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Matías Rojas
São Paulo 📍

Acordei com a luz entrando pela pequena fresta da janela, senti o peso ao lado e sorri. Luísa estava bem ali, sua boca entreaberta numa respiração calma, o cabelo a rodeava, bagunçado.

Meus pais e minha irmã haviam voltado pra casa dois dias antes, e os pais da Luísa foram no dia seguinte. E eu tinha dormido com ela essa noite, na casa dela, no quarto dela, na cama dela.

Aparentemente dormir juntos era uma dependência nossa. Fitei a mulher ao lado que continuava dormindo.

Ou ela será o amor da minha vida ou a minha maior dor.

Eu torci pela primeira opção.

Eu tinha 28 anos, já tive relacionamentos é claro, já quase casei, mas no fim das contas não era a pessoa certa, então eu desisti de encontrar alguém e passei a viver de boca em boca, de cama em cama, sem a intenção de achar alguma coisa séria. Eu não estava disposto a sofrer a frustração de um relacionamento que não deu certo. De novo.

Mas a verdade é que desde a primeira vez que eu vi a Luísa, eu sabia que iria me foder. A forma como ela me olhou pela primeira vez, como ela amava seu trabalho, como ela sorria quando estava com uma câmera na mão, nossas implicâncias no começo.

E dito e feito, eu estava apaixonado. Apaixonado e morrendo de medo.

Luísa era como eu, solta, descrente em acreditar no amor, e o meu receio é de que esse nosso lance fosse um passatempo pra ela.

-Você acha que se ela estivesse brincando com você, ela teria planejado uma festa surpresa, te levado pro autódromo e os caralho? - Foi o que Yuri falou. Ele era um dos poucos que sabia da nossa real situação e do nosso namoro "falso".

-Esse namoro tá tão real quanto o meu casamento. - Romero falou. - Só falta os queridos enxergarem isso.

Eu precisava conversar com alguém sobre isso, e os dois eram os mais próximos de mim. Então eu contei, Romero não pareceu nenhum pouco surpreso, e me ameaçou caso eu escondesse mais alguma coisa dele. Fofoqueiro.

Luísa se remexeu e abriu os olhos, ela procurou por mim e quando achou um sorriso se abriu, e eu retribuí. Era impossível não sorrir com aquela mulher.

-Bom dia. - Falou, a voz saiu rouca.

-Buen dia. - Respondi olhando seu rosto marcado da fronha do travesseiro.

A porta do quarto se abriu, e Vanessa enfiou a cara pra dento, sem nem ligar que poderíamos estar, sei lá, pelados.

-Se eu fosse vocês, levantavam logo. - Ela falou olhando de um pra outro. - Já são quase oito. - Luísa arregalou os olhos e pulou pra fora da cama.

-Você não ativou o despertador? - Perguntou me olhando.

-Yo pensé que tu tivesse ativado. - Falei pulando pra fora da cama também. Luísa bateu a testa.

-Eu tenho uma reunião super importante hoje, não posso atrasar.

-Nem yo, Mano me matarás. - Rodei o quarto procurando pelos chinelos e calcei.

Luísa já estava com a toalha jogada por cima do ombro e corria em direção ao banheiro.

Ela parou e virou pra mim, segurou meu rosto com as duas mãos precisando ficar na ponta dos pés pra isso, e depositou um selinho demorado nos meus lábios.

-Te vejo em vinte minutos. - Falou apressada e entrou no banheiro.

Precisei de alguns segundos pra que meu corpo me obedecesse e caminhasse pra fora do quarto, com meu coração batendo forte no meu peito.

Por supuesto | Matías RojasOnde histórias criam vida. Descubra agora