23.

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- Pri, vamos. - Chamou a morena despertando-a de seus devaneios. - Carlos é o seu único cliente agendado hoje branquela. - Falou espalhafatosa como sempre, mas com um toque de carinho na voz maior que o habitual. - Em pouco tempo você faz aquele sombreado. - Continuou tentando animar a outra.

A ruiva assentiu sem encará-la e virou no ralo o café que restara em sua xícara assistindo-o escorrer em espiral. Lavou as mãos rapidamente e secou no primeiro pano que encontrou, largando-o sobre a bancada da pia em seguida.

Jogou os cabelos de lado com a mão, não por querer ajeitá-los, mas simplesmente pela mania do ato e ganhou um abraço apertado da amiga que caminhou abraçada com ela na direção do elevador e a ajudando a levar, como sempre, suas chaves, a mochila e o capacete.

Ao entrar na caixa metálica ela agradeceu mentalmente pela falta de espelhos ali. Nesses últimos sete dias, assim como um vampiro foge da luz, a tatuadora evitava os espelhos e qualquer tipo de diversão, mas sentia que já era hora de acabar com aquilo.

Ela andara dormindo mal e comendo as piores coisas que via pela frente, mesmo a presença constante de Malu no apartamento desde o episódio com Carolyna, não tornava as coisas tão melhores. É claro que sem ela talvez Priscila não estivesse nem sequer se lembrando de comer nada, então já era alguma coisa.

O Dragonfly era sua vida, ela amava aquele trabalho com todas suas forças, mas desde a última conversa com a latina, Priscila não agendara nenhuma nova tatuagem, apenas comparecia ao estúdio quando tinha algum trabalho que fora marcado antes do ocorrido. Não que ela estivesse a fim de se isolar do mundo e se afundar em um poço de lamentações, logicamente ela estava tirando aquele tempo livre pra assimilar as coisas e repensar a relação que tivera com a mulher, mas o fato de se afastar do estúdio era simplesmente por que como artista ela sentia que não tinha condições de se expressar bem e se concentrar em algo naquele momento.

No estúdio ela se esforçou pra manter o profissionalismo e tratar o cliente da melhor maneira possível. Por pior que ela estivesse ainda tinha consciência da importância de cuidar bem do estúdio e atender bem as pessoas.

Passou a parte da tarde inteira trabalhando nas sombras da figura humanoide que fechava o braço de Carlos, o barman do bar da rua onde faziam seu clássico Happy Hour juntamente com Clara, Vanessa e Daniela. Ah claro, e mais recentemente Shaun, que começara a sair com elas quando Priscila mencionou Carlos em uma conversa aleatória enquanto fazia as sobrancelhas.

Assim que terminou e o simpático homem se despediu, ela caminhou a passos lentos para a sua mesa ainda retirando as luvas e a máscara. Sentou e, pensativa, começou a organizar os objetos ali dispostos.

Tinha mania de manter tudo o mais organizado possível no seu ambiente de trabalho, primeiro por que a higiene em um estúdio era muito importante, segundo por que passava uma boa imagem para os clientes.

E foi quando estava mexendo no porta-cartões, pensando em qualquer coisa que pudesse tirá-la da rotina, que a voz doce veio à sua mente. "Te dou um cartão depois, se quiser pode aparecer lá.", tinha dito a garota de cabelo azul que conhecera na balada e que colocara dois piercings com ela algum tempo atrás. Procurou entre os cartões tentando achar algum que fosse da menina, mas nada além dos que já tinha anteriormente. Forçou a mente para se lembrar do nome do lugar onde ela dizia que cantava. "Era um bar...alguma cor...em inglês..." batucou com o bolo de cartões na mão enquanto olhava pela sala do estúdio. Lembrava-se de ter conversado. com a cantora por algum tempo na balada onde haviam se conhecido antes do piercing, mas quando se esforçava para lembrar da conversa tudo que vinha à mente era Carolyna.

O modo como a latina ficara ao vê-la com a outra, o modo como a provocara dançando para ela depois. "Onde será que ela está agora?...Pra onde será que ela viajou?" pensou a ruiva sentindo os olhas verdes tornarem-se aguados. Com algum custo afastou os pensamentos, "Eu sei que foi um término de primeiro namoro meio traumático, mas é preciso seguir em frente Priscila! Mulher nenhuma nunca te abalou, para com isso." se repreendeu.

Dragonfly - CapriOnde histórias criam vida. Descubra agora