Capítulo 76

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— Então quer dizer que vocês finalmente se resolveram? — Marlon perguntou quando estavam todos à mesa de jantar, não tinha um tom agradável. — Já não era sem tempo.

— Sempre estivemos bem. — Micael respondeu seco, sem nem olhar para o irmão.

— Aparentemente quem tem algo pra resolver aqui são vocês dois. Aconteceu alguma coisa? — Sophia alternou olhares entre os dois que apenas negaram com a cabeça. — Gente, fala sério, será que podemos ser uma família normal por uma noite?

— Não tem nada pra resolver, estamos todos bem. — Micael insistiu e Marlon suspirou ao largar seus talheres na mesa sem qualquer ato de educação.

— Talvez o fato de você ficar toda hora buzinando no meu ouvido que Luiza foi sua esposa seja algo pra gente resolver. — Marlon finalmente falou e Sophia viu o patriarca da família respirar fundo e fechar os olhos, cansado das brigas que envolviam os filhos.

— Eu nem falei nada demais, você se doeu atoa. — Deu de ombros e olhou pra sua mulher. — Estava irritado com o fato de você estar me tratando mal e o garanhão ali veio me dar conselhos amorosos. JUSTO ELE. — Micael bufou ao encarar o irmão.

— Chega! — Jorge finalmente se pronunciou. — Eu não quero mais briga á mesa, não aguento mais.

— Ninguém está brigando aqui pai. — Micael tratou de responder o pai e viu o irmão rolar os olhos.

— Você é um escroto, às vezes parece que se arrependeu. — Marlon jogou pronto pra causar discórdia. Micael ficou em silêncio, com certeza não estava arrependido, mas tinha certeza de que aquele tempo em silêncio o fez parecer culpado.

— Não viaja. — Foi apenas o que disse e Marlon debochou, tendo certeza que estava expondo o irmão.

Alheia a tudo o que acontecia á mesa, Luiza parecia querer fugir dali. Ninguém prestava atenção nela, então não viram quantas vezes a mulher checou seu celular por debaixo da mesa. Sua respiração estava aflita e os olhos pareciam preocupados, o tempo todo olhando pra porta da entrada como se esperasse alguém.

— O que foi, Luiza? — Sophia desviou a atenção da briga infantil de Marlon e Micael por um instante. — Você me parece nervosa.

— Estou bem. — Colocou o guardanapo no colo e então pegou os talheres, suas mãos tremiam e Sophia viu antes que ela disfarçasse.

— Não parece bem. — Insistiu e então a atenção de todo mundo voltou pra ela. A mulher suspirou e largou seus talheres no prato fazendo um barulho alto, como seu namorado tinha feito há pouco. — Luiza!

— Me deixa em paz. — Disse alto e saiu da mesa sem comer e sem pedir licença, deixando todo mundo surpreso com tal atitude. Sophia ficou um tempo olhando por onde a irmã se foi e então com um suspiro se levantou pra ir atrás.

— Que foi? — Perguntou a Micael quando o mesmo segurou seu pulso.

— Vai atrás dela? — O moreno perguntou surpreso com aquela atitude. — Tem certeza disso?

— Claramente ela não está bem e como ainda é minha irmã, acho que eu devo conversar com ela. — Micael assentiu e largou seu braço sem dizer nada. Observou sua mulher sumir casa adentro e logo voltou a discussão infantil com o irmão, os dois ainda iam enlouquecer o pobre Jorge.

**

— Vai, me conta. — Sophia disse ao invadir o quarto de Marlon e encontrar a irmã roendo as unhas que tanto preservava, andando de um lado pro outro olhando para o celular. — Diz qual é o problema.

— Não é da sua conta. — Disse ao tirar os dedos da boca e encarar a irmã por meio segundo antes de voltar ao aparelho telefônico. — Já disse pra me deixar em paz.

— Deixa de ser grossa, me atacar não vai te ajudar em nada! — Insistiu mais uma vez. — Dá pra ver de longe que tem algo sério ai, deixe-me ajudar. — Apontou pro aparelho e Luiza encolheu os ombros, estava prestes a chorar, nem parecia que tinha chegado tão feliz naquela casa hoje.

— Você é mulher do Micael, não vai me apoiar. — Deixou Sophia ainda mais curiosa com o que estava escondendo. — Ninguém vai me apoiar nisso, pra falar a verdade.

— Luiza o que diabos você está escondendo? Se tem a ver com o Micael eu quero saber! — Insistiu e observou sua irmã sentar na cama com a cabeça nas mãos. — Conta comigo, você não merece, mas é minha irmã.

— O Micael está envolvido na história, mas minha preocupação não é com ele. Eu amo o Marlon, Sophia, você pode até não acreditar, mas eu amo. — Estava histérica, lágrimas começaram a rolar por seu rosto e Sophia se sentou na cama, passou um dos braços pelos ombros da irmã numa tentativa de apoia-la com aquele abraço lateral.

— Do começo, Luiza. — Pediu e a mulher balançou a cabeça, tentando se acalmar antes de comerçar. — Vou prometer não contar pro Micael se realmente não for nada que interfira em nossa vida. — Luiza fungou e assentiu, antes de passar a mão no rosto e começar a história.

— Eu realmente fui embora com outro homem. — Admitiu chorando ainda mais. — Depois do acidente, eu fugi.

— Todo mundo sabe disso, Luiza. Ninguém é bobo. — Passou a mão no rosto dela, tentando secar suas lágrimas. — Você já jogou isso na cara dele.

— O que ninguém sabe é que o outro homem é o Lucas. — Fez uma pausa dramática e Sophia permaneceu em silêncio, aguardando que ela explicasse de quem se tratava. — Lucas era um amigo do Micael na época da faculdade. Os dois cursaram na mesma instituição e foram apresentados por amigos em comum.

— Está me dizendo que traiu o Micael com um amigo dele? — Sophia abriu a boca em surpresa ao vê-la assentir. — Como você teve coragem?!

— Não me orgulho nem um pouco disso, se vale de algo. — Sophia não respondeu, afinal, não valia de nada. — Eu era uma tola.

— Pra que você voltou, Luiza? — Sophia perguntou num tom baixo e calmo, querendo saber de toda a história antes que a irmã desistisse de falar sobre. — Conta tudo de uma vez, eu tenho certeza que essa história fede.

— Eu fui dada como morta e não podia trabalhar. Estavamos em uma cidade escondida, bem zona rural os trabalhos não eram grandes coisas e então os problemas começaram a aparecer.  

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