40.

1.1K 107 28
                                    

- Não! Perdão. Eu não posso aceitar isso. - A latina disse sentada no sofá do apartamento que agora oficialmente dividia com Priscila. - Eu não posso.

Um mês se passara desde sua alta do hospital e ela resolvera se mudar definitivamente para o apartamento da namorada. Sentia-se segura ao lado dela e ambas precisavam recomeçar suas vidas.

- Carol.. - O homem alto e grisalho falou pacientemente. - Eu e minha mulher convivemos com a culpa de não ter notado que Amanda estava mudada. - Ele explicou novamente em tom de lamento. - Nós sabemos o que você passou com a sua familia desde que saiu de casa. Acompanhamos tudo isso de perto e sabemos o que nossa filha significava pra você.

- Por isso sabemos que você não faria mal a ela por pura maldade, Carol. - A mãe da garota continuou, inconscientemente desviando os olhos para as marcas deixadas pela filha nos braços da latina. - Você sabe que é como uma filha para nós e nós não aguentamos conviver com essa culpa. É quase como se estivéssemos perdendo duas filhas. - Seus olhos se encheram d'água. - Você vai precisar se cuidar, vai precisar recomeçar do zero! Tome isso como uma chance de recomeçar longe de tudo isso.

- Eu também errei. Vocês estão ignorando essa parte. - Ela falou exasperada. - Eu errei e não mereço nada desse dinheiro.

- Você errou sim, Carol. - O pai de Amanda falou. - Você a traiu e em um casamento isso é um erro enorme, mas nossa filha tentou matar sua atual namorada, te raptou, raptou outra mulher e tentou fazer com que você a matasse e indiretamente... - Ele fechou os olhos como se fosse doloroso demais dizer, como quem não quer visualizar o peso de suas palavras. - Indiretamente...fez com que aquela moça se matasse no hospital.

- Nós levamos um bom tempo até assimilar tudo isso. - A ex-sogra admitiu. - Por isso viemos ter com você só agora, Carolyna. - A mulher explicou. - Nós dois já debatemos esse ponto e, por mais que você tenha errado em trai-la, achamos que esse dinheiro deveria ficar com você. - Ela suspirou pesado. - Nossa terapeuta também concorda.

- Eu não posso. - Afirmou categórica. - Eu vou sempre me lembrar que esse dinheiro veio dela. - Carolyna falou desviando o olhar. - Eu não me sentiria confortável com isso. - Seu tom era quase de súplica. (Y/N: aceita logo esta porra)

- Por favor, se não aceita por você, aceite por nós. - O homem insistiu calmo. - Queremos que fique com você.

- Não. - Ela pontuou decidida. Muito obrigada, mas não.

- Carol, sabemos que está desempregada, e imaginamos as coisas que devem estar passando pela sua cabeça agora. Queremos ajudar, queremos te dar uma chance de um novo começo. - A mulher falou tomando suas mãos entre as dela. - Por favor.

- Eu entendo as intenções de vocês, Senhor e Senhora Furtado, mas realmente não me sinto confortável com isso. Por favor, doem esse dinheiro para alguma instituição que precisa. Eu ficaria mais feliz em saber que fizeram isso. - Disse com carinho porém firme, dando fim aquela conversa.

E certo que naquele dia eles foram embora, mas um mês depois uma carta chegou à porta de Carolyna. Era de uma ONG que ajudava mulheres em situação de abuso doméstico, dizendo que eles haviam recebido uma doação com instruções de que fosse repassada a ela devido à comoção gerada pelo seu caso, comentado na midia.

Sob os conselhos das amigas, de Priscila e de sua psicóloga ela resolveu aceitar metade do dinheiro, que já era muito, e deixar o restante para a ONG, assim sua consciência ficava mais tranquila. Tanto por fazer a vontade dos pais da garota que ela ferira, quanto por estar ajudando também outras pessoas. Além do mais, concluiu derrotada, ela obviamente precisava do dinheiro.

Priscila estava ainda tentando receber o dinheiro do seguro do estúdio, visto que só possuía cobertura para incêndios acidentais, problemas de fiação e coisas do tipo, e a seguradora obviamente não considerava que era o caso.

Dragonfly - CapriOnde histórias criam vida. Descubra agora