31.

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Três batidas suaves na porta a acordaram. Seu pescoço doeu quando ela se levantou do sofá. "Nota mental Priscila, nunca mais dormir nessa posição". Olhou pela janela e viu que o dia já estava escuro lá fora. O relógio na parede indicava que ela havia dormido pelo menos cinco horas.

Andou tropega até a porta ainda passando a mão pelo rosto e abriu-a com os olhos praticamente fechados por um bocejo. Mas antes que ela pudesse pensar em qualquer coisa e impedir a mulher de entrar, o vulto passou por ela com movimentos um tanto quanto desajeitados.

- Desculpa invadir assim, mas é a única maneira de você me ouvir. - A voz era frágil, bem diferente da que a ruiva estava acostumada. A latina trajava agora um vestido leve de cor pêssego que chegava até um pouco acima dos joelhos. Um dos pés estava enfaixado até um pouco acima do tornozelo.

Por alguns minutos Priscila achou que ainda estivesse sonhando. Notou a luz que entrava do saguão do andar e fechou a porta acendendo a luz do apartamento. Passou a mão pelo rosto mais uma vez, sentindo as purpurinas arranharem sua pele.

- Carolyna.. - Começou a dizer com a voz rouca.

- Priscila. Eu preciso que me ouça até o fim. - Pediu sentando-se no sofá da maior e esticando o pé agora enfaixado sobre o mesmo. - Antes de falar qualquer coisa. Me deixe terminar. - Pediu com um tom calmo, mas sua voz era trêmula. como que a beira de um choro.

- Eu não deveria. - Disse um pouco amarga. Mas se sentando no sofá oposto. - Mas já vi que se eu não te ouvir não vai me deixar em paz não é?

- Que bom que sabe. - Disse sorrindo fraco sem encara-la. - Pelos próximos dois ou três dias não poderei correr atrás de você, literalmente, mas não duvide que eu faria isso assim que tirassem isso aqui de mim. - Riu tentando deixar o clima mais leve, ergueu os olhos e encontrou os verdes da outra, que apenas se estreitaram em sua direção, sem nenhuma sombra de sorriso.

"Bom, ao menos não é grave" pensou a tatuadora tentando se consolar pela culpa que a incomodava.

- Como você está? - Perguntou perdendo a batalha contra si mesma e deixando sua preocupação transparecer.

- Dói. - Disse Carolyna, referindo-se não só ao próprio pé, mas a muitas coisas mais. - Mas logo ficará bem. - Completou tentando ser otimista e vendo a outra se ajeitar no sofá.

A latina pigarreou limpando a garganta antes de começar. Pensou em pedir para que a outra sentasse mais perto, sentia falta do calor que emanava de seu corpo, sentia falta de seu olhar carinhoso, mas não era hora para aquilo, tinha medo de que Priscila fugisse quando ela começasse a falar. Mesmo estando em seu apartamento, nada a impediria de sair do cômodo e deixá-la falando sozinha.

O par de esmeraldas a encaravam como se pudessem ver sua alma. Impacientes e duros.

- Quando...quando eu conheci você eu.... - Engoliu seco, havia desviado o olhar involuntariamente.

Voltou os olhos para a ruiva antes de retomar.

- Eu tinha alguém. - Falou recebendo o olhar mais duro que recebera até agora.

Sentiu-se pequena, como nunca antes. Como uma criança que acabou de levar a maior bronca de toda a sua vida, mesmo que Priscila não tivesse emitido nenhum som ou movido nenhum músculo.

- Priscila, eu estava em um momento complicado do meu casamento e... - Parou ao ver a ruiva tapar a fronte com as mãos e desviar o olhar ao som daquela palavra, passando os dedos pálidos pela própria boca em um sinal claro de inquietação.

"Casada" pensou a ruiva querendo estapear a própria cara. "Como você não notou isso, porra?"

Por alguns segundos sua mente correu todos os momentos iniciais com a latina. "Ela claramente me provocava" pensou, "Eu não tô louca, ela me provocava"

Dragonfly - CapriOnde histórias criam vida. Descubra agora