Capítulo IX || Arcadia

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Estou literalmente parado, acompanhando os ponteiros do relógio. Cheguei a esse nível. Conto os minutos até ser seguro voltar para ela. Não há nada que eu consiga fazer, lugar algum em que eu possa estar a não ser junto da mulher que amo.

Depois do dia mais longo da minha vida, a noite cai em sua dimensão e posso ir até lá. O lado bom é que por alguma misericórdia, o laço de sangue não foi acionado, mas ainda assim não faço ideia de como Vivian está.

Quando chego no quarto, encontro-a sentada na cama. Ela veste uma calça de moletom cinza e uma blusa de manga longa fina e justa, rosa claro. Está distraída, mudando os canais da TV e parece bem. Não sei a quem agradecer, então lanço um muito obrigado ao universo e, pela primeira vez, sou eu que corro ao seu encontro.

Vivian se surpreende ao me ver, mas corresponde ao meu abraço desesperado.

— Como está se sentindo, meu amor? Estava tão preocupado com você. — Pergunto, a boca contra os seus cabelos.

— Estou bem, amor, bem melhor. Acho que o efeito dos remédios passou. Eu consegui me lembrar de tudo o que aconteceu... — Ela se afasta um pouco para olhar meu rosto.

— Minha mãe... Ela me chamou para tomar café da manhã e quando cheguei, começou a falar de todos os problemas que estou tendo, falou de você. Parece que uma vizinha nos viu juntos e ela acha que você é um desconhecido que eu trouxe para casa depois de um surto. Eu tentei negar, mas ela já tinha chamado as pessoas da clínica. Eu só percebi quando espetaram uma agulha em mim, mas já era tarde. Vi alguns flashes de luzes, mas não me lembro de nada de quando estive internada, minha primeira lembrança foi a de te ver, lindo de terno... — Vivian continua, atropelando as palavras.

Fico aliviado por ela não se lembrar dos abusos que sofreu, e ao mesmo tempo muito puto, por pensar no quanto ela estava indefesa ali.

— Eu sei, descobri o que ela fez com você. Consegui um documento que me intitulava seu representante legal e assim pude assinar sua alta. É por isso que estava de terno, achei que passaria mais credibilidade. — Explico.

— Não imagino como você conseguiu isso, mas estou feliz por ter saído daquele lugar. Quanto à sua roupa, não estou reclamando. Só fiquei em dúvida se estava sonhando ou não diante daquela visão. Você sabe que as mulheres tem um fraco por homens de terno e quando esse homem é você... Bem, não pode me culpar por achar bom demais para ser verdade. — Ela sorri.

— Bom demais para ser verdade é ver que você está melhor. Me conta como foi o seu dia. — Falo aconchegando-a em meu peito.

— Foi chato. Quando acordei, minha memória estava voltando aos poucos, mas me lembrei de que prometi a você me comportar e ficar no quarto, então basicamente eu comi e assisti filmes. Também consultei os papéis timbrados do hotel para saber exatamente onde estou, só por curiosidade... E claro, fiquei pensando em você, torcendo para vir logo. — Ela diz, voltando o rosto para cima para encontrar meus olhos.

Nesse momento, seguro sua face e a beijo profundamente, derramando nela tudo o que sinto: o medo, o amor que não consigo confessar e a vontade de possuí-la de todas as formas e de nunca me afastar. Quando termino, estamos ofegantes.

— Isso foi... Bom. — Ela comenta, corada.

— Muito... — Concordo sem tirar os olhos dela e então me lembro do porque estou ali. Vim buscá-la. Como ela está bem, poderemos ir para a minha casa.

— O que você acha de irmos à Nícta? Fico mais sossegado com você lá. E vai ser bom sair um pouco do hotel.

— Com você eu vou para qualquer lugar, mas a sua casa está ótimo pra mim. — Vivian sorri outra vez, iluminando meu mundo.

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