O dia de buscar Amanda no aeroporto chegara. Carolyna deu uma geral no apartamento se certificando o melhor que podia de que não havia nenhum vestígio de Priscila ali. Nenhuma calcinha, nenhum fio de cabelo diferente nos lençóis, nenhuma roupa esquecida, nenhum presente, nada.
Passou um bom perfume e uma maquiagem leve, suficiente para esconder sua expressão cansada, deixou os cabelos ondulado e solto como de costume. Escolheu um vestido branco justo que ia até a metade de sua coxa, por cima colocou um sobretudo preto, apenas amarrando-o na altura do pescoço sem fechar os botões, nos pés uma bota de cano alto preta. Olhou para o espelho e deu um sorriso fraco.
"Vamos Carolyna, você é melhor do que isso" pensou fechando os olhos por um breve estante. Pigarreou e jogou os cabelos de lado, voltando a abri-los com um sorriso perfeito. Parecia real. Quem a visse, mesmo os mais próximos, achariam que ela estava radiante, mas aquele era um sorriso um tanto quanto falso, escondia sua dor.
"Agora sim, pronta para ir" pensou pegando sua bolsa sobre a cama. Comprimiu os lábios e checou o batom no espelho uma ultima vez antes de sair do apartamento e tomar o elevador para a garagem de seu prédio. Apesar de tudo, se a latina dissesse que não sentira falta da esposa estaria mentindo. E bem verdade que ela gostava de estar sozinha. A sensação de morar sozinha depois de tanto tempo vivendo com a mulher era... libertadora? Talvez essa seja a palavra que defina melhor. Até mesmo estar na companhia de Priscila e suas amigas era libertador. Não que Amanda à controlasse e impedisse de ter contato com as pessoas, definitivamente não era isso. É que, depois de tantos anos juntas parecia que elas haviam chegado em um momento da vida em que apenas ambas se bastavam. Uma era suficiente para a vida da outra, era amizade, era amor, era companheirismo. Mas Carolyna já não concordava tanto com isso.
A presença de Amanda em sua vida havia sido tão intensa e por tanto tempo que, mesmo tendo Priscila durante esse meio período, ela se pegara mais de uma vez pensando em como a mesa de jantar estava vazia, ou como o apartamento estava silencioso, afinal não ouvia a esposa fazendo uma de suas ligações de trabalho, nem o seu cantarolar baixo e doce que sempre acompanhava o desenho de novos projetos.
Então, de certa forma, sentia falta. Não que quisesse continuar morando com a morena, isso definitivamente estava decidido em sua cabeça, só ficaria ali até passar na OAB e arranjar o primeiro emprego fora do estágio, mas nutria certo carinho por ela e se arrependia de tê-la traído. "Devia ter feito as coisas direito Carolyna", pensava com um suspiro pesado enquanto dirigia.
Faltava exatamente 1 mês e meio para primeira fase da nova prova da OAB, 3 meses para a segunda fase e 125 dias para o resultado, considerando que a latina fosse aprovada em tudo. Ela já fizera todas as contas. 125 dias para ser independente. 125 dias para resolver sua vida.
O trânsito estava infernal. O voo de Amanda estava programado para chegar às sete da noite, não havia horário pior para tentar se locomover em São Paulo. Todas as pessoas estavam saindo de seus trabalhos, parecia que todos os carros de todos os paulistanos estavam na rua ao mesmo tempo, isso sem considerar es motoqueiros que rasgavam o trânsito, zunindo pela orelha de Carolyna e deixando-a absurdamente irritada. Chegou ao aeroporto contendo sua irritação sob a máscara de felicidade plena que treinara no espelho. Reencontrar Amanda era como voltar para casa depois de uma aventura, uma casa cheia de memórias, boas e ruins, cheia de rancores, arrependimentos e negligências, mas ao mesmo tempo cheia de risos e manhãs de domingo.
A latina obviamente não saberia dizer com certeza como havia sido o período da esposa em Salvador, só sabia que a sua própria aventura tinha sido muito mais que uma simples aventura.
Chegando ao lugar que combinaram por telefone avistou a morena caminhando com as malas em sua direção. Quando estavam próximas o suficiente a mulher largou as malas e correu para os seus braços. Uma de suas mãos envolveu a cintura da latina, a outra firmou na curva de seu maxilar. Ela selou seus lábios demoradamente antes de aprofundar o beijo arrancando um suspiro de Carolyna.
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Dragonfly - Capri
FanfictionPriscila Caliari é uma mulher independente e solteira (com as melhores implicações da palavra) que mudou-se de Miami para São Paulo onde possui um estúdio de tatuagens, na Rua Augusta, com sua melhor amiga Maria Luísa. Tudo vai bem até que Priscila...