Passou algumas semanas depois daquele ocorrido, tentei não transparecer o quanto me abalou, mas tentei esquecer e sorrir enquanto voltava às aulas da universidade. Eu gostava da universidade, amava e realizava um sonho naquele instante, fazia o que queria e tinha conseguido entrar com muito esforço e bolsas de estudo.
Meus amigos estavam agitados do mesmo jeito, Andreas estava diferente depois daquele dia mesmo eu tentando justificar que tinha passado mal e precisei ir para casa, mas continuamos conversando e eu continuei naquele mesmo grupo de amizade.
Transar com um desconhecido? Eu ri, todo mundo já fez isso, coisa mais normal do mundo! Mas por que ainda havia uma pulga atrás da orelha? Por que eu me sentia tão ansioso e estava constantemente enjoado?
-Meu cio tá atrasado -confessei durante o horário de almoço para Meyre. Ela era a mais experiente do grupo, tinha tido uma vida sexual desde nova e sabia como lidar com coisas como aquela, além disso, ela era linda e popular e todos queriam estar ao seu lado, eu queria estar ao seu lado.
Meyre estalou a língua antes de dizer algo.
-Você se cuidou?
-... eu usei pílula.
Ela riu e uma parte de mim morreu.
-Boa sorte então.
Parte de mim realmente morreu ali. Que parte? Meus amigos. Meus amigos naquele momento não falaram mais comigo.
Foram tantas coisas que se seguiram depois daquilo, foi uma tempestade forte enquanto eu estava em um pequeno barco de papel, eu fiz o teste, escondi e minha mãe achou e então contra minha vontade tive que ter um filho que eu não queria.
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-Vamos, converse com ele, Cássio -minha mãe falou para mim enquanto a barriga estava saltada para cima. O bebê estava chutando alegremente.
-Ele nem entende o que eu estou dizendo.
-Claro que entende, ele é muito inteligente.
Relutante eu pus a mão sobre o ventre, não gostava, era estranho ter um ser vivo dentro de mim. Sentia que era um parasita indesejado em meu corpo que crescia roubando meus nutrientes.
-... olá. Como vai?
-Não converse como se ele fosse um estranho, ele é seu filho!
-Calma, está bem?
Minha mãe bufou em insatisfação.
-Olá -voltei a acariciar o meu ventre -olá, aqui é seu pai.
O bebê como se me ouvisse deu um pulo, eu prendi o ar surpreendido e fiz de novo e o bebê respondeu. E de novo e de novo e de novo.
-Está vendo? -Sra. Guadalupe Flores falou -ele te conhece, meu bem.
E então eu chorei.
Não sei o porquê, foi um misto de sentimentos que passou por mim naquele momento e foi naquele dia que eu consegui começar a me conectar com meu filho.
Para o bem ou para o mal, minha mãe me proibiu de trancar a universidade durante minha gravidez e mesmo com olhares estranhos dos estudantes, eu continuei a estudar com uma barriga que crescia a cada dia. Com um bebê que chutava e se esticava em mim diante de todos.
Nos dias em que eu não me sentia bem ou que eu precisava tomar minhas medicações, minha mãe vinha me buscar com seu carro velho e caindo aos pedaços, mas eu me sentia bem em vê-la, era a única pessoa que eu tinha naquele momento. Apesar dos seus momentos enraivecidos e sem noção, ela era a única que eu tinha.
Éramos Cássio e Guadalupe Flores desde meus oito anos quando meu pai nos abandonou em busca dos sonhos hollywoodianos de ser ator, ele e minha mãe tinham vindo do México como imigrantes e anos mais tarde conseguido os vistos, enquanto meu pai alimentava seus sonhos mais inalcançáveis, minha mãe segurava as pontas com as despesas da casa com seu trabalho de enfermeira em hospitais da região, mas então Erasmo Flores foi embora e nos deixou para trás.
Sem dúvidas muito antes disso, minha mãe já era uma rocha um pouco amargurada e rígida, só que piorou com os anos. Felizmente depois do susto inicial de eu estar grávido com apenas dezenove anos, no primeiro ano da faculdade de economia e sem saber quem era o pai do meu filho, Guadalupe foi bem compreensiva comigo.
Ela me obrigava a levantar da cama e me alimentar, levava as vitaminas que a médica passou e que eu recusava a tomar, ela se empolgava com o enxoval e as consultas quinzenais que eu precisava comparecer. “Seu bebê não tem um pai para lhe dar feromônios, então levante a bunda imediatamente, vamos para o hospital”. Era só um soro com uma cor bizarra que eu tomava para que meu filho crescesse bem.
Agora pensando, eu passei o primeiro trimestre da minha gravidez completamente depressivo e culpava meu filho por isso, perdão, mas eu só tinha dezenove anos e estava desesperado, sem amigos e sem vida social.
Mas o bebê estava ganhando meu coração. Os soluços que ele dava durante a madrugada me faziam ficar acordado com a mão em cima para senti-lo, para sentir mudando completamente de posição na minha barriga ou dando cambalhotas.
Meu corpo estava destruído, foi pavoroso o quanto ele mudou depois de eu ter engravidado, odiei por completo. Eu tinha estrias por tudo o que era canto, tripliquei de peso e ganhei um par de peitos estranhos e grandes que doíam.
Guadalupe fazia questão que eu agradecesse a Deus por aquele par de peitos estranhos, ela vivia dizendo isso enquanto entrava no meu quarto sem bater para colocar novas roupinhas do bebê na cômoda que eu e ele iríamos dividir. Já havia um pequeno berço de madeira ao lado na minha cama e algumas coisas que ele precisaria.
-Quando você vai tomar vergonha na cara e perguntar o sexo do bebê?
-Isso não é importante.
-Você está com oito meses! Quer que a menina use coisas todas azuis ou o menino use coisas todas rosas?
-Mãe, eu não ligo pra isso, fique calma.
Ainda assim eu perguntei durante uma de minhas últimas consultas de pré-natal, eu estava redondo e largo e cansado demais. Minha mãe me ajudou a deitar na cama e pôs a mão sobre o ventre agitado enquanto a médica sorridente e de origem indiana preparava o aparelho.
-Como você está se sentindo, querido?
-Enorme. Pesado. Cansado. São muitas coisas.
Ela riu.
-É normal, falta pouco para esse bebê chegar -então a médica passou o gel sobre minha pele e depois o aparelho.
O bebê está bem e saudável, respirei de alívio quando ela falou e virou a tela. Era um bebê grande e muito bem desenvolvido, seu coração era forte e estava quase pronto para nascer.
-É um menino ou uma menina? -Perguntei quando ela estava prestes a terminar.
Ela sorriu.
-Um menino, querido.
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Pequenas Histórias de Amor
RomantikPequenas Histórias de Amor e outros contos mpreg e omegaverse é um livro com diversos casais com diferentes histórias, repleto de muito beijos e amassos. Os contos desse livro são independentes entre si e em poucos capítulos que tem uma história com...