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Sabe quando você acha que vai morrer? Que falta ar nos seus pulmões? Que seus dias foram amaldiçoados? Eu não sabia, mas senti tudo aquilo quando eu entrei na sala e encontrei uma espécie de Mateo adulto olhando para mim.

Os mesmos cabelos loiros e ondulados, mesma pele clara como leite, mesmos olhos azuis intensos, a mesma pinta enorme na bochecha direita, o mesmo furinho no queixo, o mesmo... tudo. Eles eram idênticos.

Eu ia desmaiar, mas Mateo adulto me segurou. Então como se já não bastasse tantos sentimentos, lágrimas começaram a cair dos meus olhos.

-Você... -eu pus a mão na boca.

-Sente-se, por favor -Mateo adulto foi gentil assim como meu Mateo periquitinho -respire, está bem?

Eu assenti chorando.

-Você lembra o meu nome?

-Não! -Solucei -eu não lembro de nada.

-Tudo bem. Eu me chamo Harry Knight, sou o professor do Mateo e queria muito que você viesse à reunião da creche.

Continuei assentindo freneticamente.

-Tudo bem, eu lembro que seu nome é Cass. Quando nos conhecemos você se apresentou com esse nome. Cass.

-Cássio. Meu nome é Cássio.

Harry sorriu, sorriu assim como Mateo.

-Desculpa, eu estou muito surpreendido. Desde que o Mateo começou na creche eu queria te encontrar.

-Eu não lembro de nada do que aconteceu naquela noite, eu não lembro de você, nem de ter ouvido seu nome em algum momento.

-Nada?

Neguei com a cabeça tentando segurar as lágrimas.

-Eu acabei a reunião, por que não saímos e conversamos em um lugar mais privado?





Fomos a um bistrô com mesa redonda e de ferro do lado de fora, não estava tanto calor, estava fresco e eu pedi somente uma água antes que engasgasse e morresse. Harry pediu um suco e bolinhos para nós, ele parecia tranquilo quando se virou para mim e sorriu.

-Como eu falei. Não me lembro de nada do que aconteceu naquela noite, eu sei que eu transei com alguém e que eu engravidei, mas não lembro do nome, das feições e de como tudo aconteceu.

Harry suspirou levemente.

-Eu estava no cio. Fiquei fora de mim, não sei mais o que dizer, eu não fazia ideia de quem fosse.

-Eu transei com você, porque você consentiu -ele me lançou um olhar sério -eu juro pra você que nunca faria algo como transar com uma pessoa que não estivesse consciente, mesmo que pouco, nós conversamos, você me falou seu nome e eu perguntei se podia te ajudar, daí fomos para um motel.

Eu não me lembrava de ter conversado nem me apresentado. Na época eu não lembrava e agora eram só borrões.

-Não estou dizendo que não acredito em você.

-Bem, como eu falei, fomos pro motel, mas antes passamos em uma farmácia, sua febre estava muito forte e além disso compramos alguns supressores e preservativos...

-O quê?! -Eu o interrompi -... você... você se cuidou naquele dia?

Ele assentiu.

-Eu te garanto que todas as vezes que transamos, eu estava com camisinha. Todas as vezes.

-E ainda assim... porra! -Bebi mais água.

-Cass... quer dizer, Cássio. Eu juro pra você, eu me cuidei e passamos um momento muito bom juntos, mas pela manhã eu precisei sair cedo, então deixei meu número na mesinha e saí, mas... bem, você nunca retornou.

Eu neguei com a cabeça.

-Olha... eu não sei o que dizer. Eu não lembro de nada. Eu usei uma pílula do dia seguinte e torci para que a pessoa tivesse usado camisinha, mas algumas semanas depois eu descobri a gravidez. Eu não tive ninguém, eu... porra, eu era muito jovem.

-Cássio, eu peço perdão por não ter estado perto, mas eu não fazia ideia e se soubesse correria para estar ao seu lado, eu sinto muito.

-Como você descobriu?

-Me tornei professor do Mateo há alguns meses, desculpe, mas é inegável, ele é idêntico a mim e tem a pinta no rosto.

Eu ri.

-A pinta.

-É de família, todos têm. Então eu tentei entrar em contato com você, mas era o Sr. Mitchell que vinha buscar o Mateo e você nunca vinha às reuniões.

-É por causa do trabalho. Trabalho em dois lugares, nem sempre eu tenho tempo.

-Eu imagino. Eu imagino que não seja nem um pouco fácil cuidar de uma criança sozinha, mas se possível, eu quero que seja possível, quero ajudá-los agora.

-Eu quero um exame de DNA.

-Claro! Claro! Eu providenciarei o que for preciso.

E então eu chorei de novo.

-Você não vai tirar meu bebê de mim.

-Ei -ele se levantou se aproximando de mim -eu jamais faria isso.

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