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Matías Rojas
São Paulo
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Vanessa estava a minha frente, andando pra lá e pra cá, inquieta.

Devido ao nervosismo pelo grau de parentesco, ela não pode continuar na sala o que quase me tirou do eixo. Luísa estava sozinha lá dentro, sem ninguém que ela conhecia.

Já tinha se passado mais de uma hora e durante todo o tempo eu tinha me mantido imóvel, ignorando tudo ao meu redor, inclusive meu celular que tocava inúmeras vezes.

Minha boca estava seca e ansiava por água, mas eu sequer podia olhar em outra direção que não fosse a sala onde Luísa e meus bebês estavam.

Eu me recusava a imaginar que alguma coisa pudesse acontecer com ela. E meu coração se afundava no peito toda vez que eu imaginava a possibilidade dela perder os... não ela não vai.

Deus não seria tão ruim, seria?

Eu tive tempo suficiente pra repassar na minha cabeça todas as coisas ruins que eu já havia feito na vida, e nenhuma delas justificava isso. Eu não merecia isso, Luísa não merecia isso.

Se ela os... perdesse, como eu daria essa notícia?

Me movi o suficiente pra tirar o celular do bolso. Mas não era as notificações que eu queria. E sim a pequena foto presa na capa do último ultrassom que fizemos.

Senti meus olhos se umedecerem, mas não pude me permitir chorar. Luísa precisará de mim.

Aproveitei o celular na minha mão e procurei pelo único contato que poderia me dar o mínimo de conforto nesse momento.

Minha mãe.

Ela não demorou a me atender, e eu tive que me segurar muito pra não chorar feito uma criança.

Mas de alguma forma as palavras dela fez com que eu me sentisse melhor. E ela desligou prometendo que acenderia uma vela e pedindo por notícias assim que possível.

-Dra. Vanessa? - Uma voz chamou e eu me levantei rapidamente. Acompanhando Vanessa em direção a outra mulher.

-Qual diagnóstico? - Ela perguntou aflita, a mulher olhou de mim pra ela. - Ele é o pai.

Houve um momento de silêncio tão grande que eu quase me joguei em cima daquela médica.

-Ela entrou em trabalho de parto. - Um nó se formou em minha mente, era muito, muito cedo. A barriga dela ainda estava muito pequena.

-Houve perca de líquido amniótico?- Vanessa perguntou.

-Ainda não tenho certeza. Preciso de mais alguns exames.

-Como eles estão?

-Luísa está sedada, tivemos que administrar os medicamentos pra parar o trabalho de parto. - Vanessa assentiu.

-E meus filhos? - Perguntei sentindo todo o meu sangue gelar.

A médica olhou pra mim, e eu via...pena?

Não Deus por favor não.

-Esteja preparado pra más notícias. - Foi o que ela disse.

-Há sinais vitais?

-Sim.

-Ótimo. - Ela suspirou e se virou pra mim. -Matías olha pra mim. - Ela pediu e eu obedeci. - Não desmorona, vai ficar tudo bem.

-E se não ficar?

-Vai ficar. - Ela colocou tanta certeza naquilo que por um momento eu acreditei e me agarrei na esperança que surgiu dentro de mim.

Por supuesto | Matías RojasOnde histórias criam vida. Descubra agora