— Nós nos entendemos depois que você foi dada como morta. — Fez uma careta de dor ao falar daquela época e então ficou surpreso ao ouvir a gargalhada de Luiza. — É tão engraçado assim?
— É surreal de imaginar uma coisa dessa. — Seguiu rindo. — Isso quer dizer que o problema era eu?
— Senti falta desse seu bom humor! — Suspirou e ficou de pé, indo em direção as escadas com um sorriso.
Micael bateu na porta repetidas vezes e foi ignorado por Sophia em todas elas. Ligou e ela não atendeu, voltou a bater e então finalmente a ouviu gritar "vai embora daqui" pra ele.
— Eu não vou desistir. — Bateu mais vezes até que a porta se abriu, Sophia tinha os olhos vermelhos e tristes, isso partiu o coração de Micael no instante em que a viu. Tentou entrar, mas ela estava de pé no meio do caminho, impedindo a passagem.
— O que quer? — Perguntou com extrema grosseria e ele se surpreendeu.
— Não vai me deixar entrar? — Respondeu com outra pergunta e a loira soltou uma risada debochada.
— Se você quer conversar comigo pra dizer de um jeito fofo que quer terminar, nem precisa se dar ao trabalho. Super entendo a sua posição, não precisa se preocupar. — Tentou fechar a porta, mas Micael segurou, balançando a cabeça negativamente.
— Sophia podemos conversar como dois adultos, como um casal de verdade igual sempre fizemos esses anos todos? — Ela soltou um suspiro pesado e saiu da frente, caminhando até a cama pra se sentar. Micael entrou e fechou a porta atrás de si.
— O que tem pra dizer, Micael? — Perguntou com a voz baixa, dava pra sentir a tristeza de longe.
— Eu sei que é uma situação inédita, sei que é difícil, mas você não está facilitando em nada. — Ela olhou em seus olhos.
— O que está pensando em fazer agora? Levar a Luiza pra casa, cuidar dela e continuar o amor de vocês de onde nunca devia ter parado? — Disse um pouco mais alto e com um tom de ironia.
— Por que você tá falando assim? — Ele franziu a testa confuso, não tinha a menor intenção de fazer aquilo.
— Porque eu vi, Micael. — Micael ficou pálido na hora, pensando no que falar pra suavizar o que ela viu. — Ninguem me contou, eu vi.
— Se você tá falando do beijo, eu só deixei acontecer porque... — Ele se interrompeu ao ver as lágrimas que Sophia prendia rolarem soltas pelo rosto. — Sophia, me desculpa!
— Teve beijo? — Conseguiu dizer por entre as lágrimas, não contava com aquilo.
— O que você viu? — Perguntou confuso, ignorando sua pergunta.
— Teve beijo? — Sophia repetiu, dessa vez ignorando a dele.
— Foi rápido, eu deixei porque não sabia como dizer a ela que não podia. — Contou e a loira bufou. — Eu te juro que foi isso, combinamos de não contar a ela, a ideia foi sua!
— Está dizendo que a culpa foi minha por você ter a beijado? — As lágrimas caiam ainda mais forte. — Não transfere pra mim, essa culpa só cabe a você, você quis esse beijo, não se faça de vítima.
— A culpa não é sua! Eu só não soube lidar, ela me pegou de surpresa e eu realmente acabei deixando acontecer por não saber como cortar. Depois, quando ela tentou novamente, eu desviei e disse que não podia, que tinha alguém.
— Disse o quê? — Secou um pouco o rosto na mão.
— Disse que eu tenho alguém. Luiza disse que me amava e eu contei que tinha encontrado outra pessoa, afinal se passou muito tempo. Eu amo você, Sophia, ou se esqueceu disso?
— Você ainda vai voltar com ela, Micael. — Disse com convicção. — Vocês sempre se amaram, só ficou comigo porque ela "morreu", mas agora que está de volta, seja la qual for o motivo... — Se levantou da cama, andando de um lado pro outro enquanto tagarelava.
— Ai meu Deus, mulher! — Botou as mãos na cabeça em um gesto de indignação. — Eu acabei de dizer que amo você!
— E vai me dizer que não ficou nem um pouco balançado? — Ela questionou parada de frente a ele. — Claro que ficou, eu vi na tua cara.
— Fiquei. — Confessou com um suspiro. — Num primeiro momento, é lógico que eu fiquei. Eu amei muito a Luiza e eu tenho certeza que o meu casamento com ela não teria acabado se o acidente não tivesse acontecido. Mas aconteceu, e você foi a coisa mais linda na minha vida nesses anos, eu aprendi a te amar e eu não quero abrir mão do que a gente tem, me entende? — Ele não esperou resposta e iniciou um beijo antes que ela dissesse que não. Tinha amor de verdade ali e por mais insegura que ela pudesse se sentir, sabia que tinha amor ali. Pararam o beijo por falta de ar.
— Eu amo você. — Ela disse abraçada a ele. — Amo muito.
— Eu sei e te amo muito também. — Reforçou, sabia que dali pra frente ia precisar falar bastante aquilo para que ela não se sentisse tão insegura. — Mas precisamos ir pra casa, estou exausto.
— Não vou com você. — Sophia se afastou e o pegou de surpresa. — Se eu sair daqui com você, ela vai saber que estamos juntos.
— Eu não quero causar tumulto e brigas, mas não tem motivo pra esconder mais. Luiza chegou bem fraca aqui, mas já está claramente bem, acho que ela aguenta a verdade. Não quero ir pra casa sem você.
— Está ótima, já até enfiou a língua na sua boca. — Falou enciumada e arrancou risada de Micael.
— Você é mais linda com ciúmes. — Deu mais um selinho e desceram as escadas, juntos, mas não de mãos dadas.
**
— Eles viraram amigos? — Luiza perguntou aos pais assim que Micael desapareceu pela escada. — Amigos de verdade?
— É, depois do acidente Micael veio pra cá com Felipe, e os dois acabaram se entendendo bem. — Renato quem respondeu, Branca estava doida pra contar a verdade. — E quando Micael foi embora, Felipe continuou com a gente, Sophia tomava conta enquanto ele trabalhava.
— Muito tempo? — Luiza questionou dessa vez olhando nos olhos da mãe, que hesitou em responder. — Ela ficou muito tempo como babá? — Reforçou a pergunta.
— Filha, você devia conversar com a sua irmã.
— Para de me enrolar e conta logo. Micael vinha aqui buscar o Felipe? — Cruzou os braços encarando a mãe. — Fala, mãe. Que agonia!
— Ele vinha aos finais de semana, logo depois decidiu que não queria mais ficar indo e vindo, e levou o Felipe pra casa, a Sophia passou a tomar conta dele lá.
— A Sophia vinha pra casa todo dia ou morava lá? — Questinou e novamente a mãe não respondeu. — Mãe, o fato de você estar hesitando, faz a minha cabeça explodir com mil e uma teorias, fala de uma vez!
— Conversa com a sua irmã. — Renato se meteu antes que Branca cedesse, Luiza bufou e se sentou de frente ao filho.
— Meu amor, a tia Sophia morava com você e com o papai? — Perguntou com a voz suave e o menino balançou a cabeça.
— Ela mora lá. — Disse no presente e Luiza já conseguiu juntar os pontos. — Perguntei se você ia pra casa com a gente e a titia disse que não, que lá só eu, o papai e ela. — Entregou e a mulher ergueu a cabeça pra encarar os pais.
— O Micael e a Sophia estão juntos. — Ficou de pé irritada. — Mas que merda é essa?
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Inevitável
RomanceMicael e Luiza são um casal harmonioso e feliz. Tem Felipe, seu filho de oito meses e os três vivem numa boa casa, localizada no Rio de janeiro, em Niterói. Tudo muda após um trágico acidente, que deixa o rapaz viúvo, com um filho pra cuidar. A aju...