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E então a depressão pós-parto me pegou hahaha.

Não foi nada engraçado quando eu senti isso, nenhum pouco. Mateo chorava sem parar, dormia por uns trinta minutos e acordava para mamar. Ele fazia cocô e vomitava depois do leite, então seu estômago ficava vazio e ele precisava comer de novo.

Eu passava o dia inteiro sozinho com um bebê, eu conseguia chorar enquanto cuidava então não me atrapalhou cuidar dele. Eu precisava cuidar senão ninguém faria isso por mim.

Eu o amava tanto, o amava, o amava. Ele era perfeito, um pequeno ser humano perfeito que com toda a certeza se parecia com o cara desconhecido que eu transei, Mateo não tinha nada meu. Absolutamente nada. Eu tenho uma pele morena, olhos castanhos e cabelos cacheados quase pretos, Mateo tem uma pele branca como leite, cabelos loiros e olhos azuis.

Pelos Céus, quem com esse perfil iria querer transar comigo? Não me rebaixando, é claro, eu me considero uma pessoa bonita, mas Mateo parecia um bebê tirado de um comercial de shampoo de camomila para criancinhas.

Além dessas características, Mateo tem uma pintinha na bochecha, na verdade, uma pinta, porque é grande. Desde que ele foi colocado nos meus braços eu reparei, segundo a pediatra, é uma marca de nascença. "O pai dele deve ter" falou sorrindo. Pai. O pai dele. Eu ri. O pai dele sou somente eu.

Mas voltando para meu quadro deplorável, meses tinham se passado desde o nascimento do meu filho e tinham meses que minha situação estava piorando. Minha mãe trabalhava sem parar enquanto eu cuidava de uma responsabilidade minha como ela sempre repetia: "que você tinha feito". Claro, sem dúvidas, por isso tentava não mostrar o quão cansado de forma física e mental eu estava.

Eu não saía de casa, exceto para consultas médicas para o bebê ou para comprar mais fralda e lencinho, não tinha mais amigos ou pessoas para conversar, a televisão fazia o Mateo acordar e o bebê precisava de mim, precisava me sugar e precisava que eu cuidasse inteiramente dele.

Mas quando ele dormia, eu poderia contemplá-lo como um deus ou como meu filhotinho angelical, quando me sobrava tempo, eu chorava mais com um pouco mais de privacidade. Chorava em silêncio para ele não acordar ou então chorava enquanto lavava as roupas dele.

-Você não tomou banho de novo? -Minha mãe perguntou pondo as chaves sobre a mesa e tirando os sapatos brancos antes de entrar em casa.

O lugar estava escuro e silencioso, não me importava mais em não ligar a luz, ajudava o Mateo a dormir melhor. Guadalupe Flores então ligou as lâmpadas e abriu a geladeira em busca de água.

-Pelo bom Deus! Você está pior ainda do que quando eu o vi pela manhã.

-Eu... shiu shiu shiu -parei o que estava dizendo para acalentar Mateo preso a mim no canguru.

-Você está fedendo.

-A senhora já falou isso.

-Mas parece não adiantar. Vá tomar banho.

-O Mateo acabou de dormir, se eu for agora, ele vai acordar e não vai mais dormir de noite.

-Deixe de besteira. É claro que ele vai dormir, me passe ele e adiante. Também preciso descansar.

Minha mãe o pegou e assim que o fez, os grandes olhos azuis do meu filho se abriram junto com o choro estridente que fazia meus peitos explodirem como uma bomba de leite.

-Mãe... -eu funguei já para voltar a chorar.

-Vá logo tomar banho.

Eu subi para o banheiro enquanto o Mateo ficava no andar debaixo se acabando de chorar, fui rápido, não queria deixar meu filho sofrendo, ele precisava de mim apesar de tudo.

-Terminei. Pode me dar -falei enquanto cheirava a sabonete de jasmim e estendia os braços para meu bebê. Quando Mateo veio até mim, o segurei com delicadeza ninando-o para que o choro parasse.

-Você está mimando-o demais.

-Ele só tem quatro meses, mãe.

-Ele só tem quatro meses e já está assim, imagine depois?

-... -preferi me calar e ir até o sofá dar de mamar novamente.

-Você não lavou os pratos que eu pedi?

-Não tive tempo, o Mateo...

-O Mateo isso, o Mateo aquilo. Até quando botará a desculpa no bebê? Foi você que o fez, Cássio. Ele não tem culpa de nada.

-Eu sei, mas ele precisa de mim o dia todo. Não tem como eu dar conta das tarefas domésticas.

-Bem, cada um aqui tem que ajudar de alguma forma. Eu ponho o pão dentro de casa e você faz o quê? Traz mais uma despesa para cá.

-Não fale assim.

-Eu é que decido. Pelos Céus! Você não consegue dar conta de uma criança, imagine um emprego lá fora?

-Eu não estou me sentindo bem, por isso não estou dando conta como deveria dar, peço desculpas, mãe.

-Quando soube fazer não pensou nisso.

Por que ela sempre usava essa justificativa sempre que ia me reclamar ou punir?

-Pare de falar isso! Sempre a senhora joga na minha cara sobre o meu filho! Eu não pensei, mas estou aqui cuidando dele, não estou?

-Está? Está mesmo? Quem está custeando a fralda, os lenços, as roupinhas e as consultas médicas? Sou eu, então quando eu chegar em casa depois de um plantão horroroso, eu espero achar os pratos lavados!

-Eu vou subir, me perdoe.

-Não deixei que você fosse! Pelos Céus, Cássio! Você não consegue fazer nada sem se lamentar! Você está debaixo do meu teto, então enquanto estiver aqui, me escutará falando!

Bem, eu tinha um bebê, uma depressão pós-parto e vinte anos. Era tudo o que eu tinha, mas deveria ser só isso e não orgulho e dignidade, esses dois nunca me levaram a lugar nenhum, mas naquele momento, foram essas eles que me tiraram de casa.

Eu subi com meu filho no colo, entrei no meu quarto, tirei e guardei tudo o que pudesse dentro de uma mala grande. Não sei o que se passou na minha cabeça naquela época, eu só sei que naquela noite eu saí de casa.

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