• Meninos bonitos não ficam tristes

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Maya

Sim, isso estava realmente acontecendo. Eu estava dentro daquele avião, com o coração batendo descompassado, ansiosa e temerosa ao mesmo tempo. Sem mala, vestindo apenas a roupa do trabalho, minha mente estava cheia de pensamentos e sentimentos tumultuados. Sentia cada batida do meu coração, minha respiração estava acelerada, e uma mistura de nervosismo e esperança me consumia. Tudo o que eu desejava era saber se meu menino estava bem.

— Perdão, está tudo bem? Você parece nervosa - a senhora ao meu lado perguntou.

— Estou indo encontrar meu filho depois de algum tempo - falei com a voz trêmula. - Estou nervosa.

— Isso deve ser incrível - ela sorriu.

— Vai ser sim - forcei um sorriso, tentando conter as lágrimas.

Eu queria tanto que Carina estivesse ali comigo, queria sentir suas mãos nas minhas, ouvir sua voz acalmando meu coração acelerado.

— A senhora pode me fazer um favor? - falei.

— Claro.

— Meu celular quebrou, então, antes do avião decolar, eu poderia fazer uma ligação? É muito urgente.

— Pode sim, meu anjo - ela me entregou o celular.

Disquei os números de Carina rapidamente, mas foi direto para a caixa postal. Tentei mais duas vezes, e nada.

— Deixe um recado e diga como te encontrar - ela sugeriu.

Assenti, agradecendo a gentileza, e liguei novamente, esperando o aviso para gravar o recado.

— Meu amor, sou eu, a Maya! Meu celular quebrou, e estou indo para Boston agora. Estou indo encontrar nosso filho! Desculpa não entrar em mais detalhes. Qualquer coisa, fala com a Meredith Grey. Te amo - falei, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

— Vai dar tudo certo, minha filha - a senhora disse, segurando minha mão.

O voo pareceu uma eternidade, como se as 5 horas tivessem se transformado em 12. Finalmente, pousei em Boston, praticamente fugi do avião, correndo pelo aeroporto em busca do primeiro táxi disponível. Quando mencionei o nome do hospital e o motorista disse que era perto, sorri pela primeira vez em horas.

Chegamos ao hospital em questão de minutos, e novamente corri em direção à recepção. Eu sabia que todos ao meu redor deveriam me considerar louca, e eu realmente estava agindo como uma.

— Boa tarde, tudo bem? - falei à recepcionista. - Sou a Maya Bishop, estou procurando a Dra. Meredith Grey.

— Só um momento - ela disse.

— Maya? - ouvi a voz de Meredith atrás de mim.

— Graças a Deus você está aqui! - falei, respirando fundo.

— Tentei entrar em contato com você, com a Carina, e nada! Achei que você não viria.

— Foi um caos - falei, tentando controlar a ansiedade. - Bateram no meu carro, meu celular quebrou, a Carina estava em cirurgia! Mas estou aqui - disse, como se lembrasse pela primeira vez.

— Vem cá - ela me puxou para um canto. - Olha, a situação é complicada.

— Ele está machucado? Doente?

— Ele está bem - ela disse. - Inventei alguns diagnósticos para mantê-lo aqui, e usei os arquivos do Grey Sloan para entrar em contato com você, com a permissão da polícia.

— Polícia? - perguntei preocupada.

— Sim - ela disse. - O Lucca estava na rua, Maya. Foi encontrado por um interno que o trouxe para cá.

— Não é possível, não é possível - meu coração se apertou ao pensar no meu menino na rua. - Eu posso vê-lo?

— Vou te levar lá - ela disse.

Caminhamos pelo corredor do hospital, e eu me sentia como na primeira vez que nos reencontramos no hospital após o resgate. Assim que Meredith abriu a porta, vi meu menino deitado com uma expressão triste, olhando para a parede.

— Meninos bonitos assim não podem ficar tristes - falei, tentando trazer alguma leveza para o momento.

— Mamãe - os olhos dele se iluminaram ao me ver.

Aquele foi um daqueles raros momentos na vida em que a realidade supera qualquer expectativa ou medo. Meu coração batia forte, as lágrimas escorriam pelo meu rosto, e eu não conseguia conter a emoção ao vê-lo. Eu me aproximei da cama, segurei sua mão com ternura, e sussurrei palavras de conforto. O reencontro era agridoce, mas a certeza de tê-lo de volta preenchia meu coração de uma forma indescritível.

Carina

O dia de hoje se tornou uma dolorosa explicação clara dos motivos que me fizeram preferir a atuação em vez do hospital. Eu tinha paixão pela medicina, por trazer vidas ao mundo e salvar outras, mas perder alguém me destruía  e hoje meu coração desmoronou diante da perda de duas vidas. Numa cirurgia longa e complexa, perdemos primeiro o bebê e, em seguida, a mãe. Addison, Arizona e eu estávamos em silêncio, mergulhadas na dor, quando a enfermeira me chamou.

— Dra. DeLuca, há várias ligações perdidas no seu celular.

— Maya? - perguntei ansiosa.

— Não - ela disse - Número desconhecido e a Dra. Meredith Grey.

— Não sabia que você e a Meredith estavam próximas - comentou Addison.

— Não estamos - murmurei, com estranheza.

Peguei o celular da enfermeira e examinei o WhatsApp. Nenhuma mensagem ou chamada de Maya. Tentei ligar, mas o celular dela estava fora do ar. A decepção e a preocupação começaram a se entrelaçar.

— Retornou para Grey? - indagou Arizona.

— Maya não me mandou nada - respondi, com uma pontada de decepção.

Uma mensagem na caixa postal chamou minha atenção, não era comum principalmente nos dias de hoje. Ouvir a voz de Maya preencheu o ambiente. Não sei exatamente o que aconteceu naquele momento, mas minhas pernas fraquejaram. Addison me segurou enquanto Arizona providenciou um banquinho.

— O Lucca, o meu Lucca - balbuciei entre lágrimas.

Disquei para Meredith, e ela atendeu após alguns toques.

— Eu posso vê-lo? - perguntei, chorando.

— Atende em vídeo - ela disse num sussurro.

Atendi rapidamente, e ela virou a câmera, revelando a cena que preencheu meu coração. Maya estava deitada na cama, com o Lucca entre seus braços. Os dois dormiam serenamente, e ela o segurava com uma força avassaladora, como se temesse que alguém pudesse arrancar ele dela, o que era verdade.

A sensação de amor que tomou conta de mim naquele momento foi indescritível, eu não sabia que podia amar tanto assim alguém. Toquei na tela, tentando sentir a presença deles, enquanto sussurrava repetidamente:

— Eu amo vocês, eu amo vocês.

Safe Place - Marina Onde histórias criam vida. Descubra agora