você sabe que meninas também jogam futebol, não é? — Ela questiona fazendo uma careta.

— Claro, e com certeza ele se derreteria se viesse uma menininha. A verdade é que tanto faz ser ele ou ela, sei que é clichê, mas o que mais importa para nós é que tenha saúde, porque é certo que amor para esse neném não vai faltar.

— Ai Vi, estou tão feliz por você! — Diz ela me abraçando. Seu cabelo macio faz cócegas no meu rosto. Deve ser maravilhoso ter uma mãe tão dedicada, a ponto de cuidar com alegria do neto para que a filha possa passar algumas horas no cabeleireiro. Não que eu goste de frequentar esse ambiente. Meu cabelo, que por sorte é de fácil manutenção, castanho, liso e encorpado, fica anos sem ver uma tesoura. A última vez que cortei, pedi um long bob que já está na altura dos seios. Enquanto os fios brancos não chegarem, não pretendo mexer na cor.

— Sempre pensei que você seria a primeira de nós a ter filhos. Sabe, você e o Eric estão juntos há séculos e eu falo para todo mundo "a Vivian é um daqueles raros casos de quem nasceu para ser mãe..." — Ela continua, cortando minhas divagações.

— Não vou mentir, eu também imaginei que seria assim. — Sorrio. — Você lembra que dizia que não queria ter filhos para não estragar o corpo? Que todas as mães de bebê que você conhecia andavam por aí descabeladas e...

— ...Exibindo orgulhosamente uma barriga de pochete! — Ela completa e cai na gargalhada.

— E olhe só para você, está perfeita como antes e ainda mais iluminada com o brilho da maternidade.

— Vivian Louise, você é tão poética... Mas a verdade é que assim que a médica liberou, voltei a me matar na academia e agora estou gastando uma fortuna em massagens, dermo cosméticos e procedimentos estéticos. Queria poder ser mais livre e desencanada quanto a isso como você, mas não consigo. Não quero nem me lembrar de como fiquei enorme na gravidez. Ainda bem que o resultado é tão fofo. — Diz ela fazendo cócegas no filho e provocando o melhor som do mundo: risada de bebê.

Será que estou muito sensível ou isso foi uma alfinetada? Laura às vezes me deixa em dúvida. Seu comportamento é tão auto centrado que é difícil saber.

Quando nos conhecemos, éramos as duas meninas novas e desengonçadas da escola. Eu fazendo o papel da gorda de aparelho nos dentes, e ela o da magra e alta demais. Nos aproximamos naquela época e até alguns anos atrás éramos inseparáveis. O tempo foi generoso comigo — perdi algum peso, embora não tanto quanto as pessoas, especialmente a minha mãe, gostariam e minha aparência melhorou muito no geral — mas foi muito mais com ela. Laura se desenvolveu, ficou linda e começou a participar de concursos de beleza aos quinze anos.

— Enfim... — Suspiro. — Tudo acontece no tempo certo.

— Sim, ou talvez você finalmente tenha criado coragem ao ver com seus próprios olhos que a maternidade não é tão difícil quanto parece.

Tenho certeza de que a maternidade é tão difícil quanto parece, penso, a diferença é que uma grande rede de apoio como a dela, facilita as coisas. Eu não me importo, Eric e eu já conversamos sobre isso e se for necessário, vou parar de trabalhar por um tempo, pelo menos até que nosso filho possa ir para o jardim de infância.

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