Pequenas Histórias de Amor

❇ 3 ❇

-Então o que está me dizendo é que vocês erraram o caralho da amostra?! Vocês pegaram a porra desse homem e enfiaram em mim?! -Eu vociferava para a mulher sentava à nossa frente, Kelly Bern.

-Senhor, sentimos muito! A amostra do Sr. Armstrong era a 7208-GS e a outra era 7208-GZ, eram muito próximas uma da outra.

-Não importa! Essa é a droga do trabalho de vocês! É o seu dever saber diferenciar as amostras que são usadas nessa clínica!

-Por favor, nos diga. O que pode ser feito para ser reparado? -O homem ao meu lado perguntou, aparentemente ele era o único calmo naquela sala.

-Eu sinto muito, mas não há nada a ser feito. O Sr. Fox está nas primeiras semanas de gestação, a opção que ele tem é interromper a gravidez com pílulas que fornecemos ou então ele pode ter o bebê e está sujeito judicialmente a dividir a guarda do filho com o outro progenitor.

-Não! Não é isso que eu quero! Eu escolhi esse caminho para ser pai solo! Eu não quero dividir a guarda com ninguém! Porra, por isso eu quis uma fertilização assistida! Eu não vou dividir meu filho com ninguém!

-Então podemos prosseguir com as pílulas, será um aborto seguro e acompanhado por nós.

-Acha que eu farei isso aqui?! Não confio em vocês! Eu quero processar todos! Todos os envolvidos!

-Espera... -a voz do homem saiu estranha e esganiçada -quer dizer... quer dizer que são as únicas opções que eu tenho? Nada?

-Senhor, infelizmente... o feto está dentro do corpo do Sr. Fox.

-Vocês... porra, vocês. Era a última amostra que sobrou... eu... eu confiei nesta instituição para isso e não me restou nada? Nenhuma escolha sobre o erro de vocês? Eu sou apenas um mero espectador?

-Eu sinto muito, senhor!

-Chega! Eu ligarei para minha advogada agora e vou fechar esse lugar agora mesmo! Quem sabe esse não foi o primeiro erro de vocês?

-Eu também ligarei para meu advogado. Céus, não ficarei aqui nem mais um segundo! -Eu segurei minha bolsa com força antes que lançasse determinação na cara da mulher, mas antes que eu saísse, um braço me segurou.

Zenith segurou meu braço.

-Preciso conversar mais com você. Em algum lugar reservado -ele não pediu, ele deu uma ordem.

-Me desculpe, mas ainda não sei seu nome.

-Cillian. Cillian Fox.

-Certo, Cillian, eu preciso te fazer um pedido.

-Por favor, nem venha. Essa é uma decisão unicamente minha se eu manterei esse bebê devido às circunstâncias, é muito mais complicado agora e eu não quero ter dor de cabeça com você no futuro querendo a guarda de uma criança que não deveria ter dois pais, somente um. Eu.

-Olha, eu sei que é uma situação complicada e que não deveria estar passando, nenhum de nós deveria, mas por favor, ouça meu lado. Aquela era minha última amostra, não me restou mais nada.

-Você pode fazer mais.

-Não é assim. Não posso mais ter filhos. Há alguns anos tive um câncer por quase todo meu corpo, inclusive na próstata, então antes que desse metástase nesse lugar eu me precavi e congelei meus espermatozóides para usá-los no futuro, as outras amostras não tiveram sucesso e acabou não dando certo então me restava apenas aquela.

-Eu sinto muito, mas isso não é minha culpa.

-Olha, me desculpe por estar tirando sua paz, Cillian, mas essa é minha última chance de realizar meu sonho. Eu sonho com isso desde que era apenas um garoto, o sonho de ter uma família, de ter filhos, mas isso foi arrancado de mim primeiro pelo câncer e depois pela irresponsabilidade de terceiros. Não posso obrigá-lo a gestar um bebê que não quer, mas então, te peço uma saída. Se não quiser ele, você poderia me dar quando o bebê nascesse, você não é uma vaca reprodutora para realizar minhas vontades, eu sinto muito, mas eu não posso ver minha última chance escorrendo das minhas mãos sem fazer nada.

-Não -falei segurando fortemente meu ventre -eu nunca iria ter meu bebê e depois daria a alguém. Nunca. Eu nunca faria isso.

-Então por favor, tenha o bebê. Me deixe estar presente em toda a gravidez, me deixe ser o pai que eu tanto sonhei em ser, sei que não quer isso, mas deixe que esse bebezinho tenha dois pais. Eu sinto muito que não seja isso que você quer, mas não era isso que eu queria também, mas é o que me restou.

-Eu preciso pensar.

-Muito obrigado. Muito obrigado mesmo.

-Isso não foi um sim.

-Eu sei, mas ao menos eu ainda posso ter esperanças -ele falou abrindo um sorriso.

Eu sabia que aquele era meu sonho. Eu tinha certeza disso, então por que eu hesitava em aceitar que um homem desconhecido participasse disso? Era o desconhecido que me pegava, não fazia ideia de quem aquele homem era, o que fazia ou se tinha uma boa índole. Era difícil pensar nisso também, desde o começo eu expulsei da minha mente a possibilidade de ter filho com um qualquer, por isso preferi fazer isso sozinho, mas era justo com o bebê dentro de mim ser descartado só por que as coisas não foram como eu quis?

A pílula estava em cima da mesa, bastava engolir e tudo estava acabado. Meu sonho e o sonho daquele homem desconhecido. Mas o meu poderia recomeçar, já o do outro não. Não era justo com ele, sem dúvidas, mas também não era justo eu estar passando por isso.

Droga, eu não queria aquela decisão sobre minhas mãos, mas era eu quem decidiria tudo ali.

Minha cabeça pegava fogo quando eu peguei meu celular e liguei para uma pessoa que não queria e podia me arrepender para o resto da vida.

-Alô? Zenith?