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-Sr. Ramos, essa é sua sala. Você pode escolher quem vai participar da sua equipe multidisciplinar da forma que bem entender -um homem de altura média e com bigode disse.

-Certo, hum, obrigado.

-Se precisar de ajuda pode ir até minha mesa ou me chamar, posso ajudá-lo em tudo que tiver ao meu alcance.

-Todos estão disponíveis para fazer parte da equipe?

O homem assentiu.

-Na verdade, estávamos somente esperando você chegar. Vamos bem, mas sem rumo então não começamos nenhum projeto.

-Entendo.

-Se me der licença.

-Ei! Qual seu nome?

-Garth.

-Certo, Garth. Preciso de ajuda em uma coisa... em que setor Tom Medley trabalha?

-Propaganda e publicidade -ele falou coçando o bigode -desculpe perguntar, mas por que quer saber? Sei que não é da minha conta, mas todos estão falando sobre o que aconteceu mais cedo.

-É... bem, é que eu gostaria que ele viesse para minha equipe, mas não sei como as coisas funcionam. Como ele trabalha mesmo não...

-Enxergando? -Daniel assentiu -é normal. Não precisa ficar pensando nisso, ele é um dos nossos melhores funcionários e não precisa ver para fazer seu trabalho.

Garth saiu imediatamente da sala como se tivesse sido ofendido. Daniel bufou sem graça se sentando na cadeira e abaixando a cabeça sobre a mesa, já tinha percebido que todos ali gostavam do Tom e ele o tinha humilhado na frente de todos.

Mas como imaginaria que ele fosse cego? O homem estava olhando nos seus olhos, seus olhos eram castanhos... talvez estivesse de fato falando merda e o melhor seria se calar.


-Licença -falou após uma tosse proposital para chamar atenção do grupo que se formava em volta de uma mesa em específico. O pessoal estava conversando e rindo de algo quando Daniel chegou e acabou com tudo isso. Ele ficou sem jeito, mas tinha ido até ali com um propósito.

-Licença... posso falar com Tom Medley?

-Desculpe, nunca o vi -alguém falou fazendo todos gargalharem. Quem tinha dito não era ninguém além do próprio Tom que era o dono da mesa.

-Podemos conversar? -Como o homem conseguia olhar nos seus olhos? Pensou.

-Claro.

Em poucos segundos Tom se levantou e o seguiu. Por alguns momentos, Daniel teve medo que o homem que estava atrás dele esbarrasse nas mesas pontudas, mas ele lidou muito bem indo para a sala reservada para sua equipe.

-Sim?

-Eu preciso me desculpar por mais cedo.

-O que aconteceu? Eu não lembro muito bem.

-Não comece, você sabe o que eu estou falando. Do café. De manhã. Você ter esbarrando em mim.

-Ah! Claro. Claro. E você gritando comigo... não precisa me pedir desculpas se é esse o caso.

-Não quero que o clima na empresa fique ruim por minha causa, eu acabei de chegar aqui.

-E já gritou com um funcionário.

-E por isso eu vim pedir desculpas. Eu não sabia que você era... sabe... cego.

O homem riu por alguns segundos.

-Qual a graça?

-Você não consegue ver? Bem, até eu sendo cego percebo isso.

-Se falar de uma forma não tão vaga talvez ajude.

-Você veio até mim para pedir desculpas só porque eu sou cego e não porque você gritou comigo. Se eu não tivesse nenhuma deficiência você ligaria em estragar meu dia me xingando na frente de todos em uma empresa que mal conhece as pessoas?

-Se você não fosse cego, não teria esbarrado em mim. Seria apenas sua falta de atenção a causadora do transtorno.

-Ah claro. Sim, porque as pessoas não podem cometer acidentes.

-Olha, nem te conheço e mesmo assim estou aqui me desculpando. Será que dá pra deixar o que aconteceu de lado? Podemos começar do zero.

-Qual é mesmo seu nome?

-Daniel.

-Ah, Daniel. Eu acho que não. Sabe, eu não gosto de ser humilhado na frente das pessoas.

-Ah é? -Daniel fez uma cara de deboche. Droga, ele nem mesmo sabe a expressão que estou fazendo, pensou -mas teoricamente eu sou seu superior e tenho a liberdade de colocar quem eu quiser na minha equipe.

-E daí?

-E daí? E daí que você agora faz parte da minha equipe e eu sou seu líder agora você querendo ou não.

-Você acha que é quem aqui dentro, ein?

-Eu me considero o salvador dessa filial decadente!

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