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Isaac não sabia o porquê tinha sido escolhido para essa entrevista com um escritor tão famoso quanto Piers Nowak, ele entendia seu sucesso e sua fama, apesar de nunca ter lido um livro sequer, então foi chamado às pressas e só podia ser ele. Como recusaria uma oportunidade única como essa? Muitos dos seus colegas de trabalho queriam fazer o que ele faria, todos o olhavam com feições de inveja ou desejo para que pudesse estar em seu lugar e entrevistar um homem tão famoso que tinha ficado tantos anos longe dos holofotes.

-Você será bem pago? -Donna perguntou.

-Claro que sim, não é esse o problema. Só precisava de um pouco mais de tempo, passarei alguns dias fora.

-Isaac, pelos deuses! Isso é o de menos nesse momento, todos querem ser você! Esse escritor nunca mais apareceu em um evento público ou saiu da casa dele nessa última década e é você o cara que vai entrar naquela mansão e entrevistá-lo!

-Eu sei, eu sei! Tenha calma, ok?

-Eu cuido do seu apartamento.

-Donna, não é isso que me preocupa! Eu sei que esse homem é famoso e mundialmente conhecido, mas eu não sei nada sobre ele, nem mesmo li algo que ele escreveu e então justamente eu, a única pessoa que não entende todo seu sucesso, sou chamado para fazer algo tão grande quanto isso, está entendendo minha preocupação?

-Vá ver algumas reportagens antigas, algum site com sua biografia e leia seu último livro. É sobre isso que todos querem saber! Querem entender porque ele voltou depois de tanto tempo, qual sua motivação, o que ele quer fazer para o futuro! Qual é? Vai dar tudo certo.



Viajar de Boston até Newport não demorou mais de uma hora e quarenta minutos. O refúgio do escritor era uma bela e calma cidade coberta por um espetacular litoral em Rhode Island, banhada por águas límpidas e belas, a cidade tinha cores calmas e uma vida sem tanta pressa, algo que surpreendeu Isaac por não estar habituado.

Havia tanta água cobrindo toda à sua volta que o deixou imensamente feliz ao ponto de se dar o luxo de esquecer o porquê de estar indo para lá, mas ao ver a beleza do lugar o fez querer rapidamente férias para descansar em alguma pousada de frente para o mar. Enquanto pensava nisso, ele prosseguiu para o endereço escrito. Para a quase secreta casa do Sr. Nowak.

Havia um grandioso portão de ferro que o separava da entrada da casa, mas bastou se aproximar dele com o carro azul fúcsia alugado para se abrir e ele entrar. Quando estacionou quase em frente à casa, uma mulher negra com cabelos longos, usando óculos redondos e um vestido lilás saiu para recebê-lo.

-Olá! Prazer em conhecê-lo Sr. Sanders, estou muito feliz que esteja aqui, teve uma boa viagem?

-Prazer em conhecê-la também. Você deve ser a Sra. Barfuss.

-Por favor, me chame apenas de Astória.

-Pode deixar, Astória.

-Venha, entre. Quero explicar algumas coisas antes de começarmos. Começando pelo fato que o senhor é a primeira pessoa a entrar nessa casa depois de tantos anos que não seja eu ou alguns empregados. Meu tio vive uma vida reclusa desde a morte do meu tio biológico há dez anos, você deve saber disso, então é difícil para todos nós e por isso quisemos uma pessoa discreta e que respeite a privacidade, assim me enviaram você.

-Fico agradecido por falar isso.

-Sim, sim. Agora uma coisa importante. Você vai ficar aqui durante alguns dias, tenha compreensão e paciência e sem perguntas ou questionamentos muito evasivos.

-Obviamente.

-Hum, muito obrigada. Então agora só nos resta um encontro entre vocês.

Isaac então seguiu Astória para dentro da casa, era uma grande construção, repleta de janelas com cortinas que escureciam o lugar, haviam quadros e mais quadros e uma mobília suave e harmoniosa para as vistas.

-É uma linda casa -ele disse sem conseguir se conter.

-Sim, ela é um diamante aos olhos de qualquer um. Tio Piers que escolheu e tio Lucius que decorou, ele era artista plástico então acredito que tenha sido moleza para ele. A praia é do outro lado, a casa fica em uma encosta e para chegar lá embaixo há uma escada de pedras, se quiser olhar, fique à vontade.

-Obrigado.

Ela subiu uma escada e dobrou para o lado entrando em uma sala grande, parecia uma espécie de biblioteca junto com escritório, a janela estava aberta e uma luz natural iluminava o ambiente, no centro havia um homem sentado. Ele era alto, cabelos compridos loiros claro escorrendo pelos ombros mesmo que tentasse ser contido, sua pele era branca levemente bronzeada, um corpo magro mas largo, estava de lado usando um par de óculos e segurando um livro lendo avidamente alheio à entrada repentina daquelas duas pessoas.

-Tio, o jornalista chegou.

-Hum -o homem grunhiu levantando o olhar até onde ambos estavam. Seus olhos eram roxos e chamativos de um modo que Isaac nunca tinha visto.

-É uma honra conhecê-lo, Sr. Nowak -Isaac se aproximou e estendeu a mão.

-Ele não sabe que não gosto de ser chamado de senhor? -Ele dirigiu a fala até a Astória.

Isaac retraiu a mão envergonhado.

-Me desculpe. Não sabia.

-Todos sempre sabem dessas coisas sobre mim.

-Tio, por favor. Você prometeu que iria cooperar com isso, dê uma folga para ele. Sr. Sanders... Isaac pode ser? Bem, perdoe esse ranzinza por ser assim.

O homem bufou se debruçando novamente no livro.

-Claro, não há o que desculpar. Vamos conversar, criar uma conexão e ter uma excelente reportagem -ele sorriu sem jeito.

-Ele nem mesmo faz ideia do que está fazendo aqui -Piers disse acidamente sem tirar os olhos da página do livro.

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