Safe Place - Marina

• Trauma

Maya

Eu não conseguia mais pensar, raciocinar ou criar qualquer estratégia. Minha mente estava em branco, consumida pelo pânico e pela urgência de tirá-la dali o mais rápido possível. Ajeitei o capacete, meu coração batia descompassado, e fui me aproximando do local, buscando um espaço para descer.

— Capitã Bishop? - ouvi a voz de Clyde ao longe, mas eu estava em outro mundo, focada apenas nela. Encontrei uma abertura pela qual poderia passar facilmente para dentro da cratera. Virei-me de costas, segurando firme na corda.

— Capitã? - Travis falou pelo rádio - O que está fazendo?

— Maya - a voz de Andy soou no comunicador - Você já está em observação, por favor, o que está acontecendo?

— É a Carina - falei, engolindo em seco, minha voz trêmula - a Carina está aqui.

— Estamos indo para aí - Jack respondeu pelo rádio.

Assim que pisei nos escombros, senti um leve tremor no chão, mas ignorei, focada apenas em alcançá-la. Tirei a lona que cobria seu corpo, segurando seu rosto entre minhas mãos.

— Ei, meu amor, meu amor - sussurrei, desesperada - Fala comigo.

Examinei sua cabeça em busca de machucados ou sangue, mas o único ferimento visível era um corte em sua testa e sua perna que parecia estar num ângulo estranho.

— Capitã Bishop - a voz do capitão Clyde surgiu - O que está fazendo é arriscado, mas já entendi que é alguém especial para você. Qual a primeira avaliação?

— Acho que ela está bem - falei, tentando controlar o tremor em minha voz - Só está desacordada.

— Ok - ele disse - Tente não fazer mais movimentos nem encostar em escombros, vamos conseguir tirar todos vocês daí.

— Capitã Bishop - era a voz de Ben agora no rádio - Verifique o abdômen dela.

— Tá bom, tá bom - enxuguei as lágrimas enquanto levantava sua blusa, tocando cuidadosamente seu abdômen - Parece normal, e sua respiração está regular também.

— Então sem traumas, provavelmente - ele falou.

Acariciei seu rosto, sentindo uma mistura de alívio e medo. Eu não sabia o que faria se algo acontecesse a essa mulher. Meu peito doía só de imaginar, mas, nesse momento, senti novamente aquele pressentimento ruim me invadir. Olhei para os lados, sentindo minha pele se arrepiar e todos os meus instintos entrarem em alerta.

— Maya? - a voz fraca de Carina surgiu, e olhei para ela que estava acordando devagar.

— Eu estou aqui, meu amor, eu vim te salvar - falei com urgência.

Essas foram as últimas palavras que disse antes de me deitar sobre ela e ouvir um estrondo ensurdecedor seguido de um novo desabamento e, finalmente, a escuridão.

Carina

O zumbido fino continuava apitando em meus ouvidos, minha cabeça latejava e tudo ao meu redor parecia em câmera lenta. Tentava lembrar o que havia acontecido: a feira de artesanato, os escombros, e então, o rosto de Maya. Uma sensação de pânico tomou conta de mim, mas logo me senti completamente acordada e alerta. Percebi um peso sobre mim, algo quente e macio.

— Maya... - chamei devagar.

Silêncio.

— Capitã Bishop, Capitã Bishop? - uma voz desconhecida chamava pelo rádio - Maya! Maya, Bishop, capitã - vozes da Estação 19 também se misturavam no rádio.

— Pessoal? - falei, tentando virar meu rosto em direção ao rádio.

— Carina! - era Andy - Como vocês estão?

— Eu estou bem, acho - falei - Acordada e alerta.

— E a Maya? - Vic perguntou.

— Ela está desacordada - falei, engolindo em seco.

— Carina, tudo bem? - a voz diferente surgiu novamente - Eu sou o Capitão Clyde e estou no comando dessa ocorrência. Vamos resgatar vocês! Preciso que você me passe o status sobre a situação, pode me ajudar?

— Claro! - falei, nervosa.

— Preciso que você identifique os batimentos da Capitã Bishop, pode parecer confuso com os seus pela adrenalina, mas você vai perceber a diferença.

— Eu sou médica - falei.

— A mil perdões, Dra. - ele disse - Então você sabe o que fazer.

— Carina - era a voz de Ben novamente - Estamos aqui com o Capitão Clyde. Nos passe todas as informações que você puder reunir.

Tentei controlar o medo crescente dentro de mim para ajudar Maya. Encontrei os batimentos dela em seu pulso, quase incapaz de identificá-los.

— Pulsação fraca - falei - Respiração irregular. E eu também sinto algo molhado e quente na minha barriga, mas não posso me mexer, então não sei se é meu sangue ou o dela. Mas não sinto dor.

— Está certo, Carina - Ben falou - Tente não se mexer, apenas continue monitorando os sinais vitais dela. A equipe já está descendo para tirar vocês daí.

Não consegui segurar o choro; meu corpo tremia em soluços. Queria poder abraçá-la, e a única razão pela qual eu estava bem e fora de perigo era porque ela me protegera com o próprio corpo.

Os próximos minutos pareceram uma eternidade até que vozes mais altas e nervosas se aproximaram, e um clarão surgiu com a retirada dos escombros.

— Ei, fav - sorri ao ver Travis.

— E aí, moça, vamos sair desse inferno? - ele disse, tirando meu cabelo do rosto e dando um beijo na minha testa.

Vi sua expressão mudar enquanto seus olhos passavam por Maya.

— Carina - Ben apareceu do meu outro lado - Vocês vão ficar bem. Tente se manter calma.

— Calma? - ri ironicamente - Eu consigo ver na expressão de vocês, Warren, e também sou médica, consigo entender a gravidade desse trauma.

Ele ficou em silêncio, e logo mais bombeiros se aproximaram, nos liberando completamente dos escombros e transferindo Maya para uma maca. Eu fui a próxima. Assim que estávamos indo em direção à ambulância, tentei me soltar da maca e ir em direção a ela.

— Carina, não - Vic me segurou - Você precisa ir para o hospital.

— Eu tenho que vê-la, Vic, eu preciso - implorei.

— Ela está bem - Sullivan disse olhando para Vic - Ela merece vê-la, nem que seja...

— Não ouse completar essa frase, Sullivan - falei - Ela vai sobreviver.

Eles empurraram minha maca até a ambulância à frente, onde Maya estava sendo colocada. Minha perna queimava e ardi de dor mas consegui me levantar e estiquei meu corpo segurando a sua mão.

— Sono qui amore mio. Sei incredibilmente forte e so che supererai tutto questo. Sono al tuo fianco, qualunque cosa accada. Ti amo più di quanto le parole possano esprimere*. - falei entre lágrimas

— Nos precisamos ir agora Carina - Ben disse urgentemente

*Eu estou aqui, meu amor. Você é incrivelmente forte, e sei que vai superar isso. Estou ao seu lado, não importa o que aconteça. Te amo mais do que as palavras podem dizer.