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A campainha tocou pela terceira vez, mas Isaac nem mesmo se importou em levantar para saber quem era. Continuou sentado de frente à televisão com as pernas estiradas sobre o puff e uma grande vasilha de pipoca sobre o corpo.

-Não vai ver quem é? -Donna perguntou mexendo no celular tediosamente.

-Não vê como eu estou? Vai lá vê.

-Caramba, né? Um bicho preguiça se apoderou de você, cruzes!

Assim, a mulher se levantou e foi até a porta, nesse mesmo instante Isaac teve vontade de urinar, era todo momento isso, uma coisa que ele detestava. Levantou com cuidado e levando a grande vasilha de pipoca até a cozinha, não podia correr o risco de Donna se apoderar dela, era seu desejo que ele estava realizando e então foi até o banheiro.

Ele voltou e pegou sua pipoca animadamente pronto para se jogar sobre as almofadas e continuar maratonando filmes de natal.

-Isaac, visita pra você.

-Ah, diga que eu estou ocupa... -assim que os olhos do ômega viram quem era, a vasilha de sua mão se espatifou no chão e ele arregalou ainda mais os olhos.

-Isaac.

-O que você está fazendo aqui?! Porra, como você soube meu endereço?!

Isaac se sentiu nu diante de Piers. Havia passado tantos meses e sua barriga estava tão grande que não tinha como não notar o contorno avantajado em seu corpo, mas ele não fraquejou e se manteve firme.

-Podemos conversar?

-Donna, caralho! Por que deixou esse homem entrar?!

-Isaac, dê uma chance a ele.

Ele revirou os olhos.

-Chance! Que palavra engraçada!

-Qual é! Olha, vou sair por um tempo, botem o papo em dia e depois eu volto. Trarei aquela bebida quente com banana da Starbucks que você tanto gosta, está bem? -A mulher falou enquanto puxava um cachecol do gancho e saía dando tchau para o amigo.

Isaac se jogou no sofá totalmente descontente.

-Diga o que tem a dizer.

-Precisava vir aqui em busca do seu perdão.

-Se é por isso, pode ir embora. Não há nada a ser perdoado.

-Por favor, Isaac. Eu vim aqui para isso, para olhar nos seus olhos, para implorar pelo seu perdão e pedir uma chance... ao menos alguma migalha de sua atenção.

-Piers, eu não sou o Lucius para você está fazendo isso, sabe não é? Não tenho tempo de ficar me frustrando com coisas banais agora.

-Quantos meses? -Piers perguntou olhando para o ventre que balançava pelos chutinhos.

-Seis -a alfa tinha encontrado o calcanhar de Aquiles do ômega -... eu tomei todas as providências possíveis. Eu tomei duas pílulas do dia seguinte, tomei três litros de chá de canela, mas ainda assim, ainda assim o bebê dentro de mim vingou e quando eu fiz o teste e deu positivo, eu não poderia tirá-lo de mim, é meu bebê.

-... -Piers continuou olhando sem nem piscar para aquele contorno.

-Mas... mas não precisa se incomodar com isso. Eu falei que lidaria com isso e é o que estou fazendo, assumo totalmente as responsabilidades por aquela noite. Esse bebê é meu, Piers, meu e unicamente meu. Não quero que faça nada, não precisa fazer nada, imagino que não o queria ainda mais porque você já teve um bebê com seu falecido esposo. Meu bebê não está tirando o lugar de ninguém.

-A sua barriga é muito linda.

Isaac não soube como reagir aquelas palavras, apenas franziu o cenho.

-Está me ouvindo, Piers?

-Isaac, eu quero seu perdão. Quero a chance de um recomeço, a tentativa se você tiver paciência, vim aqui para isso, para confessar meus erros a você e pedir que os perdoe, mas não esperava encontrar esse milagre diante dos meus olhos.

Uma lágrima escapou dos olhos do ômega.

-Eu te odeio.

-Por favor, Isaac. Eu sou um pecador, um ser errante que te magoou muito. Uma besta solitária que definha a cada dia, mas você foi uma coisa boa na minha vida, só que minha cegueira não me deixou enxergar.

-E do nada você vem até aqui?!

-Qual outra maneira eu tinha? Fiz algo de muito errado com você naquela tarde. Você foi a única coisa boa que me aconteceu em tantos anos e eu como um estúpido arruinei isso, joguei momentos lindos de intimidade no lixo quando disse aquelas coisas.

-E por que eu acreditaria depois de tantos meses? Você poderia ter vindo antes!

-Eu não consegui. Eu fiquei em transe ao longo desses meses, morto no meu refúgio que na verdade é apenas uma gaiola bonita e grande, mas ainda é uma gaiola.

-Eu me senti tão... tão usado, tão magoado, Piers.

-Me perdoe, Isaac. Me perdoe por tudo o que eu te fiz, pelo que eu falei, eu só precisava entender que ainda estou vivo e que apesar do luto fazer parte de mim, eu posso recomeçar.

Isaac assentiu enxugando as lágrimas com as palmas da mão.

-Você me perdoa?

Sua cabeça subia e descia em meio ao catarro que ele tentava limpar e as lágrimas que não paravam.

Piers sorriu sinceramente e se aproximou para abraçá-lo fortemente. Sentindo o ventre roçar seu corpo e uma explosão de sentimentos acontecer em seu âmago.

-Farei de tudo para mudar por vocês, por você, Isaac, e por esse bebezinho -ele disse sorrindo com os olhos também molhados.



Os dois estavam deitados na cama de Isaac, Piers passava sua mão com carinho pelo contorno do ventre e sentia a respiração calma do ômega em seu corpo. Ele já havia beijado aqueles cabelos centenas de vezes desde que tinha chegado e não pararia mais daquele momento em diante, nunca mais.

-Como foram os meses que eu não estive com você?

-Difíceis... muito difíceis. Era como se eu navegasse sem saber para onde iria e saber se eu queria ir. Mas também não deve ter sido fácil para você.

-Não. Não foi nenhum pouco. Não imaginei que uma gravidez solo pudesse ser tão difícil -ele estendeu um dos braços totalmente furado -semanalmente preciso tomar um soro para ajudar no desenvolvimento do bebê, mas ela é bem forte.

-Ela?! -Piers levantou a cabeça sorridente -uma menina?!

Mas Isaac não pareceu feliz pela sua reação.

-Igual a filha que você perdeu.

-Ei, não. Não é. Elas são diferentes, são muito amadas, mas são diferentes e essa aqui está conosco agora. Minha outra filha está em outro lugar nos olhando com amor, está bem?

Isaac assentiu abrindo um sorriso.

-Está bem.

Piers se aproximou dos seus lábios e o beijou com carinho e amor.

-Qual o nome você quer dar para nossa filha?

-Petra.

-É um nome perfeito.

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