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Mesmo não conhecendo a cidade Isaac estava passos à frente de Piers que parecia deslocado e sem jeito por estar saindo.

-Onde estamos?

-Não faço ideia.

-Como assim? -Isaac perguntou -é você que vive aqui.

-Faz muitos anos que eu não saio de casa. Tudo mudou em dez anos.

-Céus! Então vamos apenas passear e encontrar coisas que nos chame atenção. Venha!

Piers seguiu os passos acelerados de Isaac pelas ruazinhas coloridas de Newport e onde quer que se olhasse haviam casas antigas de madeira pintada e um porto com diversos barcos atracados.

-A cidade é muito bonita.

-Sim, ainda mais o entardecer e amanhecer.

-Ainda verei apropriadamente um entardecer dela então. Quer sorvete?

Piers assentiu e Isaac se separou para encontrar um carrinho de sorvete. Demorou vários minutos e então ele voltou ajeitando duas casquinhas com sorvete de creme coberto de calda nas mãos.

-Como você consegue comer algo tão doce assim?

-Com a boca, Piers. Você também consegue, abre a boca e sinta o açúcar em seu sangue para te deixar feliz!

-Faz tempo que... -ele foi interrompido.

-Imagino que faz muito tempo que tenha feito essas coisas, mas apenas reexperimente, ok?

Piers assentiu e abocanhou o sorvete dando um leve sorriso.

-É doce.

-Sim. Estupidamente doce, por isso é tão bom.

-Tem razão.

Eles continuaram a vagar até que o sol começou a se pôr, escondendo seus raios e deixando o céu alaranjado com rajadas de um azul escuro, a noite queria vir, mas a luta entre o tempo de luz e escuridão causava um espetáculo belo que deixou Isaac paralisado pela imensidão tão bela da vista.

-Tem razão -falou, parecia um bordão dizer aquelas duas palavras -tem razão, isso é muito lindo.

Piers sorriu.

-Sim, muito.

-É melhor voltarmos, está ficando frio.

-Como seu braço está?

-Não está ruim. Vai melhorar.

-Peço desculpas por isso.

-Tudo bem, Sr. Nowak.

Piers fez uma cara estranha.

-Você sabe que eu não gosto de ser chamado de... -mas antes que pudesse terminar de falar, uma multidão o cercou.

-Piers Nowak?!

-É mesmo você?!

-Pode me dar um autógrafo?!

Todos o cercavam o impedindo até mesmo de ver o homem com quem tinha saído. Isaac estava sorrindo a alguns metros de distância acenando.

-Vejo você mais tarde então!



Quando Isaac voltou, Piers já estava inquieto à sua espera batendo os dedos sobre a mesa, desta vez as luzes da casa estavam acesas iluminando desde a frente da casa até os mínimos cômodos.

O ômega voltou sorridente segurando algo contra um dos braços.

-E então, como foi a sessão de autógrafos? Com certeza você fez muitos fãs felizes hoje.

Piers soltou ar das narinas.

-Totalmente estressante. Nunca dei autógrafos.

Isaac sorriu mais.

-Então definitivamente deixou muitos fãs felizes por terem uma raridade.

-Onde esteve?

-Conheci um pouco melhor a cidade -ele falou se aproximando de modo vacilante até um sofá. Piers levantou e segurou seu corpo para não cair.

-E bebeu.

-Bebi! Bebi muito! -Isaac começou a rir -faz tempo que não me embebedo, esqueci qual a sensação e me lembrei que eu gosto. É como se estivesse apaixonado, porque tudo fica confuso e misturado, é engraçado!

-Faz tempo que se apaixonou também?

Isaac estreitou os olhos tentando arrancar da mente essa memória.

-Sim! Muitos anos, inclusive quase me casei, enfim! -Ele se levantou e pareceu que iria cair, então Piers voltou a segurá-lo.

-Deveria ficar sentado, pelo menos por enquanto.

-Vou subir e tomar um banho, devo estar fedendo.

-Posso ajudá-lo a subir.

-Por que não?

-Venha, se apoie em mim.

-Sabe, vou ficar até o final da semana. Depois voltarei e terminarei de passar a limpo sua entrevista, mas acho que ela ficou sem graça, porque você é sem graça.

-Não acho que você falaria isso se estivesse sóbrio.

-Óbvio que eu falaria! Já falei coisas piores!

-... obrigado por ficar aqui mais uns dias.

-Eu já estaria louco se ficasse tanto tempo sozinho neste lugar... mas você é quem sabe!

-Chegamos.

-Comprei algo para você. Não deve significar nada, me desculpe, mas ainda assim quis me redimir. Como você mesmo falou, nem que eu juntasse todo meu salário conseguiria pagar o valor sentimental aquela caixinha de música, mas eu vi essa e lembrei de você. Se não gostar pode jogar no lixo, não me importo.

Isaac estendeu a caixa embrulhada em direção às mãos do homem.

-Boa noite, Sr. Nowak.

-É Piers.

-Eu sei -Isaac riu -por isso mesmo eu o chamo assim.

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