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Luísa Cortes
São Paulo
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Puta, muito puta. É isso que eu tava. 

Tirei a câmera do pescoço com raiva, não tinha nada pra fotografar ali além da nossa humilhação. 

5x1 pro Bahia. 

Pro Bahia. 

Em casa.

Fui caminhando em passos duros pro interior do estádio, eu estava com tanta raiva que se eu visse alguém desse time na minha frente eu certamente daria um chute. 

Respirei fundo algumas vezes, isso só podia ser os hormônios. 

Guardei meus equipamentos dentro da mochila, eu queria sair dali antes de ver algum deles. 

Só ai me toquei que eu tinha vindo no ônibus, junto com a equipe e meu carro estava no CT. Eu não ia conseguir um uber uma hora dessas, e pra ser sincera eu não fazia ideia de como usar o metrô. 

Passei as mãos nervosamente pelo rosto, eu não tinha escolha. Ia ter que encarar eles com o ódio que eu estou. Me manter em silêncio, é tudo que eu posso fazer. 

Me mantive em silêncio o tempo todo, ignorei a zona mista, na qual ninguém quis falar. Eram bons em falar, mas só quando ganhavam. O que era raro. Entrei no ônibus e sentei no fundo, Matías me olhava a todo mundo com um grande ponto de interrogação no rosto, o que eu ignorei. 

Eu pensei que o ônibus estaria em silêncio, que não ia ter clima pra bater papo depois de uma humilhação dessas, mas eu estava enganada. O único que parecia derrotado ali era Yuri, que se mantinha em silêncio duas fileiras a minha frente. O resto conversava normalmente, e quando eu ouvi risadinhas minha paciência foi pro caralho. 

-Vocês deveriam ter vergonha. - Murmurei alto o suficiente pra que cabeças se virassem em minha direção. -Perderam como se fosse um jogo de interclasse, e estão agindo como se tivessem ganhado. - Falei mais claro dessa vez. 

-Não é bem assim Lu. - Cássio foi o primeiro a falar. 

-Eu 'tô cansada de ter pena de vocês. - Falei me levantando. - Todo jogo a mesma coisa, vocês perdendo e eu tendo pena, por que são humanos e erram. Mas a verdade é que estão pouco se fudendo pra esse time. 

-Luísa... - Cássio voltou a falar.

-Deixa ela falar. - Renato Augusto interrompeu. - Tem gente precisando ouvir umas verdades. 

-Quando eu cheguei aqui, eu não entendia nada de futebol. - Falei. - Eu aprendi, e me apaixonei pelo Corinthians, e eu 'tô tão puta que eu não consigo por em palavras. Eu imagino o torcedor, aquele que vai aos jogos, que gasta dinheiro com ingresso, com camisa, que tem muitos de vocês como ídolo. 

Olhei em volta, a maioria tinha a cabeça baixa. 

-Vocês deveriam ter vergonha. - Suspirei. - Um bando de marmanjo, ganhando muito dinheiro e satisfeitos em entregar uma merda de jogo como esse. E eu falo isso pelo bem de vocês, querendo ou não o nome de cada um vai ficar na história do clube, e esse elenco vai ser conhecido como o pior. 

-Não é por ai também né Luísa. - Gil murmurou. 

-Se eu fosse vocês. - Apontei o dedo. - Paravam de viver do passado, e começavam a se preocupar com o presente. - Eu ri. - Se bem que a essa altura do campeonato, estão mais preocupados com o quanto vão ganhar até o fim do contrato de vocês. - Acertei exatamente quem eu queria, todos os medalhões me olharam ao mesmo tempo.

Me sentei novamente com um sorriso sarcástico no rosto. 

-E nem adianta me olharem assim, porque eu não ligo. - Falei - Cansei de ter pena de vocês. 

Puxei o capuz do meu moletom e me recostei no vidro da janela, observando a rua la fora. Uma lágrima me escapou e eu a enxuguei rapidamente. 

-Lu?! - Me virei minimamente o suficiente pra ver Yuri, sentado ao meu lado. Seus olhos estavam vermelhos. 

Yuri era um cara esforçado, eu diria que um dos poucos. Ele cometia muitos erros, mas pelo menos ele tentava, e eu torcia tanto por uma reviravolta na história dele no Corinthians, torcia tanto pra que ele se tornasse um ídolo. 

Mas talvez não era pra ser, talvez o lugar dele brilhar não era ali.   

-Acha que a torcida se sente assim também? - Perguntou.

-Pior. - Falei. - Eles vivem pelo time Yuri, não lê as redes sociais? Ninguém aguenta mais esse futebol de vocês. 

-'Tá uma merda né?! - Ele bufou recostando a cabeça no encosto do banco. - Eu não sei mais o que fazer. - Desabafou. - Tudo que eu faço, nada é suficiente. 

-Não depende só de você. - Falei, tendo sabendo que os demais escutavam a conversa. - Talvez se você não se cobrasse tanto, a coisa ia fluir melhor. 

-É muita pressão. - Falou sincero. - Eu tenho a obrigação de entrar naquele campo e fazer gol. 

-Tem mesmo. - Falei. - Mas vamos combinar que sozinho não vai conseguir. Se os demais não entrarem naquele campo dispostos a dar o sangue não vai conseguir. Parece que o time entra já satisfeitos com empate. 

-Desculpa Lu. - Ele pediu me estendo a mão. 

Segurei a mão dele soltando a respiração. 

-Desculpa. -Pedi. - Eu fiquei muito nervosa. Perdi a cabeça. 

-Alguém precisava jogar isso nas nossas caras. - Ele riu. - Melhor que seja você que é nossa amiga. 

Yuri deu um beijo casto na minha mão e voltou pro seu lugar. 

Eu não estava arrependida de falar o que falei, aliás acho que devia ter falado antes. 

Quando sai do ônibus, notei que alguns estavam com a cara virada pra mim, e sinceramente? Eu nem ligava. 

Joguei a mochila nas costas e fui em direção ao meu carro, senti o cheiro dele antes de sentir o toque na minha mão. 

-Puedo segurar tu mão ou solo Yuri pode hacer esto? - A voz rouca dele invadiu meus ouvidos e eu ri. 

-Ciúmes do Yuri? Sério? - Perguntei, Matías revirou os olhos. 

-Ni un poco. - Falou travando a mandíbula. 

-Não tem motivos pra ciúmes. - Falei destravando meu carro. - Você que é o pai do meu bebê. - O sorriso que ele abriu me desmontou todinha. 

-Sí yo soy. - Concordou com o peito inflado. - ¿Y cuándo me dejarás contar a los demás? - Perguntou passando a mão pela minha barriga disfarçadamente. 

-Só deixo contar quando começarem a jogar feito jogadores profissionais que ganham muito bem pra fazer o que fazem. - Falei entrando dentro do carro.

-Ouch.  - Ele murmurou e eu ri. - Dirija con cuidado, estoy logo atrás de ti.

Nem sempre nossos horários batiam, e por isso cada um ainda vinha com seu carro. 

Enquanto eu dirigia, parei pra pensar se esse surto poderiam me prejudicar de alguma forma, Mano Menezes estava dentro do ônibus e poderia facilmente me dedurar pra diretoria que me colocaria pra correr facilmente. Fora o climão tinha se instalado no ônibus depois que eu tinha aberto a boca. 

Mas vamos combinar, eles mereceram. 

Precisei de um capítulozinho com alguém falando umas verdades pra eles nem que seja na ficção

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Precisei de um capítulozinho com alguém falando umas verdades pra eles nem que seja na ficção. 

Por supuesto | Matías RojasOnde histórias criam vida. Descubra agora