CAP 29 | O Tiro

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ᴀʟɪᴄᴇ's ᴘᴏɪɴᴛ ᴏғ ᴠɪᴇᴡ 🏁

O paddock vibrava de forma intensa e desordenada, e movida a raiva e decepção, meus passos eram pesados e batiam no ritmo do meu coração circulando mais sangue que o normal. Quando abri a porta do escritório da emissora com força, os olhares assustados e nada confusos me fuzilaram.

Enquanto eu caçava Rafael em meio à equipe, e o fuzilara com os olhos quando o achei. Ele me encarou, encurralado.

— Você! — Gritei na sala, indo em sua direção em passos largos. — Como você pôde?

Empurrei seu corpo com tanta força que ele cambaleou um pouco para trás. Dievo ao seu lado parecia assustado, mas não me importei nem um pouco.

— Alice...

— Você tirou a porra daquela foto!

— Eu não quis...

Não deixei que ele terminasse, o tapa que dei em seu rosto foi tão forte que senti minha palma arder, mas a dor era gratificante naquela hora. Tão gratificante que fiquei tentada a dar outro, mas o barulho da porta se batendo contra a parede, como eu fiz a segundos atrás, tirou minha atenção.

Charles vinha até nós como um caçador preparado para abater sua presa. Ele estava sendo seguido por muitas pessoas de vermelho.

Ninguém teve tempo de falar nada, nem uma palavra, mas quando a mão fechada de Charles acertou o rosto de Rafael em cheio, todos se assustaram e as pessoas da sua equipe, que até então estavam só seguindo, começaram a tentar segurar-lo.

Enquanto Charles parecia disposto a acabar com Rafael, deitado no chão com Charles ainda distribuindo socos, com sua equipe fazendo a maior força para tirá-lo dali, eu estava sendo puxada para fora da situação pela minha própria equipe. Dievo veio para o meu lado segurando meus ombros, totalmente em choque.

— Charles, para! — Foi tudo que consegui dizer enquanto ele tentava se desvencilhar de sua equipe.

Eu estava aérea a tudo que estava acontecendo em uma fração de segundos. A dor no meu peito aumentou. Charles havia comprometido ainda mais sua imagem.

Olhei ao redor, os celulares apontados para a situação. Corri para aquelas pessoas e tentei derrubar os celulares de suas mãos.

— O que porra vocês tem de errado? — Eu estava chorando e gritando ao mesmo tempo.

— Você está acabado, cara, eu vou acabar com você! — Charles mantia agora a uma distância segura do loiro que ainda estava jogado no chão, tentando se levantar. Seu rosto estava começando a mostrar sinais de inchaço, seu nariz sangrava.

— Eu não tenho tanta certeza que só eu estou acabado agora. — A frase que saiu da boca de Rafael, mais irônica do que nunca, parecia divertida. Ele limpava o nariz com as costas das mãos.

— Rafael... Porquê?

Ele me olhou, sua expressão passando a ser vergonha. Ele mal me encarou nos olhos.

— Eu não consigo entender...

— Você sabe que era errado. — Sua voz saiu firme. — Alice, você tinha que ficar longe dele.

— Você nunca teve chances! — Charles ainda gritava enquanto era arrastado para o lado de fora da sala. — Seu egoísta de merda!

Coloquei as mãos na cabeça, tentando abafar toda aquela confusão que desenrolava diantes dos meus olhos.

— Eu quero você fora dessa sala, agora! — Agora eu percebia que Ângelo se dirigia a mim. Ele estava me olhando com fúria enquanto apontava o dedo bem rente ao meu rosto.

Cambaleei para trás, tentando achar algum ponto de equilíbrio em meus calcanhares. A equipe de Leclerc já estava lá fora com ele. Olhei para a porta e, mais uma vez, para a equipe.

Se aquilo fosse um pesadelo, os olhares de julgamento, meus colegas de trabalho, o amigo que eu achei que podia confiar, recebendo ajuda dos mesmos como se fosse uma vítima, enquanto o mesmo evitava o meu olhar, se tudo fosse um sonho, era agora que eu deveria acordar. Mas eu não acordei. Era real, mais real do que nunca.

Senti meu corpo ser espremido, eu precisava mesmo sair dali agora.

Peguei minha bolsa jogada no meu espaço na sala e segui para a porta. Quando apontei o rosto para o lado de fora, um círculo de pessoas havia se formado. Jornalistas, pessoas das equipes, todos encarando a cena do lado de fora da sala. Charles repreendia seus auxiliares para que o soltassem.

Ninguém ficou no meu caminho quando comecei a caminhar entre elas, todas abriram espaço para que eu fugisse o mais rápido possível.

— Alice! — Escutei Charles me gritando um pouco atrás de mim. Mas não parei para ele.

Enquanto passávamos por um lugar mais vazio, parecia que ninguém aqui tinha noção do que havia acabado de acontecer, mas logo saberiam. E eu precisava estar longe disso o quanto antes.

— Alice, vamos conversar. — Charles segurou minha mão, tentando me parar.

Puxei com força, cortando todo o contato com ele. Charles me olhou chateado. Estava ofegando, suado, e muito vermelho. Seu macacão de corrida parecia estar mais apertado que o normal, já que ele aparentava estar com sérias dificuldades para respirar.

— Você não tem ideia... Do quanto piorou a situação.

— Vamos conversar... — Ele tentou se aproximar de novo.

— Eu disse que iria acontecer, não disse? Eu disse que iriam nos expor.

Seus olhos em súplica estavam tristes, o azul de suas íris estava mais brilhante.

— Acabou, Charles.

— Você não pode fazer isso, não agora! — Ele tentava a todo custo se controlar.

— Sim, eu posso, e estou fazendo isso agora. Fica longe de mim, Charles, eu não quero mais ver você.

Estávamos na frente das catracas, as poucas pessoas que estavam passando por ali não se atentaram muito ao nosso falatório. Quando dei as costas para ele de novo, ele segurou minha mão com força, me fazendo parar.

— Alice, eu te amo, podemos passar por isso juntos...

Eu não tive coragem de encará-lo. Eu estava decepcionada comigo mesma, pois estava prestes a abandonar ele no barco sozinho. Um casal de verdade suportaria qualquer coisa juntos.

Mas eu era covarde. E eu abandonava as pessoas, como meu pai.

— É cada um por si agora.

Ele soltou minha mão, e não disse mais nada. Juntei meus braços ao meu corpo e atravessei as catracas. Não olhei para trás, mas eu sabia que ele ainda estava parado na catraca.

Dei graças a Deus quando o táxi livre parou na minha frente quando dei sinal. Ele não demorou muito para sair, vi a estrada se abrir para nós, me afastando do paddock, e principalmente, me afastando de Charles.

Beyond The Finish Line | Charles LeclercOnde histórias criam vida. Descubra agora