— Eu sei que errei, admito que exagerei, mas poxa vida, precisa mesmo disso tudo? — Sophia estava no quarto da filha, que ainda dormia tranquilamente no berço, mas com certeza não por muito tempo, visto o modo como estava alterada ao telefone.
— Será que pode se acalmar? — Luiza estava do outro lado da linha, na casa de Jorge, no banheiro em busca de privacidade pra falar com a irmã. — Saímos daí e dissemos pra você conversar e não brigar com ele.
— Vai dizer que eu estou errada? Ele estava sim agindo de modo muito suspeito, não é justo que eu seja crucificada sozinha nessa. — Trincou o maxilar.
— E ele te contou da surpresa é?
— Você devia ter contado! Você e minha mãe viram como eu estava transtornada com essa situação, podiam ter me acalmado!
— Nada disso, eu não podia pagar de fofoqueira, minha situação com o seu marido já é muito complicada pra eu piorar por causa disso. — Sophia soltou um ruído de raiva. — Para, você ia amar a surpresa se não tivesse estragado.
— O pior é que eu sei. — Respondeu com um tom choroso. — Confesso que até estou um pouco surpresa com o fato de você ter sido incluída no grupo.
— Marlon obrigou ele a me colocar. — Soltou uma risada que divertiu Sophia do outro lado da linha. — Tenho certeza que rolou ameaças de te contar a verdade se ele não me adicionasse.
Luiza estava tão descontraída, parecia muito mais jovial depois que o peso do segredo saiu de seus ombros.
— Ele mandou uma mensagem agora há pouco dizendo que vai desfazer o grupo.
— Ou seja, não vai mais ter casamento. — Resmungou e do outro lado da linha a irmã prendeu uma risada mediante o drama.
— Micael ama você, ele te conhece e sabe como você é uma ciumenta, não precisa se preocupar, garanto que ele não está nem um pouco surpreso com essa desconfiança e não vai desistir de casar com você por conta dessa bobeira. Só está chateado com o que você disse e tem direito disso, dá um tempo pra ele, tudo vai ficar bem.
— Senti sua falta. — Sophia disse após se afundar na cadeira de amamentação. — Falta das nossas conversas, dos seus conselhos. Eu sei que já tem um tempo que estamos bem, mas toda vez que temos conversas como essa, me lembra o quanto eu senti sua falta desde o acidente.
— Eu amo você. — Luiza disse com um sorriso.
— Eu vou falar com o Micael. — Se levantou num pulo, decidida.
— Você ouviu o que eu disse? Mulher!
— Ele já teve um tempo, tem mais de uma hora desde que sai do quarto, ele já pôde pensar e me perdoar. Não quero ficar assim.
— Entendi, tudo bem, vai lá e converse com ele, mas faça um esforço pra não mencionar o quanto eu era boa em engana-lo, duvido que isso vá ajudar em alguma coisa. — Soltou uma risadinha e Sophia suspirou, lembrando-se mais uma vez do que disse. — Boa sorte.
— Vou precisar. — E a ligação foi encerrada.
**
Sophia entrou no quarto que dividia com o marido num rompante e lhe deu um susto. O moreno estava deitado e sorria para o telefone, parou no instante em que a viu e bloqueou o aparelho.
A loira respirou fundo mais de duas vezes pra não agarrar aquele aparelho irritante e jogar pela janela.
Ao invés de demonstrar toda a raiva que sentia, ela respirou fundo outra vez, já tinha perdido a conta de quantas vezes tinha repetido aquilo.
Micael deixou o aparelho de lado, se ajeitou na cama, cruzou os braços e a olhou com uma sobrancelha erguida, aguardando que acabasse a onda de suspiros e enfim lhe dissesse algo.
— Deixa eu adivinhar, estava batendo papo com a sua psicóloga?
Ela tinha um tom de deboche mal contido e fez Micael a encarar com ainda mais força. Tinha pensado em várias coisas pra dizer que acalmasse os ânimos entre os dois, mas na hora que saiu, só conseguia falar em tom de acusação.
— Sim.
— É sério que vai continuar com isso?
— Com isso...? — Tinha um sorriso de canto, curioso com o rumo daquela conversa. — O que seria "isso", uma vez que eu não fiz nada?
— Você sabe o quanto me irrita esse seu telefone e continua fazendo. — Disse alto, estressada. — Essa mulher não devia conversar por mensagens com você, isso no mínimo é antiético.
— Antiético? — Franziu a testa. — Ela me atende online também, não há nada de antiético nisso. Você fez um escândalo pra descobrir o que tinha no meu telefone, agora que sabe vai continuar? Eu não tenho direito a ter uma psicóloga? Faça-me o favor, Sophia, você está realmente enlouquecendo. Cristiane é uma ótima profissional, não insinue nada além disso.
— Pelo visto vocês já foram bem além do profissional.
A loira rebateu e no mesmo instante Micael ficou de pé, a encarando de uma forma que a deixou intimidada.
— Ok, confesso que nem sempre que nos falamos é dentro de alguma sessão. As vezes tem conversas aleatórias também.
— Pela quantidade de vezes que eu entrei nos cômodos e você escondeu o celular, tem muita conversa aleatória, caso contrário você está gastando todo seu salário com isso, imagino que deve ser bem caro um psicólogo ao seu dispôr por muitas horas todos os dias.
— Ok, acabamos virando amigos, mas não tem nada de errado, eu juro. — Juntou as mãos tentando convencê-la.
Não sabia como Sophia fazia aquilo, num instante ele estava com a razão e irritado e no outro estava lá, dando explicações e não demoraria muito a se desculpar.
— Psicólogos não podem atender seus amigos, se essa relação saiu do profissional, você deve arrumar outro. — Manteve o tom e arrancou uma risada de Micael. — Estou falando sério.
— Está fora da casinha, eu não quero outro profissional, ela é ótima.
— Estou pedindo pelo bem do nosso casamento. — Abaixou consideravelmente o tom de voz, precisavam se entender. — Eu quero que fiquemos bem, mas essa mulher vai estar sempre entre nós se toda vez que eu chegar perto, você esconder seu celular. Nunca terei paz.
— Eu já disse uma vez, direi de novo, não tem nosso casamento, apenas moramos juntos.
— Será que dá pra facilitar? — Soltou irritada de novo.
— Sendo sincero, essa conversa não vai nos levar a lugar nenhum. Nada do que você disser vai me fazer trocar de psicóloga.
— Olha só, eu sei que não tenho sido a melhor esposa pra você quando o assunto é tudo o que a Luiza fez, sei que dói e é uma ferida que não cicatriza, mas eu dou o meu melhor. Estou ao seu lado faz quase seis anos, Micael.
Ele a olhava com bastante atenção, sem nada pra falar.
— Eu escolhi ficar com você contrariando tudo e todos, eu crio o seu filho como se fosse meu desde o primeiro segundo. Estive ao seu lado no pior momento da sua vida, ou o que você achou que fosse na época. Tive paciência e te tratei com o máximo de amor que pude até você estar pronto pra se entregar cem por centro pra mim. Não é justo você me tratar dessa forma porque eu fui ignorante uma vez.
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Inevitável
RomanceMicael e Luiza são um casal harmonioso e feliz. Tem Felipe, seu filho de oito meses e os três vivem numa boa casa, localizada no Rio de janeiro, em Niterói. Tudo muda após um trágico acidente, que deixa o rapaz viúvo, com um filho pra cuidar. A aju...