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Era estranho eu me arrumar para sair em um encontro. Tomar banho, tentar raspar minhas pernas com o barbeador mais barato do mercado, lavar o cabelo com o shampoo que eu me dei o luxo de comprar, sair com a única toalha limpa, escolher alguma coisa roupa e definitivamente me arrumar tentando ficar bonito e me sentir bem comigo mesmo.

Gabe, a Delaine e o Mateo passariam a noite em uma pracinha com brinquedos para crianças e depois iriam para uma pizzaria, eu teria várias horas para conversar, beijar e transar com Harry. Poderia sorrir para suas feições bonitas e admirar silenciosamente como meu eu no cio escolheu a pessoa mais linda possível para ter um bebê tão perfeito quando meu filho.

Jeans, jaqueta, camiseta listrada e tênis quase novos, cheiroso e feliz, feliz de um jeito diferente, novo e surpreendente. Eu estava feliz!

Feliz até cambalear em busca de uma garrafa com água e ser atingido por um calor que me deixou enjoado. Quente. Suado. Mole. Cansado.

-Merda, merda, merda!

Tirei a jaqueta que já estava suada naquele ponto. Por que essas coisas sempre acontecem comigo? Nunca nada pode estar totalmente certo?

Desde que o Mateo nasceu e eu voltei a ter ciclos de calor, eu uso supressores, mesmo não sendo todos os meses consigo evitar não ter a quantidade de cios que teria em um ano, faz mal, mas não ao ponto de me matar. Três meses usando, dois meses sem usar, um mês com cio e volta o ciclo. No momento eu estava no mês que não uso os remédios com um corpo que ainda ia se adaptar para passar outro cio, mas PAH! Cássio Flores estava no cio.

Lágrimas de frustração caíram dos meus olhos. Eu odiava aquele calor infernal queimando minhas entranhas, fazendo meu corpo se tornar uma máquina estranhamente reprodutiva, eu odiava e tinha um pavor em pensar nisso. Calor. Calor e mais calor.

E então alguém bateu na porta.

-Cass?

Ah não! Ah não!

-Cass? Você tá aí? -A voz do Harry surgiu atrás da porta. A voz grave e aveludada.
Eu cambaleei rumo à porta para me encostar e trancá-la.

-Harry… eu… me desculpa, mas você pode ir embora?

-Ei, sua voz. Cass, você está bem? Me fala algo! -Insistiu quando fiquei em silêncio por alguns instantes.

-Eu… sim, eu tô bem. Mas meu cio chegou e eu quero que você vá embora… por favor.

-Você precisa de algum remédio?

Cólicas. As cólicas me atingiram fazendo eu me dobrar para o chão e gemer de dor, eram elas que me faziam lembrar levemente da dor que foi parir o Mateo, elas me lembravam bem.

-Ei! O que você está sentindo?! Conversa comigo! -Ele se desesperou.

-Harry, eu vou ficar bem. Eu vou ficar bem, posso passar por isso sozinho, então vai pra casa, ok? Vai pra casa.

-Como eu posso ir pra casa sabendo que você está passando mal e sozinho? Cadê o Gabe?

-Pelos Céus! O Gabe é beta, ele nem sente meus feromônios!

-Eu ia falar pra ele te dar um remédio, eu sei que ele é beta.

-Pensei que era só seu ciúme.

Ele riu baixinho, mas ainda assim consegui escutar por trás da porta.

-Eu posso comprar algum remédio pra você, está bem? Está com febre?

-Eu estou com muito calor.

-Cássio…

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