Dragonfly - Capri

28.

Por hora o saldo era positivo, as garotas eram legais e o clima no apartamento era bom. Jessie era um pouco mais reservada e Júlia era uma típica colega de quarto de faculdade, por vezes se viam colocando o celular para despertar para que não fossem dormir muito tarde conversando.

Por outro lado, Amanda estava mais encima dela do que nunca, ligara todos os dias desde que a mulher saira de casa. Chegando a ligar até três vezes no mesmo dia, no começo da semana. Perguntava onde estava, com quem estava e o que estava fazendo. Segundo ela isso era para a "segurança" de Carolyna, mas ela nunca fizera nada desse tipo antes do fim do casamento.

No segundo dia que Carol estava no apartamento deu de cara com Amanda ao sair do escritório para almoçar, a mulher queria leva-la em um almoço. A latina só aceitou após ouvir "Estou com os papéis do divórcio", o que depois descobriu ser uma grande mentira da mais velha, apenas para que ela aceitasse sair.

Fora isso, outro ponto positivo era que a Jessie passara recentemente na prova da OAB, na mesma edição em que Carolyna reprovara, e vinha dando dicas importantes e ajudando a garota nos estudos após o trabalho, inclusive cedendo-a algumas de suas anotações. Por sorte não encontrara com Priscila nenhuma vez, nem sombra da tatuadora. Mas não conseguira deixar de reparar se a moto estava ou não na garagem sempre que elas saiam do prédio no carro de Jessie pela manhã e sempre que voltavam ao fim do expediente. Uma das primeiras coisas que a latina checara, fora George. Felizmente o porteiro estava de férias pelo próximo mês inteiro. Se ele comentasse algo com Priscila sobre a presença dela ali toda sua ideia de se reconciliar com a ruiva iria por água abaixo em um piscar de olhos.

A Parada seria no dia seguinte e Júlia e Jessie separavam a roupa com a qual iriam à marcha.

- O que acha dessa? - Disse a garota de cabelos cacheados estendendo um vestido de lantejoulas prata na frente do corpo.

Carolyna a encarou e franziu o cenho.

- Minha nossa senhora. Olha...se você for com isso eu rezo pra que o dia esteja nublado. - Riu sendo acompanhada por Jessie e pela própria Júlia.

- Pensa isso embaixo de soll! Amiga você vai cegar todo mundo num raio de 10 Km. - Riu a coreana.

- Não vou com esse. - Disse Juh fingindo um tom magoado. - Foi só um teste de sinceridade. - Completou caindo na gargalhada. - Agora é sério. - Disse pegando um shorts jeans e uma blusa branca soltinha de tecido transparente e mangas longas, colocando-os à frente do corpo.

- Sucesso! - Exclamou a coreana batendo palmas.

- Tá linda. - Carolyna completou.

-★

- Vamos nos atrasar e vai ser sua culpa! - Malu ralhou parando próxima à porta de saída.

- Já vou!!! - A ruiva gritou do quarto e veio de lá penteando o cabelo com os dedos. Malu, Clara, Dani e Vanessa estavam todas no apartamento de Priscila. Era domingo, dia da parada do orgulho LGBTQ em São Paulo e como a casa de Priscila era a mais próxima do evento todas combinaram de se arrumarem e deixarem seus pertences lá para aproveitarem o dia sem se preocupar com os furtos, muito comuns em qualquer tipo de aglomeração na capital.

- Vamo Priscila!!! Se eu perder Daniela Mercury eu vou dar na sua cara! - Vanessa gritou pra ela já no corredor segurando o elevador. A tatuadora passou pela porta rindo da indignação da amiga e ajeitando a bota no pé enquanto saltava em busca de equilíbrio.

- Pronto!! - Vanessa disse animada envolvendo a si e a namorada na bandeira de arco-íris. Já na porta do prédio viram várias pessoas se dirigindo à avenida, muitas delas com bandeiras e cabelos coloridos. Pessoas de cabelos raspados, dreads, tatuagens, piercings, andavam lado a lado com pessoas fantasiadas e pessoas vestidas de maneira completamente neutra. Eram diversas por si só, mas todas pulavam, dançavam, riam e conversavam como se o mundo fosse delas, de fato era, pelo menos naquele lugar e naquela hora, era todo delas.