Capítulo VI || Doin' Time

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— Qual é o nome da capital de Pompéia? — Pergunto, olhando tudo em redor.

— Capital de Pompéia ou Pompéia Capital. As capitais das cidades-estado recebem apenas o título de capital junto do nome da cidade. — Dmitry responde.

— Criativo. — Ironizo.

Ele dá de ombros.

— Não fui eu quem decidiu isso.

Assim como o quarto, tudo o que eu vi do sobrado de Dmitry segue o mesmo estilo — madeira escura e tecidos pesados. O que mais me chamou atenção na decoração foram os vasos cor de ouro envelhecido, de diversos tamanhos, espalhados pela casa e as rosas dentro deles, grandes e num tom de vermelho tão escuro como eu nunca tinha visto antes.

— São de uma espécie que só existe aqui. Se chama Rosa da Meia-Noite. — Ele explica, enquanto as admiro, tocando um dos vasos que está sobre uma mesa lateral.

— São lindas. — Suspiro.

Quando olho para ele, sua expressão é indecifrável.

— Você mora sozinho aqui? — A dúvida salta de minha língua.

— Por que a pergunta?

— Somente cretinos respondem a uma pergunta com outra pergunta. — Afirmo, de repente corajosa.

— E quem disse que não sou um cretino?

Outra pergunta. Desisto.

Finalmente saímos para a noite agradável. Até me acostumei com o leve iluminado enevoado ao redor de tudo, e já no início do caminho, noto como as ruas largas de paralelepípedo estão muito cheias de gente e vibrantes para aquele horário.

— Que horas são? — Indago. Não sei como funciona o fuso horário.

— São dez e quarenta. — Dmitry informa, depois de consultar seu relógio de bolso. Dou um sorrisinho ao observar o objeto antiquado. É claro que ele prefere um relógio de bolso a um celular para conferir as horas.

Dez e quarenta da noite. O estranho é que muitas pessoas parecem estar fazendo suas atividades normais num horário avançado como esse. Há muitos carros, parecidos com os que temos em nossa dimensão, cidadãos de todas as etnias e idades, crianças andando com os pais, as menores de mãos dadas ou sendo levadas em carrinhos.

Essa última imagem me provoca uma fisgada de dor profunda, ao me fazer lembrar do meu bebê que nunca vai nascer. Além disso, instiga a minha curiosidade. Imaginei que apenas adultos eram levados à Nícta. Como aqueles bebês nos carrinhos teriam um sofrimento que os trouxesse para esse lugar? Ou foram suas mães que vieram ainda grávidas?

Dmitry parece estar num humor particularmente bom desde que começamos o tour, então, aproveito para expôr minha dúvida:

— Achei que não haveria crianças por aqui. Como elas vieram?

— Não vieram. As crianças que você vê, nasceram em Nícta. Seus pais ou avós foram enviados para cá e constituíram família. — Ele explana.

Constituíram família aqui, repito em minha mente, guardando a informação.

— Sei o que você deve estar imaginando e sim, Nícta é tão real quanto a sua dimensão. Aqui as pessoas se conhecem, namoram, se casam, têm filhos, trabalham, constroem casas, produzem carros, celulares, roupas e no fim, morrem. Tudo muito parecido.

Presto atenção ao fato de ele ter dito "parecido" e não "igual" como seria de se esperar e, por alguma razão, sei que ele deve estar escondendo algo, apesar de se mostrar aberto como nunca.

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