Ligou o carro e foi até o escritório, era o único jeito. Não demorou a chegar, felizmente naquele dia, o trânsito estava bom.
De cara, Sophia encontrou com Marlon conversando empolgado com uma elegante mulher. A loira supôs que era a nova advogada que tinha chegado na equipe pouco antes. Micael havia contado a ela, Anna, seu nome.
— Sophia? — Ele a viu e franziu a testa.
— Quero falar com o Micael. — Forçou a voz a sair. — Preciso falar com ele.
— Eu te levo lá. — Anna ficou pra trás, esquecida. Nem foram apresentadas, Marlon viu em seus olhos a urgência da situação e nem ligou pra formalidades naquele instante.
Marlon indicou a porta de madeira com uma placa de metal nela onde se lia: Micael Borges, Advogado Cívil.
A mulher não bateu, apenas abriu a porta e invadiu vendo o marido sentado atrás de sua mesa lendo alguns documentos, nem ergueu sua cabeça, achando que a interrupção seria do irmão inconveniente.
— Já disse trocentas vezes pra você bater na porta, Marlon. — Sua voz era hostil e Marlon soltou uma risadinha mal disfarçada.
— Eu não resisto. — Marlon disse bem humorado e Micael enfim ergueu seu olhar, encarando sua esposa. — Sophia quer falar com você.
— Ela pode entrar sem bater, você não! — Brigou novamente e sorriu pra mulher ao se levantar e caminhar pra perto dela. — Aconteceu alguma coisa? Você não me parece muito bem!
— Felipe sumiu. — Ele parou encarando um instante enquanto assimilava aquilo. — Lucas disse que não aparece em casa há três dias.
— E como foi que você falou com o Lucas?
— Eu fui até lá pra saber do Felipe. Já faz um mês e algo dentro de mim dizia que tem algo errado. Por mais revoltado que ele estivesse, você sabe que nunca passou a noite fora de casa. Aconteceu alguma coisa! — As lágrimas rolaram e Micael a puxou para um abraço, encarando seu irmão por sobre a cabeça da esposa.
— Se acalma, vamos descobrir onde ele está. — Manteve a voz calma. — Primeiro precisamos descartar delegacias, hospitais e... o IML. — Sophia chorou ainda mais. — Senta, trarei um copo de água e farei algumas ligações. Se não o encontrarmos nesses três, vamos a polícia comunicar o desaparecimento.
Assim foi feito, a loira se sentou na confortável cadeira de Micael e logo ele entrou com um copo de água.
Micael ligou para o IML, Marlon para o hospital e Sophia para delegacias.
— Ninguém com a descrição dele. — Micael comunicou e Sophia soltou a respiração, nem ao menos tinha percebido que prendia.
— Liguei para os três hospitais mais próximos daqui e também não tem ninguém com a descrição dele, nenhum acidente envolvendo skatista nem nada.
— Aqui o rapaz que atendeu está me cozinhando. — Sophia disse ao estender o telefone pra Micael. — Eu devia ter ficado com os hospitais.
— Perai, vou resolver.
Micael tomou a frente e menos de cinco minutos depois, veio a confirmação, Felipe estava lá. A ligação foi encerrada e ele encarou sua esposa em silaencio.
— Encontrou?
— Felipe Abrahão Borges foi preso sexta à noite por tráfico. — Contou com uma voz monótona e Sophia se levantou da cadeira num pulo.
— Tráfico? Ele não é traficante! — Se apressou a defender e Micael olhou para o irmão.
— Se ele estava com uma quantidade grande demais para ser considerada de uso pessoal, eles podem e devem enquadrar como tráfico ou posse com intenção de venda. — Marlon explicou com delicadeza. — Mas nós sabemos que não é, nós o conhecemos.
— Conhecemos? — Micael ergueu uma sobrancelha pro irmão.
— Não pode achar que o seu filho virou um traficante. — Sophia bateu as mãos na mesa, irritada com a calma e a desconfiança do marido. — Fala sério, precisamos ajudar. Não podemos deixar o menino lá sozinho.
— Ele tem dezesseis, não vai parar num presídio, se é o que te preocupa. — Respondeu ainda no mesmo tom monótono. — Vou falar com o meu pai, ele tira o Felipe de lá em um segundo.
Sophia não teve tempo de responder, Micael já estava saindo da sala com Marlon e ela é claro que não podia ficar pra trás. A porta da sala de Jorge estava aberta e Micael deu leves batidinhas antes de colocar a cabeça pra dentro e receber permissão do pai para entrar.
— Os três juntos e com essas caretas com certeza não vieram me trazer boas novas. — Ele tirou o óculos e o colocou sobre o teclado do notebook que usava. — Falem de uma vez, o que aconteceu?
— Precisamos de ajuda, Felipe está preso. — Micael contou e viu o pai arregalar os olhos, nem se tivesse mil vidas ia imaginar que fosse esse o problema.
— Onde? Há quanto tempo? — Se levantou, pegou o celular e o óculos e saiu. — Preciso fazer algumas ligações.
— Está na 63º DP, aqui perto, hoje é o terceiro dia.
Jorge relaxou e isso fez Sophia relaxar junto. Se ele que era o advogado criminal estava tranquilo, ela também podia se dar esse luxo. Confiava em seu sogro.
— Vou fazer algumas ligações e entrar com pedido de habeas corpus. — Comunicou e saiu da sala, sendo seguido pelos três.
— Eu quero ir até lá ver o Felipe. — Sophia chamou sua atenção e todos a olharam.
— Não é uma boa ideia. — Ele engoliu em seco e reforçou. — Você não vai gostar do que verá.
— Eu. Quero. Ver. O. Felipe. — Disse pausadamente e Micael suspirou, sabia que não ia conseguir tirar aquilo de sua cabeça.
Jorge foi em seu carro, Sophia deixou o dela no estacionamento e foi junto com seu marido e Marlon ficou no escritório, precisava de algum responsavel lá.
— Não dá pra ir mais rápido? — Sophia pediu após mais de dez minutos em silêncio naquele carro. — Você parece uma lesma.
— Não precisa ter pressa, afinal ele está preso, duvido que vá a algum lugar. — Deu de ombros e Sophia o olhou irritada. — Posso saber por que está me olhando como se tivesse brava comigo?
— Gostaria que se preocupasse com seu filho. — Ela o acusou e ele virou os olhos. — É sério, o menino está preso e o que você faz é rolar os olhos?
— Não joga para mim a culpa de ele estar preso, tudo isso são as consequências dos atos dele. Não se acha adulto? Então tem que aguentar!
— Você sabe que isso é horrível, não sabe? Parece que você está feliz que isso aconteceu.
— Feliz não estou, mas se eu disser que é uma surpresa que tenha acontecido, estarei mentindo descaradamente. Alguma coisa tinha que acontecer pra ele cair em si.
— E se ele não cair em si?
— Vamos pensar no agora, é lógico que eu amo e me preocupo com Felipe, mas não posso ficar desesperado, eu vejo isso todos os dias, Sophia. Desespero não ajuda em nada.
— Só queria que você demostrasse um pouco de preocupação.
— Ele vai ficar bem.
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Inevitável
RomanceMicael e Luiza são um casal harmonioso e feliz. Tem Felipe, seu filho de oito meses e os três vivem numa boa casa, localizada no Rio de janeiro, em Niterói. Tudo muda após um trágico acidente, que deixa o rapaz viúvo, com um filho pra cuidar. A aju...