Capítulo 82

43 7 3
                                    

Se sentou no quintal e deixou as lágrimas de ódio rolarem antes que voltasse a sala, pronto para esganar a vadia. Podiam mexer com ele, mas com seu amado filho era golpe baixo demais.

Na sala o silêncio era quebrado apenas pelos soluços de Luiza e suas fungadas esporádicas. Marlon estava parado num canto, ainda em choque com tudo o que havia sido revelado, Jorge não sabia bem o que dizer de toda aquela situação, havia chegado no final. E Sophia estava de pé olhando a porta por onde Micael tinha saído, querendo ir atrás dele e com medo de ser rejeitada no meio de seu ataque de fúria.

E então, irrompendo pela porta assustando os que ali estavam, Micael chegou pronto pra apertar o pescoço de Luiza até vê-la sufocar.

— COMO VOCÊ PÔDE FAZER ISSO? — Gritou descontrolado, deu um soco num vaso que estava ali na casa do pai sabe lá há quanto tempo. — COMO É QUE VOCÊ TEVE CORAGEM DE FAZER ISSO COMIGO! — Não era mais uma pergunta.

— As crianças! — Sophia tentou chamar sua atenção e Micael a ouviu, então respirou fundo.

— Responde, Luiza. — Estava claramente bravo, mas seu tom de voz estava controlado momentaneamente. Luiza passou a mão no rosto e ficou de pé, precisava ter coragem e respondê-lo.

— Aconteceu, não foi nada premeditado. — Foi só o que escapou de sua boca.

— Que sorte a minha que não foi premeditado. — Debochou e ela se encolheu. — Você estava transando com um dos meus melhores amigos, na minha casa e na minha cama. — Estava a ponto de explodir de novo. Lágrimas escorriam por seu rosto ao sequer imaginar aquilo e Sophia quis abraça-lo, mas sabia que não era o momento.

— Eu era jovem e imatura, fui seduzida muito facilmente, nunca tinha estado com nenhum outro homem além de você. — Tentou se defender mais uma vez e Micael exaltado socou a parede que tinha perto, nem sentiu a dor na mão, o ódio que sentia no momento era muito superior.

— Mas que desculpa ridícula, eu também nunca tive ninguém e mesmo assim nunca passou pela minha cabeça ter outra mulher! Sempre te respeitei! — Seus olhos ardiam quando disse a próxima frase. — Eu no trabalho louco pra chegar em casa e ver você, enquanto isso você tava fodendo na minha cama com o meu amigo! — Gritou, extravasando tudo o que sentia no momento. O choro de Emily ecoou e Sophia olhou pra Jorge com um pedido silencioso que foi atendido com um pequeno aceno de cabeça. — O que mais me irrita é o fato de você ter engravidado, falado que era meu, Luiza.

— Micael...

— Não me interrompa, vagabunda! — Seu tom era tão agressivo que Luiza ficou em silêncio no mesmo instante. — Você engravidou desse filho da puta e disse que era meu. Nós vivemos momentos mágicos durante a gestação do Felipe. — A mulher recomeçou a chorar de soluçar. — Eu amei o menino desde o instante em que você me contou da gravidez. Me explica como aquelas coisas não foram reais? Nós dois ouvindo o coraçãozinho dele a primeira vez, nós juntos na primeira ultra e nas demais, você se lembra que eu fui a todas? — A mulher assentiu, sem conseguir dizer. — Escolhemos o nome, montamos o quarto. Tudo parecia incrível, como é que você tinha um amante? Como fingiu tão bem dessa forma? — Nada foi dito por Luiza. — Aí agora, depois de anos, vem um maluco dizer que o MEU FILHO — bateu forte no peito. — É na verdade filho dele? Como é que você tem certeza disso?

— Eu só tenho. — Resmungou, pouco convincente.

— Você não tem nada nessa vida, Luiza. Não tem noção, não tem empatia, não tem amor, e muito menos certeza de alguma coisa. Eu sou o pai do Felipe, porque eu amo esse menino desde o primeiro dia, eu e a Sophia. Você é um fiasco como mãe, como esposa e como namorada. — Apontou pra Marlon no canto. — Você não vale nada.

— Amor, você está pegando pesado. — Sophia sentia pena dos dois, sabia que a irmã estava arrependida, mas não podia invalidar todo sentimento de seu noivo. — Vamos maneirar.

— Eu estou pegando pesado? — Gritou pra Sophia. — Ela me chifrou mais de um ano antes de resolver ir embora com o amante deixando para eu criar o filho dos dois. Voltou dos mortos e infernizou a gente a troco de nada e eu que to pegando pesado?

— Eu sei que está com raiva, mas... — Mas uma tentativa de apaziguar a situação.

— Raiva? Com raiva está o Marlon, eu quero matar essa vagabunda. — Disse com todo desprezo que tinha no peito.

— Pode ao menos tentar manter a calma? — Sophia pediu com a voz o mais doce que pôde e o viu suspirar.

— Desculpe, mas isso é impossível mediante a situação. — Trincou o maxilar encarando sua ex.

— Olha, Micael. — Luiza tentou começar uma frase, mas logo foi interrompida.

— Não vem com "olha, Micael" você não tem direito de dirigir a palavra a mim, ou de sequer falar o meu nome. — Esbravejou novamente. — Você podia simplesmente ter pedido a porcaria de um divórcio, podia ter dito na minha cara que amava outro homem. Qualquer coisa que você dissesse ia doer, mas com certeza seria melhor do que cometer um crime ao se passar por morta. — Ele secou as lágrimas que tinham caído durante o discurso. — Qualquer coisa.

— Eu não tinha coragem de pedir divórcio para você. Se eu fosse embora com ele e não desse certo...

— Ah, então se não desse certo você ia reaparecer dizendo que foi sequestrada e o otário ia cair aos seus pés, te levar pra casa e te sustentar com tudo do bom e do melhor, não é mesmo? — Debochou mais uma vez. — Você viveu anos comigo e não teve empatia ao ir embora e me deixar, você me destruiu Luiza, eu fiquei um lixo por meses, qualquer um nessa sala vai afirmar isso para você. Me senti culpado pelo acidente, por ser você e não eu, pelo Felipe perder a mãe que ele tanto amava. E você estava rindo de mim por ai com seu amante.  

InevitávelOnde histórias criam vida. Descubra agora