Pequenas Histórias de Amor

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O corpo de Isaac estava repousando sobre o peitoral de Piers que acariciava seus cabelos castanhos acobreados fazendo cachos com suas madeixas serenas. Seu sono, ao contrário do ômega, custava a chegar, então preferiu ficar acordado olhando o entardecer após dois dias transando.

Estava exausto, conseguia sentir em todos seus músculos, mas a insônia o segurava ali. Sempre foi assim, sempre teve um sono horrível e por mais que tivesse todo o tempo do mundo não se sentia descansado o suficiente.

O ômega se mexeu um pouco e ele parou com as carícias no cabelo, apenas o olhou, olhou seu corpo subir e descer em uma respiração calma e tranquila.

Ele havia feito sexo depois de quase onze anos. Seu corpo estava desesperado para isso, mas sua mente depois do ocorrido vinha se enchendo mais e mais de pensamentos pesados e conflituosos.

Piers traiu seu esposo.

Piers traiu a memória dele.

Traiu ao usar seu corpo em outra pessoa. A fazer intimidades que eram somente destinadas ao seu Lucius. Seu corpo traiu e sua mente o acusou de traição. O pensamento martelava sem parar, o fez sentir um peso forte no peito, uma culpa avassaladora.

Foi um erro. Um pecado mortal que ele havia cometido sobre aquela cama e o homem que repousava tão serenamente era seu cúmplice.

Esse sentimento estava adentrando ainda mais até seus ossos, ficando até difícil de respirar. Foi um erro. Foi um erro tão grande que ele fez e deveria pagar pelo resto da vida.

O homem se mexeu mais até que abriu os olhos lentamente e ao notar que Piers estava acordado, ele sorriu.

-Oi -ele levantou o corpo, se sentou e se espreguiçou -você está melhor? -Suas mãos foram até o rosto do alfa, mas ele se afastou.

-...

-Aconteceu algo?

-Isaac… precisamos conversar.

-O que foi? -Ele abriu um sorriso maroto -você quer mais?!

-Eu quero que você esqueça o que aconteceu aqui.

O ômega abriu mais os olhos.

-Do que você está falando?

-Eu cometi um erro. Cometi um erro quando dormi com você.

-Piers, você está brincando, não é?!

-Não, eu sinto muito. Sinto muito mesmo, mas eu fiz algo horrível, eu traí o meu esposo.

-Ele está morto! Ele está morto, Piers!

-Você não entende. Isso não importa, eu me casei com ele e jurei que seria fiel até o fim dos meus dias.

-Eu não acredito nisso -lágrimas começaram a cair dos olhos de Isaac, lágrimas incessantes -Piers, você vive no passado! Você não consegue enxergar que o mundo continuou! Que não há nada de errado em seguir em frente! Você acha que o seu marido iria querer que você definhasse sozinho nessa casa pelo resto da sua vida?!

-Você não sabe o que ele preferiria. Ele era meu esposo, era eu que o conhecia, que o amava. Eu o amo e seguirei amando, você não sabe o que é isso.

Isaac riu amargamente enquanto mais lágrimas caíam dos seus olhos. 

-Tem razão, Piers. Eu não sei o que é ser amado a esse ponto. Talvez eu nunca saiba ou mesmo não queira! Porque eu não iria querer que a pessoa que eu tanto amo morresse depois que eu fosse embora, morresse lentamente porque se negava a viver!

-Você nunca entenderia.

-Eu não quero entender, caralho! Fique com sua casa, com seus livros, com suas obras de arte e com suas memórias! Fique sozinho pelo resto dos seus dias nesse lugar enquanto desperdiça o que seu marido não pôde ter! A vida!