✴ 4 ✴

166 20 0
                                    

Era ridículo como Tom conseguia interagir com todos sem dificuldades. Daniel tinha uma leve raiva disso porque ele ainda não tinha conseguido conquistar nenhuma relação verdadeira ali dentro, isso demorava, sabia. Mas Tom estando de um lado, todos estariam do seu também e Daniel ficaria sozinho.

Eles teriam que começar a ideia do zero, de acordo com as demandas da empresa, do público, dos fornecedores, de tudo. Daniel precisava analisar tudo a sua volta para então criar um bom rascunho que todos aprovassem e que sua equipe cooperasse para dar certo.

Mas era a segunda semana que fazia hora extra até tarde para tentar extrair alguma coisa dos papéis que estavam dispostos sobre a mesa. Sua cabeça já doía, além dos olhos, ele sempre esquecia seus óculos de leitura no apartamento, o que sempre deixava seus olhos cansados, ou era apenas a exaustão mesmo.

Seus soldadinhos de chumbo obedeciam tudo o que ele mandava fazer, mas não era exatamente isso que ele queria, não eram zombies corporativos, ele queriam mentes pensantes para criar algo, era assim com todos... ou melhor, com quase todos porque Tom era uma pedra em seu caminho ou a força motriz que ia tirar a equipe daquela fase.

Para isso, Daniel precisava ter uma boa relação com ele e isso não era algo fácil de conseguir.

-Porra! Que porra! Caralho! Preciso de outro café!

Quem trabalha em certas áreas em algum momento se torna escravo da cafeína, a cafeína é a força que move o corpo mesmo que ele não queria, é a cafeína que entra nas veias e torna tudo mais tolerável.

Daniel seguiu para o coffee break e ligou a máquina de fazer café, enquanto aguardava, se sentou e puxou o celular, mas logo tomou um sobressalto ao ver mais uma figura além dele naquele andar vazio. Ele deu um gritinho.

-Não sabia que um alfa conseguia alcançar essas notas.

-Caralho, você me deu um susto. O que queria que eu fizesse?

-Não gritasse?

-O que você está fazendo aqui?

-Tinha alguns outros serviços além dos seus.

-Ah.

-E você?

-Meus serviços.

-Sabe, você podia olhar por um ângulo diferente. Nosso público alvo não são jovens para você querer passar essa imagem tão... tão jovial.

-Você consegue falar uma frase sem usar enxergar ou ver?

-E por que eu pararia? Não seja tão chato, Daniel. Eu sou cego, não coitado, além disso você sabe, meus dons estão na língua afiada.

Ele por fim dirigiu o olhar para a figura de Tom. O homem era alto e magro, feições belas e uma pele pálida.

-Por que um dos seus olhos estão fechados?

-Eu perdi minha lente.

-Lente?

-Sim, lentes. Meus olhos não são castanhos, eles são brancos, por isso prefiro usá-las.

-Claro. Entendo. Quer ajuda para procurá-las?

-Vai me custar caro?

-Não tanto.

-Certo, obrigado.

-Onde você acha que perdeu?

-Acho que na minha mesa a caminho daqui.

-Certo, vamos lá -Daniel falou se levantando e desligando a máquina. Ele poderia tomar o café quando voltasse.

Quando chegou à mesa de Tom, se agachou para tatear o chão à procura de uma lente minúscula que possivelmente não acharia, mas valeria a tentativa se isso aproximasse o homem de uma forma a conviver com ele pacificamente.

Tom também se abaixou e passou as mãos pelo chão, suas mãos eram delicadas de uma forma que Daniel não imaginaria que pudesse ser. Ele riu com o pensamento.

-O que foi? Achou?

-Não. É que você tem mãos de princesa.

-Quê?! Essas mãos aqui? -Tom levantou até acertar em cheio no ombro do alfa.

-Ai!

-Mãos de princesa.

-Você parece um limão azedo, sabia?

-Não, eu não sou um limão azedo. Você que é um limão azedo. Meus amigos odeiam trabalhar com você!

-Isso não é verdade!

-É sim! Eles se sentem amedrontados com sua presença que nem conseguem ser eles mesmos!

-Ah qual é! Nem tudo é minha culpa! Estou fazendo meu trabalho!

-Todos nós estamos. Estamos dando nosso melhor. Cara, sabemos que os superiores querem fechar essa filial, temos noção disso e por isso damos nosso melhor e você está aqui para nos ajudar, mas não está funcionando.

-Acredite. Eu estou tentando!

Tom e Daniel continuavam tateando o chão, mas eles só acharam clipes e papéis velhos.

-Droga! Gastei duzentos dólares nessa merda!

Daniel levantou a cabeça a tempo de olhar a cara enraivecida de Tom e seus olhos. Ele não imaginava que seria assim, parecia uma órbita leitosa que olhava sem foco para alguma direção, com aqueles olhos ele conseguiria perceber o olhar vago de Tom e também percebeu que talvez aquilo incomodasse o homem e por isso as lentes eram tão importantes para ele.

-Tom.

-Hum?

-Vai se sentar. Eu posso procurar sozinho.

-É você que está me ajudando, eu conseguido fazer isso.

-Sério, tudo bem, eu posso...

-Achei! -Tom falou levantando a lente na ponta do dedo ao mesmo tempo que Daniel fazia o mesmo e dava de cara com uma cabeçada.

-Ai! -exclamaram em uníssono.

Pequenas Histórias de Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora