Capítulo XII || The Blackest Day

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Abro os olhos aterrorizado, e preciso de uns poucos segundos para me lembrar de que estou no sofá de Martin. Minha cabeça dói e apalpo o bolso da calça assim que sinto meu celular começar a vibrar. Por algum motivo, imagino que possa ser Vivian, embora saiba que é impossível. Olho para o visor e aperto as pálpebras a fim de filtrar a luz excessiva. É da delegacia.

— Volkov. — Atendo, a voz rouca, como se tivesse gritado.

— É Mitchell, Dmitry. Temos novidades no caso de Ethan Tembè, você precisa vir agora.

— Estarei aí em vinte minutos. — Afirmo, já me levantando.

Aparentemente estou readmitido após o episódio do sequestro. Fico aliviado em ter essas horas ocupadas para que não enlouqueça preocupado com Vivian, o que tenho certeza que pode acontecer a qualquer momento, e também porque é a Sargento Karen Mitchell que está de plantão hoje. A mulher tem sessenta e tantos anos e apesar dos cabelos curtos estarem totalmente brancos, não dá sinais de que pretenda se aposentar. Foi minha parceira logo que comecei na polícia, antes que ela aceitasse o cargo de chefia, e é a única ali que me chama pelo primeiro nome até hoje. Sem sombra de dúvidas, é a pessoa mais competente da equipe, uma mulher admirável. É bom não estar cercado de imbecis, para variar.

Confiro as horas no aparelho em minhas mãos. É o correspondente à madrugada aqui, e Martin e Maurice devem estar dormindo. Rabisco um agradecimento no bloco pendurado na parede da cozinha ao lado das chaves e digo que estarei no trabalho.

Não me lembro de ter vindo de carro, mas ele está estacionado ao lado da caminhonete de meu anfitrião. Melhor.

Em casa, troco de roupa rapidamente, escovo os dentes, jogo uma água no rosto.

Já de volta ao carro, me dou conta do porquê fui chamado. Ethan, o garoto sequestrado há meses de quem nunca encontrei qualquer rastro. Há novidades no caso dele. Será que finalmente acharam seu corpo? Sinto um nó no estômago ao imaginar ter que dar a notícia para seus pais. Eles nunca desistiram do filho. O que teria sido de mim se meus pais tivessem feito o mesmo? Quem eu seria hoje?

Deixo as divagações de lado assim que estaciono. Hora de ser um detetive.

Depois de assinar os papéis atestando meu retorno e me inocentando no caso de conduta excessiva, dispenso os débeis cumprimentos dos colegas presentes, afinal todos sabem que temos pressa.

Rapidamente, Karen me intera da situação.

— A equipe de Mathew estava trabalhando na investigação dos membros daquela rede de pedofilia, lembra? — Confirmo com a cabeça. — Ao invadir a casa de um deles, o pessoal encontrou fotos nojentas de diversas crianças, entre elas, de Ethan. Estávamos há horas tentando arrancar uma confissão do maldito estuprador de crianças, mas ele chamou um advogado e se manteve calado. Continuamos as apurações, e encontramos pistas de onde pode ser o local em que as crianças são mantidas e onde se produz parte do material distribuído pela rede na Darkweb.

— E agora vocês querem que eu vá estourar o cativeiro. — Afirmo. — Há chances de encontrar alguém vivo?

— Não sabemos.

***

Depois de percorrer meia Pompéia Capital, sirene ligada, finalmente chegamos a um conjunto habitacional, na parte mais afastada da cidade. A construção, ao contrário das áreas centrais, não tem charme algum, é apenas decadente. Um cachorro cheio de sarna passa por mim quando me aproximo da janela suja de um apartamento repleto de trapos pendurados num varal na parte externa. Entro no prédio, liderando a equipe, seguido por Karen, que fez questão de estar ali pessoalmente dada a gravidade do caso, Mathew Collins, que pela primeira vez fez algo de certo, e Joel Torres, seu parceiro.

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