"Chevrolet Opala Diplomata tenta ultrapassagem e acaba caindo em uma ribanceira com mais de dez metros em Albany, New Hampshire. A polícia foi acionada logo em seguida e foram encontrados entre os destroços do carro um homem e uma mulher. Legistas apontam que ambos sem identificação aparentavam ser um casal entre os vinte e cinco e trinta e dois anos, pelos ferimentos, o homem sofreu um traumatismo craniano enquanto a mulher, uma hemorragia generalizada junto com a ruptura de diversos órgãos. Não há qualquer identificação a respeito de quem sejam, o carro, um modelo novo, não ficou com nenhum pedaço da placa. Para piorar essa notícia ainda mais triste, no veículo foi encontrado também uma criança de aparentemente três anos ainda com vida, seu estado de saúde é grave. Não sabemos seu nome nem quem ele pode ser." -Jornal Regional de Albany, seis de maio de mil novecentos e noventa e...
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Para Noah Moyes, pertencer nunca foi algo que ele soubesse fazer. Pertencer queria dizer que você sabia o que era e porque estava ali, mas ele não sabia. Não sabia quem era e nem porquê estava ali. Seu nome não era Noah, tampouco sabia qual era, tampouco saberia depois de quase trinta anos que algo aconteceu com ele o fazendo parar em um orfanato em Bath, uma pequena cidade em New Hampshire. Noah era uma criança quando saiu de um mês de coma, saiu também sem memórias, mas sempre achou que mesmo que tivesse ficado com elas, não teria lembrado de algo, ele era muito novo, mas pelo menos queria um nome. Seu nome. Seu nome verdadeiro.
Para ele não teria qualquer problema se seu nome fosse na verdade Dick ou Hermenegildes, que seu sobrenome fizesse alusão a algum órgão sexual ou fosse muito escroto, seria apenas engraçado e ele imaginaria o porquê de seus pais terem escolhido aquele nome.
Pensar em seus pais também causava uma sensação amarga no peito. Noah teria sido amado? Verdadeiramente amado? Seus pais liam para ele antes de dormir? Assavam biscoitos? Beijavam seus machucados? O pegavam no colo, beijavam suas bochechas e o ninavam até que se sentisse seguro e protegido? Também nunca saberia isso.
Noah Moyes foi um nome dado por uma das enfermeiras que cuidaram dele enquanto se recuperava no orfanato. Para ela, era estranho chamar um garoto apenas de "garotinho", todos tinham nome e ele pelo menos devia ter um. Ela era religiosa e daí veio o Noah, mas não religiosa o suficiente já o Moyes veio de Jacob Moyes que nos anos noventa foi um famoso ator envolvido com diversas amantes e que posou completamente nu para uma revista. Noah Moyes nasceu aos quatro anos junto com seu registro que contava com a data que ele tinha ido para o hospital.
Noah Moyes também nunca foi adotado, até que no seu aniversário de dezoito quando seria expulso do orfanato, ele pegou suas coisas e partiu para Augusta, capital de Maine, lugar onde tinha conseguido uma bolsa de estudos para ciências contábeis. Dar as costas para Bath nunca foi difícil já que criar laços para ele, um garoto que nunca pertencia, era mais complicado ainda.
E enquanto via as paisagens de Bath se alterando rumo a uma nova cidade e uma nova vida, Noah Moyes, que não era Noah Moyes, pensou.
-Bem, talvez agora eu consiga ser Noah Moyes.
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Pequenas Histórias de Amor
RomancePequenas Histórias de Amor e outros contos mpreg e omegaverse é um livro com diversos casais com diferentes histórias, repleto de muito beijos e amassos. Os contos desse livro são independentes entre si e em poucos capítulos que tem uma história com...