Capítulo 85

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— Oi, titia. — Felipe disse ao coçar os olhinhos e se levantar da cama pra abraçar a tia. — Oi, mamãe.

— Oi, príncipe! — Sophia disse fazendo carinho nos cabelos do menino. — Está muito cedo, você pode dormir mais um pouquinho.

— Não quero! — Respondeu e Sophia assentiu.

— Então vai lá no banheiro que a titia já vai te ajudar a escovar os dentes e tomar um banho pra começar o dia bem. — Ele saiu correndo do quarto.

— E o Micael? — Luiza perguntou baixinho.

— Não dormiu, mas tenho certeza de que tudo vai ficar bem.

— Sinto tanto por isso, nunca foi minha intenção. — Luiza se defendeu e Sophia a olhou incrédula.

— Você achou que ele ficaria como quando descobrisse toda sujeira que você escondia?

— Pra ser sincera eu esperava que ele nunca descobrisse. Que ficasse com a imagem que sempre teve do nosso casamento, essa história do Felipe eu sempre soube que seria muito dolorosa pra ele.

— Você se lembra que jogou isso na cara dele há alguns meses?

— Me lembro, mas eu estava irritada, não foi por mal.

— É, você vai ter que dar um tempo pros dois assimilarem tudo o que aconteceu aqui, Luiza. Insistir em conversar agora, vai ser muito pior.

— Essa história de tempo é tão dolorosa. — Confessou com os olhos cheios de lágrimas que estavam prestes a transbordar. — Eu vinha finalmente conseguindo conquistar o amor do meu filho, estávamos tão próximos! — Fungou, mas ainda tinha as lágrimas sobre controle. — Minha vida finalmente estava voltando pro eixo desde que decidi largar tudo e fugir com o Lucas. Não acredito que consegui estragar tudo de novo.

— Não se culpe tanto, mentiras sempre são descobertas. — Sophia deu de ombros, mas se sentia triste pela irmã e ainda mais por Micael.

— Segura sua princesa. — Esticou a bebê pra mãe. — Eu vou ajudar meu filho uma última vez no banheiro, sabe-se la quando poderei vê-lo novamente. Dessa vez eu preciso me despedir direito e dizer que eu o amo.

— Vai sim. — Sorriu e viu a irmã sair de perto.

Sophia se sentou na cama de Felipe e começou a amamentar sua bebê, fugindo um instante da realidade que vivia. Os dois demoraram para voltar, a pequena dormiu mamando e então logo as duas estava encolhidas na pequena cama de Felipe, tirando um cochilo.

Quando a loira abriu os olhos, viu Felipe a encarando com um sorriso sapeca.

— Por que está dormindo na minha cama, titia? — A loira coçou os olhos e se sentou. Emily ainda dormia tranquila na cama do irmão.

— Acabei cochilando esperando você voltar do banheiro. — Bocejou e colocou a mão na frente da boca. — Já tomou café da manhã?

— Sim, mamãe me deu antes de ir embora. — Mudou o tom pra triste. — Titia, minha mãe disse que não sabia quando voltaria, será que ela foi morar com papai do ceu de novo?

— Não, meu amor. — Se apressou a dizer. — Sua mãe vai ficar na casa da vovó, qualquer coisa se você sentir muitas saudades, a titia te leva lá. — O menino assentiu, pouco empolgado. — Seu pai já acordou?

— Não, vocês ficaram brigando até tarde com a minha mãe.

— Não fale assim, o assunto foi sério. E você devia estar dormindo e não ouvindo a conversa dos adultos! — Repreendeu o pequeno, mas não sabia bem o que dizer.

— Vocês estavam todos gritando, eu fiquei com medo. — Confidenciou a tia. — Ouvi aquele amigo do papai dizer que é meu pai. — Sophia arregalou os olhos, ainda mais confusa sobre o que dizer ao pequeno. — Meu pai disse várias vezes que eu não sou filho dele. E agora titia? Ele não me ama mais?

— Claro que ama, não fala isso! Seu pai sempre vai te amar!

— Mas ele disse que não é meu pai. — Insistiu. — Eu ouvi ele gritando com muita raiva. Titia, eu não quero aquele moço como pai. — Começou a chorar, deixando Sophia ainda mais desesperada. A loira se levantou e pegou a bebê no colo.

— Senta um pouquinho na sua cama. — O menino obediente se sentou. — A titia já volta.

Mas ela não voltaria.

Saiu apressada até seu quarto e fez o que estava com pena de fazer, sacudiu MIcael até que ele acordasse, confuso. — Amor, você precisa levantar. — Tinha um tom urgente que fez Micael ficar alerta rapidamente. — Precisa conversar com Felipe.

— O que foi que aconteceu? — Se sentou e coçou os olhos. — Tenho que trabalhar, certeza que estou atrasado. — Disse sem ter a menor noção do horário.

— Seu pai disse que pode tirar o dia de folga. — Ele assentiu, realmente não tinha cabeça pra trabalho. — Agora vai conversar com o Felipe, por favor. Toda a briga de ontem foi ouvida por ele, está apavorado, precisa de você!

— Mas que merda! — Levantou num pulo e correu até seu menino. Podia suportar tudo, menos vê-lo sofrendo. Não tinha quem dissesse que o menino não era seu filho.

**

Micael entrou no quarto com medo do que ia encontrar. Aquela conversa não seria fácil, mesmo o menino tendo apenas cinco anos, aquilo estava fora de seu controle.

Felipe estava na cama, encostado na parede e com um olhar triste, um tanto confuso. Micael agradeceu mentalmente por não haver lágrimas.

— Bom dia, filho. — Sorriu e caminhou pra se sentar ao seu lado. O menino olhou o pai com suspeita. — Sua tia falou que você ouviu a conversa ontem... — Começou sem jeito, não sabia bem o que dizer.

— Vai mandar eu ir embora também? — Micael franziu a testa. Felipe era tão esperto que as vezes ele se esquecia que tinha apenas cinco anos.

— Lógico que não! — Disse rápido, mas o menino não pareceu acreditar. — Você é meu filho.

— Eu ouvi você gritando pra minha mãe que eu não sou seu filho. Isso é verdade? — Micael suspirou, pensando se mentir era uma boa ideia. Acabou optando pela verdade, mesmo que seja confusa para ele, era melhor.

— De certa forma é verdade. — O menino começou a chorar, se jogou no travesseiro e recebeu carinho de Micael. — Mas não significa muito.

— Eu não quero que ele seja meu papai. — Micael puxou o pequeno para seu colo e o apertou em um abraço. — Não quero outro papai.

— Você sempre vai ser meu filho, sempre vai estar comigo. — Manteve o menino abraçado. — Aquele cara não vai chegar perto de você.

— Pensei que estivesse bravo comigo. — O menino apertou mais o pai. — Que ia me mandar ir embora.

— Eu te amo, filho. Nunca se esqueça disso!

— Eu te amo papai!

— E vê se para de ouvir conversa de adulto. — Fez cosquinha no pequeno que se contorceu dando gargalhadas.

— Foi sem querer. — Se defendeu quando o pai parou de lhe atacar.

— Eu sei, filho. — Passou as mãos no cabelo do menino, os bagunçando. — Vamos tomar café?

— Minha mãe me deu café da manhã. — Contou e Micael se segurou pra não fazer uma careta.

— Tudo bem, então nesse caso eu vou tomar danone sozinho. — Saiu correndo do quarto em direção a cozinha. O menino correu atrás dando risada e dizendo repetidas vezes "danone eu quero também."

Sophia que observava a cena com Emily, do sofá, sorriu com amor a cena dos dois correndo pela casa.  

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