Cap 35 | Reecontro

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Primeiramente, me desculpem!

Fiquei por muito tempo sem postar esta história, nunca foi minha intenção desistir dela, mas quase aconteceu. Acabei ficando desanimada, mas agora que voltei, pretendo terminar.


...

Pânico. Era isso que eu sentia. 

Poucas vezes saí do hospital, eu queria estar lá quando Charles acordasse. No primeiro dia, mantive minha positividade mesmo depois de todas as notícias que tive, no segundo dia, Charles estava respondendo bem ao tratamento e a medicação, mas em nenhum momento deu um sinal de que iria acordar, no terceiro eu já estava perdendo as esperanças, sentada na mesma poltrona, revezando com Pascale, tentando não chorar enquanto observava seu rosto machucado e seu corpo enfaixado, e para piorar, eu só conseguia pensar naquela palavra. 

Grávida. 

É claro que, nesta altura do campeonato eu questionava minha própria índole, grávida de um piloto de fórmula 1 que eu amava e mesmo assim, abandonei. Pensei diversas vezes em como contaria a ele quando acordasse, mas e se... 

Ele não acordasse?

Não, não. Isso não vai acontecer, Charles é forte, ele vai acordar e tudo vai ficar bem. 

— Alice? — Escutei a voz serena me chamar do outro lado da sala, a figura amável de Pascale na porta, chamando minha atenção. — Um oficial quer ver você. 

— Tudo bem, eu já estou indo — Sequei a ponta do nariz com o casaco enquanto tirava meus pés da poltrona, calçando meu sapato. 

Quando cheguei na porta vi meu reflexo fraco no vidro, eu estava acabada. Com os olhos vermelhos de tanto chorar, o rosto um pouco inchado, olheiras fundas e a pele um tanto sem vida. Mas tudo vai ficar bem. Tudo vai ficar bem.

Respirei fundo e saí da sala, Pascale estava conversando com o tal policial e quando me viu se aproximar, sorriu para mim. Era a vez dela de ficar com Charles agora. Esperei que ela se afastasse para dar atenção ao policial. 

— Alice, sou o responsável pelo seu caso, me chamo Enrico — O homem de cabelos loiros se apresentou, ele tinha um distintivo em cordão no peito e aparentemente, estava armado.

— Meu caso? Estou sendo investigada? 

— Colhendo alguns depoimentos em relação ao acidente da corrida, muitos presentes na hora alegaram que você invadiu o paddock, passou por cima de oficiais para chegar até ele — Ele olhou através do vidro, instintivamente olhei também, Pascale segurava a mão do filho com um sorriso no rosto, o mesmo sorriso de positividade que eu tentava manter. Ela conversava com ele e aquilo me doeu o coração — Como se soubesse exatamente o que iria acontecer. 

— Eu não entendo, já não receberam as denúncias? 

Kvyat algumas horas depois do acidente se certificou de entregar as denúncias sobre a corrupção e vazaram arquivos no paddock, Horner e quase toda equipe estava sendo investigada, até mesmo Max, e por este mesmo motivo não podia ir e vir no hospital sempre, estávamos cercados de repórteres. 

— Não se preocupe, só queremos saber aonde você se encaixa na história, hoje vou só pegar seu depoimento, se possível com todos os detalhes. 

É claro que eu contaria toda a verdade, dificultar para a polícia não iria ser nada bom, então eu dei tudo o que tinha, e fiquei de dar uma cópia dos documentos e da carta que eu tinha nos ameaçando. Quando Enrico foi embora, Gasly chegou logo depois. Como eu, não queria deixar o hospital, mas precisava resolver algumas coisas antes da próxima corrida e sempre voltava o mais rápido possível. Estava preocupado com o amigo e eu conseguia entender totalmente sua frustração. 

— Ele acordou? — Foi a primeira coisa que ele perguntou quando chegou perto de mim. Balancei a cabeça, negando. Gasly abaixou os olhos, mas logo tornou a falar — Tenho certeza que ele vai acordar logo, está tudo bem. 

Sorri para ele, tentando mostrar um pouco de fé. Eu não podia parecer fraca e medrosa, eu não podia transparecer, não aqui na frente deles, que eu estava despedaçada.

Ficamos na sala de espera, vendo a hora passar e as pessoas andarem de um lado para o outro. Cada suspiro parecia longo demais, eu olhava para as minhas palmas, pensando se tudo aquilo era real, porque olhando por esta perspectiva, parece que todo o mundo havia parado e estávamos esperando apenas um momento, e depois acordaríamos e agiríamos. 

Arthur se sentou ao meu lado, me oferecendo um copo de café. 

— Você deveria descansar um pouco, tomar um banho e tirar um cochilo. 

— Obrigada Arthur, mas eu acho que vou ficar — Lhe ofereci um sorriso de canto, Gasly do meu outro lado ergueu o olhar para nós. 

— Ele tem razão, Alice, vai te fazer bem descansar um pouco. Eu te levo até o hotel — Gasly ofereceu. Olhei para Arthur de novo. 

— Pode ficar tranquila, eu aviso se qualquer coisa surgir. 

Pensei mais um pouco e concluí que algumas horas de um bom sono me cairia bem. Me despedi dele e fui até o quarto de Charles apenas para me despedir de Pascale pelo vidro mesmo. Assim que chegamos no hotel me despedi de Gasly, ele voltaria para o hospital. Subi e tomei um banho gelado, porque a água quente me deixaria mole demais e eu precisava estar no mínimo atenta caso me ligassem. 

Assim que deitei relaxei um pouco, mas logo a ansiedade caiu nos meus ombros. Eu estava definitivamente desempregada, era questão de tempo até enviarem minha demissão e ser mandada de volta para o Brasil, e eu não me importava  em nada sobre isso, a última coisa que quero é pisar em um paddock tão cedo, mas meu medo era de isso acontecer antes que Charles acordasse, e ainda tinha... 

Acariciei minha barriga inconscientemente.

— Você está mesmo aí? — Falei sozinha, mas eu tinha certeza que aquele serzinho na minha barriga estava escutando. 

O silêncio, e de repente eu parecia maluca, com zero barriga de grávida mas com toda a certeza de que sim, ele ou ela, estava ali. 

— E... Se ele não acreditar? Vamos ficar sozinhos? 

Porque eu estava sinceramente esperando uma resposta? Um sinal divino, qualquer coisa que pudesse aliviar a tormenta que eu suportava dentro do peito.

Sem perceber caí no sono, a cama quentinha envolveu meu corpo por completo, e de repente me senti em paz, em um sono vazio, calmo, sem turbulências ou incertezas.

Até que aquele sinal que eu esperei, mesmo que tardio, chegou. Eram quase quatro da manhã quando meu celular começou a tocar feito louco, cerrei os olhos para o brilho forte da tela, conseguindo apenas enxergar a hora e o nome de Gasly apitando na tela.

— Gasly, está tudo bem? — Disse ainda um pouco sonolenta, mas tentando ficar alerta.

— Alice, é o Charles, ele acordou!


Beyond The Finish Line | Charles LeclercOnde histórias criam vida. Descubra agora