Uma semana depois a casa já havia sido anunciada com a ajuda de um corretor e inclusive tinham sido informados de um possível comprador, o que não tinham ainda era pra onde ir. Aquilo estava tirando o sono de Micael, que sempre tentava passar tranquilidade pra sua mulher.
— Ouviu, Micael? — Jorge estava sentado de frente á Micael, tagarelando incansavelmente sobre um problema burocrático que tinha ido resolver mais cedo. — Filho?
— Hã? — Finalmente voltou a atenção ao pai. — Ouvi, claro.
— Então repete. — Desafiou com uma sobrancelha erguida.
— Dá um tempo, pai. — Suspirou e mordeu a tampa da caneta que tinha entre os dedos. — Eu tenho tanta coisa pra pensar.
— Estou aqui falando a beça e você não faz questão nem de fingir que está me ouvindo. — Cruzou os braços e já tinha percebido a falta de atenção do filho novamente. — O que aconteceu, filho?
— Apareceu alguém interessado na minha casa. — Deixou a caneta na mesa e se recostou num suspiro. — Eu ainda não vi um lugar pra ir com a Sophia e o Felipe. Tinha pensado em alugar algum lugar, mas terei que comprar todos os móveis novamente, e ai quando tivermos nossa casa, vamos ter que desmontar tudo pra levar, quero dizer... ah, eu nem sei o que quero dizer.
— Não é o fim do mundo, móveis podem ser montados e desmontados, filho. — Jorge deu de ombros sem entender o real problema.
— Estragam.
— Não se for só uma vez, ora filho, fale de uma vez qual é o problema?
— Eu não quero levar a minha família pra morar de aluguel. — Jogou limpo. — Não que haja algo errado nisso, mas não queria pagar por algo que nunca será meu, minha vontade era pegar o dinheiro da casa e dar entrada em outra, bem maior e melhor.
— Por que não vão lá pra casa? — Jorge perguntou e recebeu um olhar surpreso do filho.
— Talvez porque você não tenha oferecido. — Respondeu com deboche.
— Talvez porque você não tenha me dito que precisava de um lugar para morar. — Disse no mesmo tom que o filho e os dois deram risadas. — Você não devia nem ter esperado eu oferecer, a minha casa está sempre de portas abertas pra você, filho.
— É, mas não sou eu sozinho, eu, Felipe, a Sophia e a bebê que vai nascer. Já se imaginou morando com um recém nascido que chora a noite toda?
— Para de complicar, são meus netos e eu os amo, você sabe. Vou adorar ter vocês lá em casa enquanto não ajeitam a vida. — Micael sorriu com as palavras do pai. — Está perdendo noites de sono atoa.
— Eu vou conversar com a Sophia, afinal, não posso tomar essa decisão sem ela.
— Claro que sim, vocês tem outras opções, ir morar na casa da Branca com a Luiza, ou então quem sabe ir morar debaixo de uma ponte.
— Até parece que uma dessas ai é aceitavel. — Observou a risada do pai.
— Bom, eu já ofereci, agora foca no seu trabalho, não vai ser legal além de um sem teto você virar um desempregado. — Implicou com o filho uma última vez antes de sair da sala rindo.
**
— Amor, pode me trazer a toalha? — Micael gritou do banheiro social. Sophia ouviu da sala e foi se arrastando escada acima para pegar uma toalha para ele. — Muito obrigado. — Sorriu e lhe deu um selinho, ainda nu e pingando no tapete do banheiro. — Eu achei que a minha estava aqui, não tinha reparado que não estava.
— Eu botei na roupa suja, se eu não fizer isso, você nunca tira sua toalha dai.
— Mas amor, se quando eu uso ela, estou limpo, porque tenho que lavar? — Questionou como uma criança e Sophia apenas deu risada, desistindo daquela conversa e o observando. Fechou o sorriso e soltou um suspiro ao sair do banheiro rumo ao quarto, sendo seguida pelo noivo. — O que foi? Você mudou do nada.
— Você ai todo gostoso e eu um porca de tão gorda. — Se sentou na cama pra observar Micael colocar sua roupa.
— Não fala isso, você está linda, continua gostosa. — Elogiou, mas fez com que a mulher o olhasse brava. — Eu estou falando a verdade, continuo te achando linda. Deixa de ser boba, você sempre foi linda e agora esperando a nossa princesa, conseguiu ficar ainda mais, não sei como é possível. — Depois de vestir o short, caminhou para sentar ao seu lado e passou a mão pela barriga avantajada.
— Você deve ver um monte de mulher linda o tempo todo por ai. — Resmungou e saiu de perto, já com lágrimas nos olhos. — Você já me traiu, né? Eu não tenho nem como ficar com raiva, olha pra mim, horrorosa!
— Para de falar besteira! — Tentou dizer sério, mas acabou dando risada da situação. — Amor, eu só tenho olhos pra você, nunca vou te trair com ninguém, ainda mais grávida. — Se levantou e foi até ela. — Amo você, entendo a sua crise, mas eu continuo te enxergando como a mulher mais linda e gostosa de todo o mundo! — Lhe deu um beijinho. — Deixa disso...
— Me desculpe... — O abraçou forte e recebeu um beijo no topo da cabeça. — Eu te amo muito.
— Você não tem culpa, meu amor. — Sorriu. — Tenho uma novidade, preciso saber o que acha. — Mudou de assunto e puxou a mulher até a cama, para que se sentasse. — Meu pai convidou a gente para ficar na casa dele por enquanto.
— E o que você disse? — Sophia perguntou curiosa e o observou dar de ombros.
— Que antes precisava conversar com você. — Sophia sorriu. — Você precisa se sentir a vontade no lugar onde mora, eu não posso concordar sem uma conversa antes.
— Mas amor, eu adoro seu pai, quem não gosta é você. — Ele bufou ao se lembrar que as vezes o excesso de piadinhas que o pai fazia o irritava.
— Se você estiver bem, eu aguento meu pai, afinal, aguentei o velho por mais de vinte anos. — Sophia balançou a cabeça em negativa. — Só gostei da oferta porque ao invés de gastar uma fortuna com aluguel, já é um dinheiro a mais que a gente junta pra dar entrada na nossa casa dos sonhos.
— Por mim, tudo bem. — Ele sorriu, mesmo que soubesse que Sophia não criaria muito caso, precisava daquela conversa antes. — Por que é que não pega logo a sua metade do dinheiro e dá entrada numa casa de uma vez?
— Porque eu quero uma super casa com no mínimo três quartos, um belo quintal pras crianças brincarem, escritório, piscina e área gourmet pra gente poder chamar os amigos... Enfim, eu quero uma casa boa e com o valor que vamos pegar dessa casa não dá.
— Precisa mesmo disso tudo? — Sophia deu risada da empolgação do marido. — Vivemos sem isso tudo e estamos bem, não tínhamos pretensão de mudar. A gente pode até ver uma casa mais simples de dois quartos e as crianças ficam juntas. — Micael a olhou como se tivesse dito o maior de todos os absurdos.
— Pelo amor de Deus, a gente não tá tão ruim a ponto de deixar as crianças dormindo no mesmo quarto. — Sophia deu risada do chilique. — Quero dizer, se fosse um menino tudo bem, mas quando crescerem, vão querer privacidade. Felipe e o irmão podem ficar juntos sem problemas, mas a Emily precisa do quarto dela.
— Felipe e o irmão? — Questionou prendendo uma risada. — Você tem um terceiro filho com outra mulher por ai?
— Até parece! — Colou a testa na de Sophia. — Estou falando do nosso caçulinha.
— Ei, companheiro! — Sophia se afastou e cruzou os braços. — A menina nem nasceu e você já pretende me engravidar de novo? Vamos com calma, querido.
— Claro amor, tudo o que você quiser, no tempo que você quiser. — Sorriu e se levantou pra dar um beijo em sua mulher.
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Inevitável
RomanceMicael e Luiza são um casal harmonioso e feliz. Tem Felipe, seu filho de oito meses e os três vivem numa boa casa, localizada no Rio de janeiro, em Niterói. Tudo muda após um trágico acidente, que deixa o rapaz viúvo, com um filho pra cuidar. A aju...