- Vai contar ou não? - Pediu Jessie vendo a latina suspirar.
- Jess, você pode me levar no médico? - Pediu querendo desesperadamente mudar de assunto.
- Vamos, mas você não vai escapar de contar essa história pra gente mais cedo ou mais tarde. - Afirmou a outra indo ao corredor e parando à porta do banheiro. - Mas me diz, como vamos descer você? - perguntou antes de entrar e fechar a porta.
- Droga. - Murmurou Carolyna olhando para Juh que lhe sorriu maliciosa e abriu a boca para falar sendo interrompida.
- Relaxa, vamos assim que voltar a energia! - Jessie anunciou, piscando para ela enquanto passava do banheiro para seu quarto.
- Ou....posso chamar aquela moça pra ajudar. - Parecia uma adolescente animada e se aproximou focando os olhos nos da menor. - Já entendi que você não quer contar a história toda, mas...o que tava rolando aqui quando a gente chegou? - Arqueou as sobrancelhas em expectativa.
Carolyna cogitou ignora-la, mas em pouco tempo de convivência já tinha certeza de que a cacheada, curiosa como si só, não desistiria tão fácil.
- Estamos brigadas, eu e ela. - Confessou e viu a outra morder os lábios e se sentar ao seu lado no sofá.
Júlia pareceu absorver a informação e a menor já respirava satisfeita por ter conseguido responder sem prolongar o assunto, quando a mulher retomou a fala.
- Bom, só é importante se você briga com alguém que significa algo pra você né? - Deu de ombros com uma expressão inocente.
- É...- Admitiu sem perceber que caíra na armadilha da outra. Só se deu conta quando a mulher gargalhou ao seu lado. Carolyna lhe deu um tapa na perna que estalou ardido.
- AAAI.... - Exclamou olhando-a indignada e logo voltou a rir. Ok...ok...só vou dizer mais uma coisa. - Brincou. Carolyna arqueou a sobrancelha em silêncio, contendo um sorriso pela reação da outra ao tapa.
- Eu a vi só por alguns segundos..... - Pareceu parar de propósito pra gerar uma ansiedade. - Eu só vi vocês no mesmo cômodo por alguns segundos. - Ela completou se levantando do sofá e se afastando devagar ainda de frente para Carolyna com quem foge de uma fera com medo de ser atacado. - Mas porra...Se não transam...deveriam!
Carolyna riu jogando uma almofada nela que passou a centímetros de acertar sua cabeça antes que ela sumisse na porta do quarto das duas.
A latina se viu sozinha com seus pensamentos mais uma vez. Como queria subir aquelas escadas e fazer a outra ouvi-la! Como queria que a mulher entendesse de uma vez por todas o que estava acontecendo ali.
Queria aqueles braços ao seu redor novamente, queria aquele perfume que só ela tinha. Queria aqueles olhos verdes sobre os seus arrancando-lhe toda a verdade que havia dentro de si e acordando o seu coração pra algo que não sentia mais a muito tempo.
Como uma piada sem graça do destino seu pé latejou e ela gemeu abafado. "Você tinha que ter dois pés esquerdos né? Nossa, isso foi muito vergonhoso" pensou relembrando como fora de cara ao chão como um saco de batatas. Sorriu triste pela própria desgraça, negando com a cabeça.
-★
Subiu aquelas escadas como se estivesse fugindo de fogo.
Estava.
Seu coração apertado no peito. Reencontrar a garota não lhe fizera nada bem, e aquele contato físico, menos ainda. No quinto andar sentiu uma lágrima escorrer pelo seu peito e só então se deu conta de que chorava desde que iniciara sua empreitada degraus acima.
Secou os olhos como pôde e continuou a subir. Era como se alguém tivesse arrancado as cascas e reaberto uma ferida recente. Como se Carolyna tivesse acabado de dizer as palavras que a haviam despedaçado por dentro.
Ao mesmo tempo se surpreendia por ter conseguido formular o que dissera para a garota com tanta clareza.
"É fácil Carolyna!" suas palavras ecoavam em sua mente "Por que você não me via como alguém que podia te apoiar com aquela prova! Por que, por mais que eu tenha sido diferente do que fui com qualquer outra garota, eu acabei sendo apenas sexo pra você, como fui pra elas! Por que no fim das contas eu era apenas "linda" e mais nada!".
A cada degrau que subia menos certeza ela tinha sobre de onde aquilo havia vindo. Ela não era insegura, nunca se sentira mal por não ter nada sério com alguém. Mas na hora, com todos aqueles pensamentos em profusão, aqui foi tudo o que ela conseguiu dizer.
A verdade é que ela não ligava de ser só
sexo para Alice ou para qualquer outra, mas com Carolyna aquilo importava. Para Carolyna ela não queria ser apenas sexo. De Carolyna ela não queria ouvir um adeus. Somente o que vinha de Carolyna a atingia daquela forma.De alguma maneira a latina roubara tudo que havia nela. Se viu mais sensível à qualquer coisa que essa garota fizesse do que jamais fora com qualquer pessoa em sua vida. Um toque. Um sorriso. Um olhar em meio à multidão como ocorrera mais cedo, eram suficientes para virar o mundo de Priscila de ponta cabeça.
"Eu devia voltar" pensou com a mão na barra que abria a porta do sétimo andar. "Ela disse que precisava que eu a ouvisse não foi? Eu devia voltar". Sua mente trabalhou rápido revisitando o memento em que a menor a abandonara no pequeno bar e depois revisitando os momentos, minutos atrás, em que ela pedira para ser ouvida.
"Não Priscila!" decidiu-se abrindo a porta e se dirigindo para o próprio apartamento. "Você só vai arrumar mais problema".
Ela adentrou o cômodo escuro e se jogou no sofá. Não havia muito a ser feito enquanto a luz não voltasse. Antes de adormecer se pegou pensando se Carolyna estaria com dor e quando ficaria melhor.
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Dragonfly - Capri
FanfictionPriscila Caliari é uma mulher independente e solteira (com as melhores implicações da palavra) que mudou-se de Miami para São Paulo onde possui um estúdio de tatuagens, na Rua Augusta, com sua melhor amiga Maria Luísa. Tudo vai bem até que Priscila...