10

1K 108 43
                                    

Luísa Cortes
São Paulo 
📍


Sabe quando você encara o nada e não consegue mais parar de olhar? Eu estava exatamente assim, olhando para um ponto fixo na minha frente com o prato vazio sobre a mesa. Tinha acabado de almoçar e nem o papo dos caras ao meu redor não prendia minha atenção. 

-'Tá tristinha por que? - O homem de dois metros perguntou bagunçando meus cabelos. - Só por que o paraguaio não 'tá aqui? 

Eu já tinha voltado a rotina a uma semana, e o silêncio do apartamento do lado era ensurdecedor. 

-Se foder não quer né? - Perguntei. 

-Ué, 'tamo ai pra qualquer coisa. - Carlos Miguel piscou e eu quase engasguei, ele 'tá flertando comigo? 

-'Tô na fila também ein?! - Virei meu rosto pro Matheus que me lançou outra piscada.

Mas o que é isso? Os goleiros viraram atacantes? 

-Deixa só meu amigo voltar. - Romero começou. - Vou contar tudo pra ele. 

-Ah pronto. - Reclamei. 

-Vocês sabiam que eles dois, são vizinhos? - Romero perguntou. - Moram um do lado do outro. - Juntou os dedos. 

-'Perdemo. - Donelli falou olhando pro Carlos. 

-Mas você não consegue ficar calado não? - Perguntei apontando o dedo pro gringo na minha frente. - Boca de sacola. 

-Eu só repasso informações. - Ele se defendeu. 

-Vocês estão...? - O mais alto perguntou e eu neguei rapidamente. 

-Vocês sãos meus colegas de trabalho. - Apontei pra eles. - Isso seria antiético. 

-Ninguém precisa saber. - Donelli falou e por que eu senti que não era do Matías que ele estava falando? 

Dei uma olhada no homem do outro lado da mesa e ele sorriu. Até que ele era bem bonitinho. Ele manteve o olhar fixo em mim.  

Luísaaaaaaaaaaa. 

Romero meteu um tapão na nuca dele o que fez nosso contato visual se quebrar. 

-Ô talarico. - Romero xingou. 

-Qual foi Romero? - perguntei rindo. - Estragando meus esquemas pô. 

-Nós temos um esquema? - Donelli perguntou e levou outro tapa. - Ai! 

-Esqueceu bem rápido da "ética" né dona Luísa? - Romero perguntou e eu gargalhei. 

-Odeio cada um de vocês. - Falei me levantando e pegando meu prato. 

-'Tô nem ai. - Romero falou. - E eu vou contar viu. Meu mano Rojas vai saber o que você apronta na ausência dele. - Era engraçado ver ele falando gírias com o sotaque. 

-Vai se foder. - Falei. - E leva seu mano Rojas junto. - Eles gargalharam e antes de eu me mandar dali, dei uma última olhada no Donelli e o encontrei já me olhando. 

Será que ele era muito mais novo que eu, ou era aceitável? 

Pesquisei o nome dele rapidamente no google, vinte e um aninhos. 

Aceitável. 

Balancei a cabeça em negação. Meu deus, por que eu sou assim? 

Fiquei até tarde no CT, depois do último jogo o clima tinha mudado, Mano estava colocando vários pingos nos i's e eu sentia que ia dar bom, apesar de saber que não ia demorar pra que alguém deixasse o time, e novos jogadores entrarem, e eu só torcia pra que contratassem homem bonito. 

Por supuesto | Matías RojasOnde histórias criam vida. Descubra agora