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-Por favor, tio! Por favor!

-Eu não quero falar sobre minha vida com nenhum enxerido, sabe disso -Piers retrucou com seus nervos prestes a explodir.

Sua sobrinha insistia há semanas para que ele desse uma entrevista para uma revista prestigiada após dez anos longe dos holofotes. Piers tinha lançado um novo livro recentemente, mas ele não queria e nem imaginou que multidões voltariam a lê-lo em um instante. Era apenas um manuscrito, algo guardado na gaveta que foi escrito logo após uma perda para tentar lidar com seus sentimentos. Era um livro trágico, triste e nostálgico, trazendo consigo coisas que remetiam memórias dolorosas.

Ele ainda não sabia o porquê publicou mesmo assim, mas já estava feito. A editora imediatamente aprovou e em duas semanas seu livro estava nas maiores livrarias por todos Estados Unidos.

Então Piers teve que ver todos seus sentimentos tão dolorosos sendo vendidos de livro em livro enquanto uma legião de fãs aguardava mais coisas, mais notícias, mais de uma literatura profunda e complexa que somente artistas perturbados por seus demônios conseguiam fazer. E Piers era um desses.

-Astória, você sabe o porquê eu escrevi esse livro, você acha que eu quero que ele seja remexido? Que minha casa e minha mente sejam?

-Tio, eu sei tudo o que você tem passado, mas por que não vê essa oportunidade para se abrir um pouco? Para ver o tanto que o mundo mudou em dez anos?

-E por que eu iria querer isso?

-Por que o tio Lucius gostaria.

Seu ponto sensível. Seu único ponto que o deixava tão vulnerável, tão para baixo, tão fechado.

Piers se afastou de onde estava para próximo a uma janela, observou aquela grande residência que ele e seu marido tinham escolhido com tanto amor. Um lugar grande que já esteve cheio com tantos amigos, artistas, poetas, escritores e atores. Já houve tanta vida ali, tantas coisas boas, mas agora era uma casa grande com um enorme quintal repleto de folhagens velhas e pedaços se destruindo devido o salitre do mar a alguns metros de distância.

-Tio... eu não quis... não quis que você ficasse assim para baixo, me perdoe.

-Tudo bem.

-O que quer dizer isso?

-Eu aceito essa entrevista.

-O quê?! -Ela abriu um sorriso animado -está falando sério, tio?!

-Quero uma pessoa discreta. Não quero ninguém mexendo em muitas coisas na minha vida, apenas o que eu quiser falar.

-Claro! Claro! Tio, que coisa boa! Eu fico muito feliz! -Astória pulou em seus braços para abraçá-lo -você não vai se arrepender!

-Assim espero.

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