09.

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O relógio marcava "02:30" da manhã, faziam exatamente sete horas e meia. Sete horas e mela que beijara aqueles lábios macios e ouvira aquela voz rouca, Sete horas e meia nunca demoraram tanto a passar, nunca! Nem mesmo sua velha amiga tequila conseguia acelerar os números do relógio.

Carolyna estava sentada na sala de jantar encarando a garrafa de bebida vazia, hoje não havia limões, nem sal pra acompanhar. As coisas já giravam um pouco e sua cabeça não tinha mais ideias concretas. Levantou-se e pegou o relógio digital mexendo em suas configurações até que os números "07:30" aparecessem no painel.

- Hâa de leantar Carol! Va tabralar!!! - Disse com sua voz completamente embargada e desconexa, soltando um suspiro pesado e apoiando a cabeça na mesa. Piscou os olhos lentamente e encarou os porta-retratos na sala, próximos à TV. Não! Eles eram a lembrança de seu fracasso como pessoa, a pior coisa que podia existir dentro daquela casa. A pior coisa!

Tropeçou nos próprios pés tentando chegar até eles. Quase caiu duas vezes e na terceira foi amparada pelo sofá. Chegou até os porta-retratos e, com muita dificuldade, os colocou virados pra baixo. Sorriu satisfeita e então uma gargalhada histérica começou a escapar incontrolavelmente de sua garganta, juntamente com lágrimas descontroladas.

"Por que você é tão patética Carolyna. Ela é legal, mas você sabe que não é amor", pensou jogando o corpo pra trás, crente de que cairia deitada no tapete fofo da sala de estar, mas calculou mal e bateu a nuca na quina da mesa de centro.

Colocou a mão na região dolorida e sentiu o sangue melar seus dedos, "Ótimo, agora você é patética e....que horas são?" virou a cabeça rapidamente na direção do relógio da sala de jantar 7:45 já? tô atrasada pro trabalho..." pensou começando a ajeitar os porta retratos, sem olhar para as fotos "quero comer bolo.." pensou vaga "NOSSA!!! Tem sangue na minha mão??!" pensou ao ver os próprios dedos ensanguentados. Seus pensamentos seguiram desconexos até que ela apagou.

Seu celular marcava 5:00 da manhã, o relógio da sala de jantar marcava 10:00, mas pelo céu noturno lá fora ela podia dizer com certeza que o seu celular é que estava certo. Sua cabeça doía e havia sangue na sua mão. Ela não estava pensando com clareza o suficiente para tentar entender a situação, por isso só cambaleou até seu banheiro onde se despiu e ligou a hidromassagem sentando e fechando os olhos.

Quando os abriu novamente ela estava ali, parada junto à porta do banheiro olhando-a com uma expressão indecifrável. Aproximou-se e ajoelhou ao seu lado na banheira encaixando a palma da mão na linha do seu maxilar e segurando firme em seu rosto. Afastou algumas mechas de seu cabelo e deu um beijo demorado em sua testa.

[...]

Um pouco mais de uma semana havia se passado, Priscila não recebera nenhuma mensagem nem nenhum telefonema de Carolyna em seu celular, tampouco no celular do estúdio, que agora ia para casa com ela todo dia após o expediente.

Ela não saberia explicar o porquê, mas estava estranhamente angustiada, sua ansiedade aumentava a cada dia esperando algum contato com a latina. Seus momentos de relaxamento durante a execução de seus trabalhos eram agora escassos, pra não dizer quase nulos, sempre interrompidos por lembranças da mulher.

Não estava aguentando mais aquilo, por isso resolveu esfriar a cabeça e marcou com Malu e Vanessa de irem ao bar com as garotas do salão de cabelereiro do outro lado da rua. De última hora resolveu chamar Alice, um pouco de sexo talvez ajudasse a aliviar suas ansiedades.

- Alô? - Disse a voz suave do outro lado.

- Alice? É a Priscila. - Respondeu enquanto jogava o cabelo de lado, uma mania antiga sua.

- A Priscila do ar condicionado? - perguntou rindo.

- E tem outra Priscila é? - Disse fingindo uma descontração.

Dragonfly - CapriOnde histórias criam vida. Descubra agora