Capítulo 106

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Sophia chorou com as mãos na barriga ao se lembrar da perda do filho.

Quando Emily tinha pouco mais de um ano, ela acabou engravidando novamente e apesar da surpresa, o bebê foi bem vindo e amado por todos no instante da descoberta.

Estava sendo uma gravidez normal até o sexto mês. Já haviam descoberto que seria um menino e algumas toalhas borbadas com o nome Anthony ainda estavam em seu guarda roupa, bem longe dos olhos.

Ela deixou o quarto de Felipe e foi até o seu, pegou a cadeira da escrivaninha e então no fundo do armário, bem no alto, achou a sacola antiga e bem amarrada.

Se sentou na cama para abriu e chorou ao ver a toalha de banho bordada com o nome do filho que nunca chegou a nascer. Um macacão de leãozinho, e um par de sapatinhos brancos, foi tudo o que se permitiu guardar daquele tempo.

Após iniciar o sexto mês de gravidez, ela foi a uma consulta de rotina mensal e ouviu com choque a médica dizer que seu filho não tinha mais batimentos cardíacos.

Berrou e gritou dizendo que era impossível, o tinha sentido mexer há pouco tempo, mas a médica insistiu em dizer que o bebê já não estava mais vivo.

Após isso tudo o que se teve foi desespero e dor.

Sophia foi encaminhada para alguns exames que confirmaram que a gravidez havia sido interrompida.

Procedimentos dolorosos seguiram depois que ela tomou os remédios para expelir o feto, mas a dor física nunca se comparou com a dor emocional.

Estava arrasada por perder seu filho e nada conseguiria ajudá-la a passar por aquilo.

Sophia teve o apoio de Micael e de toda a família durante o período de luto, se consultou com psicólogo e teve até mesmo algumas consultas com psiquiatra que receitou antidepressivos a ela.

Quando finalmente conseguiu superar, meses depois, juntou tudo o que tinha ganhado e comprado e deu pra irmã, que na época estava grávida de seu sobrinho.

E quando recuperada, Sophia passou a amar ainda mais Felipe, a realmente transformá-lo em seu filho querido. Ele representava Anthony, era algo pra ela se apoiar e conseguir se livrar de toda dor que sentia ao falar do filho perdido.

Anos depois, quando ficou grávida novamente, tinha a mais absoluta certeza de que era um menino. E quando foi informada de que não era, desabou.

Maiara nasceu e Sophia voltou aos antidepressivos, consultas com psiquiatra e com psicólogo também. Não tinha forças pra sair da cama, não cuidava de sua filha nem ao menos a amamentava. Micael foi um marido ainda mais incrível ao se desdobrar pra cuidar da esposa, da recém nascido e ainda ter que trabalhar.

Por conta disso, Maiara e Felipe são tão apegados. O mais velho dos filhos ajudava Micael com a irmã sempre que podia.

Hoje, Sophia ama sua filha, mas na época não conseguia olha-la sem imaginar Anthony. Desde que havia conseguido superar toda essa história, o assunto virou tabu dentro de casa.

Até Micael trazer a tona agora.

Sophia se levantou e passou as mãos no rosto antes de sair rumo ao quarto da filha mais velha. Não bateu na porta e acabou dando um susto na menina que estava de bruços na cama mexendo em seu celular.

— Não custa nada bater! — Bloqueou o aparelho e encarou a mãe com certa raiva. — Apesar de você não gostar, eu tenho direito a minha privacidade.

— Tem, me desculpe. — Pediu baixo surpreendendo a filha, que olhou bem em seu rosto notando que a mãe esteve chorando. — Precisamos conversar.

— Não quero conversar, é capaz de eu sair dessa conversa com mais de um ano de castigo.

— Deixa de ser respondona, Emily. Isso me irrita tanto e você sabe bem. — Caminhou pra se sentar ao lado da filha.

— Eu tenho direito de falar também, senão não é conversa, é monólogo. Você precisa respeitar a minha opinião sobre os assuntos.

— Acontece que ser abusada não é ter opinião. Olha o jeito que você fala comigo? Filha, você tem nove anos, é uma criança e me deve respeito.

— Tenho quase dez.

— Ok, quase dez. Isso não muda o fato de que não deve ser abusada com a sua mãe. — Sorriu pra filha. — Mas eu não vim até aqui brigar ainda mais com você, vim dizer que te amo e pedir desculpas pelo castigo, foi exagerado.

— Uau, meu pai realmente tem poder de persuasão — A menina brincou enquanto sorria.

— Seu pai é um chato, mas tem razão de vez em quando. — Sorriram uma pra outra. — Eu não quero você sendo abusada com ninguém, Emily, ou seu pai não te salvará de um ano de castigo. Estamos entendidas?

— Sim, me desculpe por ter falado do Lipe. Eu sei que ele é nosso irmão. As vezes fico com ciúmes da antenção que você e meu pai dão a ele, mesmo que ele não se importe com vocês.

— Seu irmão está passando por uma fase complicada e precisa muito do nosso apoio, de todos nós. Vamos esquecer o que aconteceu hoje, tá bem?

— Eu te amo, mãe.

— Também te amo, minha linda. — Um abraço e um beijo na testa da menina selaram a paz.

Sophia e Emily desceram de mãos dadas e encontraram Micael com Maiara no sofá, assistindo a um filme.

— O que estamos assistindo? — Sophia perguntou ao se sentar do lado do marido.

— Frozen, pela décima quinta vez já. — Respondeu com um rolar de olhos e Maiara olhou o pai de cara feia.

— Não pode falar mal da Frozen papai.

— Não falei meu amor, eu amo a Elza.

— Elza não, Frozen. — Corrigiu com ferocidade e arrancou risada dos pais.

— É a mesma pessoa, pirralha. — Emily implicou com a irmã. — Podíamos ver alguma coisa diferente, não aguento mais esse filme idiota!

— Não! — A menina disse alto, com olhos arregalados. — Eu e papai estávamos aqui primeiro.

— Já disse muitas vezes, parem de brigar pela televisão. Que coisa chata! — Micael protestou e as duas se encolheram. — Vamos terminar de ver a Frozen, depois a gente escolhe outra coisa, pode ser meninas?

— Pode. — As duas responderam emburradas e Sophia soltou uma risadinha perto do ouvido de Micael, que a encarou curioso.

— Você é o melhor pai do mundo.

Ele sorriu e iniciou um beijo casto que foi interrompido por barulho de nojo vindo das duas meninas.

— Eca, que nojo! Podem prestar atenção no filme? — Emily pediu e os dois concordaram.

Curtiram o momento em família, mesmo que naquele momento faltasse um integrante.  

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