Não demorou muito a Micael estar pronto pra sair de casa, tinha colocado a caixa de fotos no banco do carona e estava afivelando o cinto enquanto se despedia de sua noiva.
— Tem certeza que eu não posso ir? Não quero você sozinho com ela. — Disse enciumada e arrancou risada do noivo. — Não é piada.
— Eu apertei o pescoço dela da última vez que a vi e você está preocupada com uma recaída, jura?
— Ciúme não é racional. — Avisou e lhe deu um selinho. — Até mais tarde. Te amo.
— Te amo. — Respondeu e finalmente deu partida no carro.
Micael passou todo o caminho pensando no que diria a Luiza pra tentar convencê-la, mas é claro que não conseguiu chegar em nenhuma opção que talvez desse certo.
Saiu do carro carregando a caixa de fotos, parecendo que iria a seu próprio funeral e tocou a campainha após um suspiro.
— Micael? — Branca atendeu a porta e ficou surpreso com aquela visita. — Aconteceu alguma coisa com a minha filha ou as crianças?
— Não, está tudo bem. — Viu a sogra ficar ainda mais confuso e respondeu a pergunta silenciosa dela. — Preciso conversar com a Luiza.
— Com a Luiza? A mesma que você apertou o pescoço ontem? — Cruzou os braços e encarou o genro com um olhar feroz. — E mesmo que não tivesse feito isso, não pode ficar trocando de irmã o tempo todo.
— Se tem uma coisa que eu não quero fazer, é trocar de irmã, Branca. — Respondeu com um tom parecido com o da sogra. — Eu não sou assim e a senhora sabe bem. — Branca ponderou e deu passagem a Micael, mesmo contra sua vontade.
— Senta ai, vou chamar. — Se sentou e esperou, mas não demorou muito pra ouvir a voz que antigamente o faria suspirar apaixonado, mas que agora só lhe dava vontade de correr.
— Veio terminar de me matar? — Parou longe de Micael, parecia com medo. — Ontem não foi o suficiente?
— Preciso conversar com você. — Viu a camisa de gola alta na mulher e estranhou. — Não está sentindo calor? — Luiza o olhou com deboche e abaixou a gola lhe mostrando as marcas roxas que tinha em seu pescoço. — Meu Deus! — Disse horrorizado e em seguida uma onda de culpa lhe atingiu. — Eu...
— Não se incomode em pedir desculpas. — A mulher se sentou no sofá depois de ajeitar novamente a gola da camisa. — Você já me magoou de todas as forças possíveis, Micael. Foi só mais uma coisa, na verdade, nem foi a pior delas.
— Me desculpe, essa nunca foi a intenção. — Resmungou mesmo ela dizendo que ele não devia fazer.
— Essa foi a sua intenção desde que eu voltei. — Disse triste o fazendo sentir mais culpa. — Mas isso não importa, o que quer falar? Algo com Felipe?
— Não. — Suspirou e lhe estendeu a caixa fechada. Luiza pegou apreensiva, ainda sem ter coragem de abrir aquilo. — Pode ficar tranquila que não vim até aqui te trazer uma bomba. Eu estava arrumando o guarda-roupa e achei, decidi trazer pra você fazer o que quiser com isso. — Terminou o discurso e Luiza então abriu a caixa, vendo as fotos dos momentos felizes do casal, seus olhos encheram de lágrimas no mesmo instante.
— Nossas fotos. — Disse encantada ao mexer e obsertar as fotos de momentos que nem lembrava. — Olha essa. — Micael beijava a barriga de Luiza que tinha um sorriso aberto, dava pra ver como estavam felizes só por olhar aquela fotografia. — Parece até que foi em outra vida.
— Parece sim. — Sorriu enquanto a via chorar ao abrir o álbum de casamento dos dois e folear. — Depois de tanta briga envolvendo nós dois, nem parece que houve um momento em que realmente fomos felizes.
— Depois de você apertar o meu pescoço, realmente não parece que um dia fomos felizes. — Disse ainda olhando as fotos. Parou numa deles abraçados e Sophia, que na ocasião estava com seu vestido marsala de madrinha. — Por que você não simplesmente jogou essas fotos fora?
— Sophia até que queria jogar fora, mas são suas, você faz o que quiser. — Luiza voltou a atenção a ele novamente.
— Lembra do sacrifício que foi fazer vocês dois tirarem essa foto? — Ergueu o álbum pra Micael e lhe mostrou a foto. — A lembrança que eu tenho é de vocês de bico, trocando ofensas e se recusando a posar pra essa simples foto. Eu implorei a vocês, eu queria uma foto no dia mais feliz da minha vida com as duas pessoas que mais amava juntas.
— Luiza, eu sei que você está chateada, mas isso tudo passou.
— O que você quer afinal? Está simpático demais e eu duvido que você veio até aqui só pra me traz essas lembranças.
— É o seguinte: Eu pedi a Sophia em casamento ontem. — Luiza largou as fotos de volta na caixa. — Preciso que você assine o divórcio. — Muito mais lágrimas caíram por seu rosto ao ouvir aquelas palavras, com certeza não estava esperando por aquilo tão cedo.
— Não acredito que você veio até aqui me trazer as fotos do nosso casamento só pra me pedir o divórcio, Micael. — Disse irritada e Micael se sentiu menos pior, era mais fácil lidar com a Luiza brigona do que com ela chorona.
— Eu preciso disso, Luiza. Em nome de tudo o que já vivemos junto, de todo o amor que tivemos. Sophia quer casar antes que o bebê nasça.
— Ah, ela quer? — Debochou e secou o rosto. — Pois ela vai ficar querendo!
— Você pode não complicar as coisas? — Disse no mesmo tom que ela. — Por que você não nos deixa ser feliz?
— Não aceito vocês juntos. Sempre naquela de se odiarem, sempre um sacrifício para convencer você a vir aqui visitar minha família. E tudo isso pra quê? Me diz, Micael? Pra eu descobrir no final que você tinha era tesão pela minha irmã? Que queria pegar ela?
— Não vem dar chilique pra cima de mim, Luiza. — Disse tão alto quanto ela. — Você sabe bem que eu odiava sua irmã, nunca foi de mentira, nós acabamos nos aproximando após o acidente e você sabe bem disso.
— Isso nunca vai entrar na minha cabeça, vocês são dois traidores!
— Luiza, assina os papéis, por favor! — Juntou as mãos em súplica e ela soltou uma risada debochada.
— Tudo o que eu puder fazer pra atrapalhar esse casamentinho de vocês, eu farei. Nunca vou te deixar em paz, Micael. Sabe o que é nunca? — Jogou a caixa com fotos em cima de Micael. Que saiu da casa sem dizer mais nada, só ouvindo ela gritar como uma doida que nunca os deixaria em paz.
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Inevitável
RomanceMicael e Luiza são um casal harmonioso e feliz. Tem Felipe, seu filho de oito meses e os três vivem numa boa casa, localizada no Rio de janeiro, em Niterói. Tudo muda após um trágico acidente, que deixa o rapaz viúvo, com um filho pra cuidar. A aju...