• Eu não vou te abandonar.

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Maya

Eu já tinha testemunhado diversos desastres pavorosos em minha vida, mas aquela cena específica provocava um nó em minha garganta. Os choros e gritos das crianças, os funcionários tentando fazer a contagem dos pequenos sobreviventes, bombeiros correndo com macas e carregando crianças nos braços... Aquilo mexia profundamente comigo. Eu não era do estilo maternal, nem pensava em ter filhos, mas naquele momento, vendo aquelas vidas tão jovens sendo tão brutalmente testadas, algo dentro de mim se contorcia.

Jack, Sullivan e eu conseguimos retirar cerca de 12 crianças de dentro dos escombros à medida que o incêndio era controlado. Na lateral do edifício, onde ficavam os quartos, uma grande pedra deslizou ameaçando a estrutura já fragilizada do lugar.

- Não sei se vocês acreditam em Deus - começou Sullivan, sua voz grave ecoando pela máscara de oxigênio - Mas foi um milagre essa pedra cair aqui justamente quando as crianças estavam no refeitório.

Olhei para Sullivan, minha expressão dizendo mais do que palavras poderiam expressar.
Nos movíamos pelo local, as chamas finalmente domadas, mas a fumaça persistia, obscurecendo nossa visão e tornando o ar pesado de respirar. Procurávamos por mais crianças, conscientes de que cada segundo contava. Cada som nos fazia parar e prestar atenção, na esperança de encontrar mais uma vida a ser salva.

- Capitã Bishop - a voz de Ruiz soou em meu rádio, cortando o silêncio tenso - Todas as vítimas já foram resgatadas, e o incêndio foi controlado. Você e sua equipe podem se retirar do edifício.

- Entendido, capitão Ruiz - respondi, embora soubesse que o trabalho ainda não havia terminado. O ar estava carregado de tensão e exaustão. Ruiz continuou:

- Está uma bagunça aqui fora, precisamos de todos. A situação está sob controle, mas ainda há muito a ser feito.

Assenti, mesmo que ele não pudesse me ver através do rádio.

- Estamos indo, capitão - informei, minha voz firme apesar do cansaço.

Jack estava surpreendentemente silencioso, e uma pontada de culpa me atingiu quando lembrei que ele passou grande parte de sua vida em orfanatos.

- Jack - falei, minha voz suave tentando aliviar o peso em seus ombros - Eu me esqueci completamente. Me desculpe por fazer você estar aqui.

Ele balançou a cabeça com um pequeno sorriso no rosto cansado.

- Não tem problema, Bishop. Eu me sentiria pior estando do lado de fora sem ajudar um lugar como este - ele respondeu, e eu assenti, agradecida por sua compreensão.

Foi quando estávamos voltando, próximos ao local do deslizamento, que ouvi um som estranho, algo entre um gemido e um choro animal.

- Vocês ouviram isso? - perguntei, minha cabeça se inclinando para o lado enquanto tentava localizar a fonte do som. Jack e Sullivan negaram com a cabeça, mas meus sentidos estavam alertas. Aquilo não era apenas o som do vento. Algo ou alguém estava lá, necessitando de ajuda.

Instintivamente, comecei a procurar pelo local, com passos cuidadosos na direção do som misterioso.

- Capitã Bishop - Sullivan disse - Essa área está muito insegura pra um novo deslizamento, o capitão Ruiz informou que todos já foram resgatados o mais sensato seriam a gente dar o fora daqui já.

A atmosfera estava pesada, o cheiro de fumaça e cinzas pairava no ar enquanto minha equipe e eu enfrentávamos o caos provocado pelo incêndio e deslizamento no orfanato. As palavras do Sullivan ecoavam em meus ouvidos, alertando sobre o perigo iminente da área instável, mas meu instinto de proteção falava mais alto.

Safe Place - Marina Onde histórias criam vida. Descubra agora