Capítulo X || Born To Die

422 32 3
                                    

Vivian parece desconfortável com o assunto em que acabei de tocar, mas percebo que estamos chegando a um ponto sem retorno. Sei que à menção do fato de se tornar uma residente de Nícta, automaticamente a fiz se lembrar do marido e de como tudo isso começou. Também sei que ela se sente culpada por algo que não deveria — e tenho que acabar com isso.

— Precisamos voltar para o hotel. — Informo, para ganhar tempo e porque realmente é necessário depois das horas longe de sua dimensão de origem.

— Certo. Não estou me sentindo muito bem mesmo. — Vivian concorda sem questionar como normalmente faria, o que não é um bom sinal, mas é bom que seja assim. Eu compliquei as coisas. Estou ficando afobado, minha mente tomada pelo desejo e pela necessidade por ela está deixando a lógica de lado perigosamente.

Tento me concentrar ao pegar suas mãos que tremem um pouco nas minhas. Ela está tensa.

Assim que retornamos para o quarto de hotel, sirvo, como sempre, um copo de água para que ela se hidrate. A água, elemento vital da matéria humana, é perdida em abundância nessas viagens e preciso mantê-la saudável.

— Vivian, amor, você está se sentindo melhor agora?

Ela apenas balança a cabeça, assentindo levemente.

— Temos que conversar... — Me interrompo sem saber ao certo o que dizer. Ela me olha, mas não fala nada. Forço-me a continuar.

— O que eu disse... Sobre você ficar em Nícta...

— Você disse que quando eu encontrasse Eric poderia decidir ficar lá para sempre ou não. Nós ainda não o encontramos, nem sequer o estamos procurando no momento. — Ela me corta, na defensiva.

Isso está ficando cada vez mais difícil. Como poderia ser fácil para um mentiroso contumaz admitir a verdade?

— Sim, eu disse, mas não te dei os detalhes de como tudo funciona, na época. Você ainda não estava preparada. O fato é que para que fique em Nícta permanentemente, não há necessidade alguma de que encontre Eric. Você precisa de mim, na realidade. — Pigarreio para disfarçar o nervosismo que se apodera da minha garganta.

— De você? Como assim? — Vivian, que está sentada na cama, fica mais ereta e põe um travesseiro no colo, criando uma barreira inconsciente entre nós. Tenho que me obrigar a manter o foco, agora que seus seios brancos transbordam atrevidamente da roupa.

Não tem maneira fácil de fazer isso, então reúno toda a coragem de que disponho e apenas faço.

— É necessário que aconteça um ritual para que uma pessoa dessa dimensão que não nasceu ou foi enviada para Nícta se torne um residente. E só há uma forma de fazer esse ritual. É através de uma ligação completa. Uma ligação feita com sexo e sangue.

Faço uma pausa e observo seus olhos se arregalarem com minhas últimas palavras. De um fôlego só, continuo:

— A pessoa que levou o candidato a residente à Nícta é a única capaz de realizar o ritual de forma efetiva. É necessária uma relação sexual com penetração enquanto ambos bebem o sangue um do outro. A troca dos fluidos e do sangue ao mesmo tempo, aterra o candidato àquela realidade definitivamente. É um ritual delicado e, se as coisas não forem feitas exatamente como se deve, a pessoa pode enlouquecer e morrer ou apenas morrer em seguida. É por isso que os dois devem estar plenamente conscientes no momento do ato.

— Isso significa que se eu quiser ficar em Nícta, terei que transar com você? Isso não...

Dou tempo suficiente para que ela se dê conta: três, dois, um...

— Você já sabia disso, não é? Desde o começo. Quando eu encontrasse Eric, se quisesse voltar a estar com ele, precisaria fazer sexo com você. Mesmo que nada tivesse acontecido entre a gente, mesmo que eu não gostasse, não amasse você, mesmo que eu me preocupasse em ser fiel ao meu marido, eu... Nós... teríamos que transar e você sempre soube disso!

Paraíso Sombrio Onde histórias criam vida. Descubra agora