E mais uma vez o silêncio reinou no carro. O único som que ouviram foram suas respirações descompassadas até finalmente chegarem a delegacia, onde Jorge já falava com alguns policiais tentando conseguir uma visita ao neto.
Sophia e Micael tomaram um chá de cadeira para conseguir a visita, mas Jorge era realmente muito bom no que fazia e garantiu que eles veriam Felipe naquele dia.
— As meninas. — Foi só o que Micael disse e Sophia levantou num pulo. Estava quase na hora de saírem da escola e o transporte as deixariam na casa vazia.
— Vou ligar pra Luiza. — Comunicou e se afastou um pouco para fazer a ligação. A irmã não demorou a atender.
— Teve alguma notícia dele? — A voz de Luiza surgiu urgente assim que atendeu.
— Está preso, estou na delegacia com Jorge e Micael pra conseguir vê-lo. Não tenho mais notícias por enquanto. — Sophia disse contra vontade, Luiza não tinha facilitado em nada a comunicação dela com Felipe naquele mês. — Será que pode pegar as meninas na escola? Quando sairmos daqui, passaremos ai para buscá-las.
— Claro que sim, liga na escola e pede para que o transporte as deixem aqui, junto com Daniel.
Sophia agradeceu, encerrou a ligação após se despedir e então ligou para a escola.
Quando voltou para onde o marido estava, havia um carcereiro junto.
— Podemos ir vê-lo. — Ela assentiu e segurou a mão de Micael.
Era uma delegacia bem pequena, tinham apenas duas celas imundas uma de frente pra outra. Felipe estava sozinho e haviam dois homens na outra cela.
O lugar fedia tanto que o nariz de Sophia ardeu. Era úmido e mofado, claramente um lugar onde não batia luz do sol.
Felipe olhou para os dois e não disse nada, apenas abaixou a cabeça, envergonhado. O guarda abriu a cela, algemou Felipe e foram caminhando até pouco mais a frente, onde havia uma pequena sala com uma mesa e duas cadeiras.
Felipe ganhou um empurrão para sentar e então o carcereiro olhou para o casal.
— Vocês tem vinte minutos. — Comunicou e os deixou a sós. Micael assentiu e assim que a porta se fechou, Sophia pulou para abraçar o menino que tanto amava, mas que ainda não tinha coragem de encarar os pais.
— Você está bem, meu amor? — Sophia colocou as mãos em seu rosto e o forçou a olhar pra ela. Felipe tinha sangue seco na testa, um olho roxo amarelado, um corte no lábio inferior e ela o tinha visto mancando no caminho até ali. — Eles bateram em você?
— Só um pouco, está tudo bem tia. — Disse com um sorriso sincero e Sophia o agarrou de novo. — Como me acharam aqui? Veio pra me dizer que avisou? — Ele finalmente tomou coragem para encarar o pai.
— Você devia ter ligado pra pedir ajuda. — Micael tinha os braços cruzados pro filho. — Vim tentar entender o que você fez.
— Eu usei meu telefonema pra ligar pro Lucas. Ele disse que não ia me ajudar, que eu merecia ficar aqui uns dias.
— Você pôde dar um telefonema e não ligou pra gente? — Sophia disse alto, irritada. — O que você tem na cabeça?
— Eu não queria preocupar você tia. — Sophia suspirou. — E eu sou menor, achei que não ia dar em nada, que logo estaria solto de novo.
— Claro, pra fazer mais besteira. — Micael comentou e recebeu um olhar feroz de sua esposa. — Será que pode nos contar o que aconteceu de uma vez?
— Você tem que ser o bonzão em tudo, não é mesmo?
— Eu espero que vocês não entrem em guerra aqui! — Os dois ficaram em silêncio se encarando. — Muito obrigada! Agora conta, Felipe.
— Eu estava com a galera depois da aula, estávamos fumando... — Evitou o olhar dos dois. — Acontece que éramos muito e alguém tinha que carregar a parada, eu era o único de mochila.
— Claro, ai a polícia apareceu e você estava com mais do que seria considerado para uso pessoal.
— É, todo mundo correu e eu fui pego. Tão me acusando de ser traficante, mas eu nunca faria isso.
— Os amigos por quem você brigava comigo te deixaram na mão. O pai por quem você brigou comigo te deixou na mão. A sua mãe que tanto te ama te deixou na mão. E quem é que veio atrás de você? O otário aqui.
Felipe ergueu o olhar e encarou o pai alguns instantes pensando no que responder a ele.
Mas não tiveram mais tempo, o guarda voltou e os avisou que o tempo já tinha acabado. Nenhum deles tinha relógio, mas tinham certeza que não tinham passado vinte minutos ali dentro.
— Vamos tirar você daqui. — Micael disse num suspiro e o menino assentiu, sem dizer mais nada.
Micael trocou algumas palavras com o pai e o comunicou que levaria sua esposa pra casa. Caminharam até o carro de mãos dadas e em silêncio, já dentro do veículo, ela deitou a cabeça no ombro do marido, ainda parados no estacionamento.
— Se acalma, Felipe é menor de idade e réu primário, quando você menos esperar vai estar em casa. — Sophia fungou e ergueu a cabeça, secando as lágrimas com as mãos antes de encara-lo.
— Não vi nenhuma necessidade de você brigar com ele ali.
— Não dá pra passar a mão na cabeça dele toda vez, como vai virar um homem sem encarar as consequências de seus próprios atos? — Sophia suspirou e fechou os olhos, cansada de toda aquela situação. — Vamos passar na casa daquele imprestável e buscar as coisas do Felipe.
— Vai levar ele pra casa? — Ela perguntou aliviada.
— Depois de tudo isso, acho que ele mesmo vai querer voltar.
— Então vamos, pedi a Luiza que pegasse as meninas, então elas com certeza estão lá. — Micael afivelou o cinto e deu partida.
— Ô casalsinho medonho. — Resmungou e Sophia deu risada.
— Deixa ela em paz, ela esta feliz. O final do casamento dela com o Marlon foi muito tenso, é bom ela estar reconstruindo a vida outra vez, embora jure que não está namorando com ele.
— Ela fala que não está namorando, mas vive lá.
— Não é da nossa conta.
— Meu irmão ainda gosta dessa vagabunda. — Bufou. — E ela lá curtindo a vida com o Lucas. Se bem que faz sentido, ele sempre foi o amor da vida dela, não é mesmo?
— Deixa isso pra lá, Marlon e Luiza que se resolvam. Eu só quero que a nossa família fique bem.
— Vai ficar. — Sorriram um para o outro.
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Inevitável
RomantizmMicael e Luiza são um casal harmonioso e feliz. Tem Felipe, seu filho de oito meses e os três vivem numa boa casa, localizada no Rio de janeiro, em Niterói. Tudo muda após um trágico acidente, que deixa o rapaz viúvo, com um filho pra cuidar. A aju...