Pequenas Histórias de Amor

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Daniel odiava ser mudado de filial todas as vezes que fazia um projeto bem sucedido. Ele odiava ter que mudar de cidade ou estado todas as vezes e ter que começar do zero.

Havia um tédio em criar laços com pessoas do trabalho, nos relacionamentos, com a vizinhança. Com tudo. Ele odiava. Mas ao menos dessa vez ele tinha conseguido se mudar com uma promoção para chefia do setor, teria que lidar com pessoas que nunca trabalhou na vida, mas seria melhor do que ser mandado por elas.

Ele saiu de uma fila enorme e estressante para comprar um café. Era simples, um café amargo sem nada, apenas café. Mas ainda assim o fez perder quase meia hora para depois seguir pela avenida e entrar no prédio do novo trabalho.

Porém quando ia atravessar a faixa de pedestre um carro descontrolado foi em sua direção, por pouco ele desviou, mesmo caindo e ralando a palma da mão. As pessoas próximas correram para ajudá-lo, mas era o que precisava para seu humor ser destruído por completo.

Ele os empurrou para trás e saiu trotando para a empresa, não queria ver ninguém naquele momento, queria apenas voltar para sua antiga cidade, seu antigo apartamento e fuder com seu antigo parceiro casual. Daniel queria sua vida de volta, pelo menos a mais recente.

Ele subiu pelo elevador com uma cara péssima e feromônios raivosos para afastar quem quer que estivesse por perto, quando a porta abriu ele saiu, andou para o lugar determinado, mas antes disso alguém esbarrou nele... esbarrou derramando seu café em seu terno caro e claro.

-Céus! Sinto muito! -Falou um rapaz tateando o corpo do homem alto -sinto muito mesmo!

-Porra! Não está vendo que eu estou aqui, caralho?! Olha para onde anda! Para! Para de passar a merda da mão em mim!

O homem recuou sem jeito, suas feições estavam caídas e sem graça.

-Eu... ah, me desculpe.

Mas o circo estava armado. As pessoas viam a cena horrorizadas de camarote, Daniel percebeu e sua raiva aumentou mais ainda.

-O que vocês estão olhando?! Voltem para o trabalho de vocês!

Então ele deu as costas e saiu para o destino final. O chefe estava à sua espera, talvez impaciente pela demora, Daniel entrou com o terno sujo mesmo e se apresentou.

-Bom dia, Sr. Constance, prazer em encontrá-lo.

-Bom dia. Pode me chamar apenas de Nino -ele estendeu a mão para cumprimentá-lo.

-Bem, me mandaram para a filial na Virgínia, também me disseram que temos um longo caminho a percorrer.

-Sim, sim. Eles têm toda razão, mas não está tão ruim quanto imaginava, só não somos tão influentes como os superiores gostariam.

-Faremos um bom projeto que dará toda a visibilidade que vocês precisam.

-Prevejo que teremos uma boa relação.

-E é isso que eu quero.

-É... Daniel, sei que acabou de chegar para nossa empresa e quero que tudo funcione perfeitamente -seu olhar veio em direção ao terno sujo.

-Ah! Sinto muito por isso, não foi minha culpa. Um funcionário desatento esbarrou em mim a caminho, preferi vim assim mesmo a me atrasar para vê-lo.

-Eu vi com meus próprios olhos. O funcionário se chama Tom Medley, ele é um dos nossos melhores funcionários, Daniel. E acho que você deve desculpas a ele.

-Por que seria eu a pedir desculpas se foi ele que derramou o café em mim?

-Reconheço que foi ele e foi um acidente sem dúvidas, mas foi a sua reação a errada na situação.

Daniel esboçou uma cara convencida e levantou uma das sobrancelhas.

-É mesmo? Nino, eu não gosto de pessoas incompetentes e sensíveis. Acha mesmo que em outras empresas, as pessoas se importam com esses pormenores? Ele que errou, eu não fiz nada de errado.

-Daniel, o Tom é cego.

-... -Daniel abriu os olhos sem reação -o quê?

-Eu sei que não parece, mas o Tom é cego e reconhece toda a área da empresa e as pessoas que trabalham aqui, ele sabe perceber o ambiente que está devido os feromônios ou a falta deles e você é uma pessoa nova, seu cheiro é algo novo e por favor, se ponha no lugar ele.

Daniel percebeu que apesar da raiva que tinha desde que o dia começou que ele tinha cometido um erro... um dos grandes.