Capítulo 108

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Micael chegou irritado ao quarto e segurou o impulso de quebrar os móveis. Aquilo não faria bem a ninguém e ao menos essa noção ele ainda tinha.

O moreno tinha total certeza de que não era uma pessoa fácil de lidar. Longe disso, mas ter seu filho o desprezando tanto acabava com ele e o fazia pensar onde tinha errado.

Cada vez que Felipe o tinha chamado pelo nome era uma faca cravada em seu peito e Micael tinha total certeza de que o filho sabia disso e o fazia com mais vontade.

Micael tirou a camisa, se jogou na cama e colocou um fone nos ouvidos. A música era tão alta na tentativa de fazê-lo parar de pensar, de não conseguir ouvir seus próprios pensamentos.

Permaneceu de olhos fechados até sentir alguém mexendo em seu pé. Abriu seus olhos e se sentou, no susto.

— Não queria te assustar. — Felipe disse baixinho e um tanto sem graça. — Pai?

— Oi. — Respondeu com um tom de voz seco e tirou os fones do ouvido. — O que quer Felipe?

— Conversar com você. — Disse ainda receoso. — Pode ser?

— Não.

— Por que não? — Franziu a testa, não esperava aquela recusa.

— Por todas às vezes que eu tentei conversar com você e você não tinha tempo, ou simplesmente não queria. Agora sou eu que não quero, sou eu que estou ocupado demais pra você. Em outro momento a gente conversa. — Desviou os olhos para seu celular fingindo mexer em alguma coisa para que o rapaz saísse.

— Me desculpe por essas coisas. — Felipe disse baixo, atraindo mais atenção do pai. — Eu sei que te tratei mal e o senhor está no direito de ficar com raiva de mim, mas realmente sinto muito por tudo.

Micael ergueu uma sobrancelha ao ouvir o filho chamá-lo de senhor. Havia muito tempo que aquilo não acontecia.

— Pedir desculpas é muito fácil, Felipe.

Ele finalmente disse, com tanto recentimento na voz que mal conseguia conter.

— Não é fácil pra mim e o senhor sabe disso. — Continuou no assunto mesmo o pai a ponto de jogá-lo para fora do quarto a chutes. — Eu sei que o senhor está com raiva de mim por tudo o que já fiz e falei. Mas pai, tive três noites terríveis pra pensar no que estava fazendo com a minha vida.

— Eu não tenho raiva de você, filho. — Largou o celular pra lá e começou a dar atenção ao seu primogênito. — Eu estou chateado com tudo o que aconteceu.

— Passei dos limites muitas vezes com o senhor e eu prometo que não vai mais acontecer nada do tipo.

— Não pode prometer algo que talvez não consiga cumprir. — Deixou a cabeça cair de lado e o menino negou várias vezes com a cabeça.

— Olha, pai...

— Então quer dizer que eu voltei a ser o seu pai? — Cruzou os braços, ainda sem querer dar o braço a torcer muito rápido.

— Sabe bem que pra mim o senhor e a tia Soph é que são meus pais. Eu cresci com vocês.

— Quem esqueceu disso foi você.

— Por favor, pai. — Juntou as mãos, implorando. — Tudo o que eu quero é que fiquemos bem.

— Só que você passou muito tempo humilhando a minha paciência pra tudo ficar bem com um simples pedido de desculpas. — Felipe se sentou na cama, de frente ao pai, procurando palavras pra conseguir deixar tudo bem entre eles.

— E que tal me dizer o que preciso fazer pra gente se entender? — O rapaz disse com um sorriso e MIcael rolou os olhos, sabendo que a pose de mau não duraria mais muito tempo.

— Pode começar prometendo que nunca mais na sua vida você vai me chamar de Micael. — Disse sério, e o que era sorriso em Felipe, se transformou numa risada. — Não fiz piada não, se você fizer isso de novo, eu vou arrancar a sua língua.

— Tudo bem, pode deixar. — Prometeu com a boca fechada e botou as mãos na boca. Micael não cedeu a gracinha e se manteve sério.

— Em seguida, você me ouve quando eu disser que os merdinhas que você chama de amigos não prestam.

— Esse eu já estava planejando seguir sem que você precisasse citar. — Finalmente conseguiu tirar uma risadinha do pai e ficou feliz com aquilo.

— E por último, mas não menos importante, talvez até mais. Felipe, se eu pegar você fumando maconha outra vez, eu não respondo por mim. Eu serei preso por homicídio porque eu vou matar você de porrada! — Apontou o dedo no rosto do filho que tinha os olhos arregalados, surpreso com aquela ameaça. — Você entendeu?

— Que isso pai, precisa mesmo dessa ameaça toda? — Disse quando voltou a respirar. — Eu entendi. — Engoliu em seco mais uma vez. — E vou cumprir os três a risca.

— Então vem cá e me dá um abraço. — Micael sorriu de canto pro rapaz que se aproximou para abraça-lo.

Tinha tempo que não se abraçavam, Micael sorriu por cima da cabeça dele. Estava feliz com aquele breve abraço.

— Então estamos bem? — Perguntou quando finalmente se afastou e Micael gargalhou com certo deboche.

— Não, você tem dois meses de castigo pela frente. Da escola pra casa e de casa pra escola. Sem poder colocar o pé fora da rota, eu saberei.

— Mas pai...

— Mas nada, você achou que seria preso e ia sair ileso?

— Não sai ileso, eu fiquei naquele chiqueiro três dias. Isso é castigo suficiente, três dias foi o suficiente pra eu nunca mais querer chegar perto daquele lugar outra vez.

Micael apenas deu risada, não aliviou em nada o castigo.

— Estou sentindo um cheiro ótimo vindo da cozinha, vamos lá ver o que sua tia está aprontando.

Mudou o assunto e os dois desceram juntos, em silêncio, mas com um clima bom no ar. Chegaram á cozinha e Sophia estava colocando calda de brigadeiro num bolo de chocolate que havia ficado pronto em tempo recorde ou eles ficaram conversando muito mais tempo do que imaginavam.

Sophia ergueu o olhar e viu seu marido caminhando pra perto, sem camisa, somente com a calça social do trabalho.

— Ah, não faz isso comigo. — Sorriu maliciosa e Micael a acompanhou.

— Não fiz nada. — Deu de ombros ao parar diante dela.

— Que tal vestir uma camisa? Está gostoso demais pra ficar desfilando desse jeito pela casa. — Micael se aproximou e lhe deu um beijo nos lábios.

— Menos, por favor! — Felipe disse com tom de nojo quando o beijo se intensificou ainda mais. — Vocês estão juntos a vida toda, não sei como se aguentam ainda.

— Vai arrumar uma namoradinha, Felipe. — Micael disse abraçado á esposa. — Na sua idade eu já namorava sua mãe.

— E você considera isso uma coisa boa? — Ergueu uma sobrancelha pro pai. — Geralmente namorados de adolescência não dão certo.

— Claro, e você leu sobre isso onde?

— Adolescentes são imaturos demais pra manter um relacionamento que vá durar anos a fio. Eu prefiro manter a minha liberdade por enquanto. — Se virou e abriu a geladeira, pegando uma bela maçã e lhe dando uma mordida generosa.

— Não estou falando de casar e ter três filhos, estou falando de beijar na boca e transar. — Micael recebeu uma cotovelada da esposa e isso tirou um sorriso do sobrinho. — Ai, que isso? O menino tem desesseis anos tá na idade.

— É melhor que maconha, isso eu garanto. — Sophia deu risada, entrando na onda depois do último argumento do marido.

— Vocês são um péssimo exemplo, não vão poder brigar comigo quando minha futura namorada aparecer grávida.  

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