CAP 28 | Falso Amigo

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ᴀʟɪᴄᴇ's ᴘᴏɪɴᴛ ᴏғ ᴠɪᴇᴡ 🏁

Sabe aqueles momentos que você pensa que vai morrer? Tudo pode acontecer agora, mas a melhor alternativa seria se você desaparecesse, pois nada ia te salvar do desastre iminente, como um caminhão sem freio direto na sua direção. Era como eu me sentia agora.

O tablet na minha mãe parecia mais pesado, minha visão ficou turva, eu não conseguia acreditar naquela foto, nos nossos rostos, estampados com aquela luz queimando meu olho, eu não estava sequer piscando.

Eu só deixei que Lando me guiasse para o sofá, tudo que eu fazia era automático. As pessoas correndo do lado de fora, todo o barulho, simplesmente parou.

— Alice, por favor fala comigo. — A voz de Lando, mesmo ao meu lado, soou como se estivesse muito longe.

— Acho que vou desmaiar.

— Não, não, não desmaie agora. Charles está lá fora tentando descobrir quem vazou a foto.

A essa altura eu já não conseguia ouvir mais nada que ele estava dizendo. Meus dedos ficaram dormentes, meus pés, pareciam frios demais. Eu estava na beirada de um abismo.

Fomos descuidados, eu fui descuidada, e agora todos desse paddock sabiam. Eu não sei como encararia minha equipe, ou como eu vou sair dessa droga de motor home agora com todos os olhares em mim. Já estava ficando sem ar quando ouvi outras pessoas ao meu redor, só via vultos coloridos, todos agachados segurando meus joelhos, que eu tampouco sentia.

Quando meu corpo despencou para o lado, a mão que segurou minha cabeça evitou que eu batesse com tudo, e foi a última coisa que eu tive noção.

...

— O que aconteceu? Aonde eu estou?

Minha visão estava voltando lentamente. Coloquei os cotovelos no couro gelado do sofá para me apoiar.

A silhueta sentada ao meu lado parou de mexer no aparelho em sua mão, seus cabelos longos e alinhados não me deixavam ver seu rosto, mas percebi que era Charlotte quando a mesma virou para mim, com um pequeno sorriso no rosto.

— Ainda está no motorhome da McLaren. Os meninos tiveram que sair para o treino livre. — Ela era doce e condescendente.

Tentei me levantar, Charlotte me prestou apoio e manteve uma distância depois que me sentei. Ela pegou um copo de água e me deu, só depois me dei conta de como estávamos.

— O que você está fazendo aqui?

— Alguém precisava ficar de olho em você, quando acordasse.

O silêncio se manteve, me recusei a olhar demais para ela, colocando os cabelos atrás da orelha.

— Você sabe? — Minha voz vacilou.

— A essa altura, todo mundo sabe. — Ela se limitou a uma risada envergonhada.

Coloquei as mãos no rosto ainda tentando assimilar tudo. Lá fora deveria estar uma loucura. Olhei no relógio e estava no meio do treino livre.

Tentei levantar, mas minhas pernas ainda estavam fracas. Charlotte segurou minha mão em um gesto amigável, me ajudando a me equilibrar.

— Não precisa se esforçar tanto. Vai com calma.

Assenti enquanto deixava que ela me ajudasse. Em nenhum dos cenários que imaginei, era Charlotte me ajudando.

— Porque está me ajudando?

— Como assim?

— Você sabe... — Fiz uma careta quando ela me soltou, eu já estava bem. — Você... Eu... — Como eu falo isso?

— Sobre você ser a atual, e eu ser a ex? — Ela apontou para nós duas consecutivamente. — Charles e eu acabamos bem. E você não parece ser uma pessoa ruim. O que te aconteceu, não deveria ter acontecido com ninguém. Eu sei o quanto isso significa.

Ela parecia estar sendo sincera, sempre tentando dar um sorriso mínimo de conforto. Sorri para ela, porque afinal de contas Charlotte estava certa.

— Eu preciso descobrir quem tirou essa foto. — Eu disse depois de pegar meu celular e olhar aquela mesma matéria.

Em poucas horas aquilo se escalou de forma absurda, estava em todos os jornais, sites de fofoca e blogs de fãs. Eu precisava contornar isso rápido.

— Tenho alguns contatos desse jornal, estou tentando achar quem vendeu a foto. A Ferrari também está agindo.

— Isso seria de grande ajuda, Charlotte, obrigada. — Voltei a olhar para a tela do celular. Mas minha concentração se quebrou quase que na mesma hora que assimilei toda sua frase. — Espera, essa foto foi comprada? Não foi o jornal quem tirou?

— É a única coisa que descobri até agora.

Se a foto foi comprada, era pior porque podia ser de qualquer um. Um fã passando na hora, algum jornalista de outro jornal que não queria se comprometer, ou até pior, alguém de outra equipe. Aquilo reduzia minhas chances de achar o culpado.

Olhei bem para a foto, não tinha muita informação. Eu e Charles de fundo, e pela qualidade da imagem posso dizer que o zoom estava no máximo, o que reduzia um pouco a qualidade da imagem mas era nítido que éramos nós dois. Procurei por algo, um reflexo, nos veículos próximos. A pessoa que tirou essa foto poderia estar longe, mas estava se escondendo.

Bem no canto esquerdo, consegui identificar algo. Forcei minha vista para enxergar melhor, mas a tela do meu celular não ajudava de ser tão pequena.

Varri meus olhos procurando o tablet e o localizei em cima da bancada. O peguei e abri a mesma foto. Aproximei a imagem e salvei, usando um site para melhorar a qualidade. Não foi difícil ver que no reflexo da lataria do carro azul que a pessoa se escorava, uma visão de uma câmera profissional. Eu conhecia aquele modelo, e me fazia acreditar que era de algum jornalista.

A pessoa que publicou essa matéria não teve nenhum cuidado para não expor o fotógrafo, já que queria postar esse furo o quanto antes.

Meus olhos poderiam estar me enganando, mas quando reconheci com dificuldade os cachos escondidos, mas ainda assim aparentes, loiros e mais claros com a luz, eu não tive dúvidas.

O sangue do meu corpo se concentrar na minha cabeça, e esquentando. Senti o gosto amargo da traição. Nem sempre as traições vêm de estranhos, mas, às vezes, dos mais próximos.

— Eu não acredito nessa merda. — Minha voz saiu tão afiada que Charlotte arregalou os olhos ao meu lado.

— O que você achou?

— Merda!

Levantei pisando forte para a saída, Charlotte veio me seguindo atrás, um pouco receosa.

— Alice, não saia daqui agora, os meninos já saíram do treino, Lando acabou de me mandar mensagem, Charles já sabe quem foi, não faça nada que vai se arrepender depois!

— Eu não vou me arrepender.

Foi a única coisa que disse antes de bater a porta do motor home com força e pular os pequenos degraus para o espaço aberto da área de passeio. As pessoas ainda me olhavam e cochichavam, pior do que quando eu cheguei, mas eu não me importava agora. Eu só queria a cabeça dele.

Beyond The Finish Line | Charles LeclercOnde histórias criam vida. Descubra agora